Por dentro da URSS: direitos autorais

Konstantin Simonov durante conferência com escritores realizada em Berlim Orientam em 1967.
Konstantin Simonov durante conferência com escritores realizada em Berlim Oriental em 1967.

Por mais contraditório que pareça, o regime comunista mantinha uma política de direitos autorais:

Os escritores – os de sucesso – ganham enormes somas de dinheiro na União Soviética – mas o fato é que nem todos alcançam o sucesso. O sistema autoral é complexo. Os direitos autorais de um romance calculam-se pela extensão da obra ou mesmo pelo número de personagens que apresenta. Os direitos se reduzem à medida que as vendas crescem, em contraste com nosso sistema. O direito autoral padrão do dramaturgo corresponde a 1,5% das entradas (depois de certas deduções) por ato. O autor de uma peça em quatro atos percebe duas vezes mais do que aquele que escreve uma peça em dois atos. Talvez isso explique porque a maioria das peças soviéticas são tão desmedidamente longas. O pagamento para a tradução de uma peça estrangeira é uma soma fixa – 16 mil rublos. Os poetas que escrevem nas revistas recebem uma taxa uniforme por linha – 14 rublos. Talvez seja por isso que a maior parte dos versos soviéticos contemporâneos são escritos em linhas extremamente curtas. — GUNTHER, John. A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959. p. 314.

Se a remuneração dada aos autores não parece muita, Gunther cita o caso do escritor e jornalista Konstantin Simonov [1915-1979], considerado um dos homens mais ricos e influentes da Rússia naquela época. Autor de Dias e Noites, um romance ambientado no cerco de Stalingrado que se tornou best-seller, Simonov tinha um Cadillac e morava numa casa grande, porém simples na Vila dos Escritores — espécie de condomínio fechado mantido nos arredores de Moscou pela União dos Escritores da URSS, o sindicato do ramo — onde costumava servir vodca com pimenta às visitas.

Correspondente de guerra e mais tarde embaixador da literatura soviética, Simonov foi secretário da União dos Escritores duas vezes e teve várias obras adaptadas para o cinema. Como outros autores, Simonov também foi importunado pela censura oficial, chegando ao cúmulo de ter que recolher e reescrever um livro que já tinha vendido 1 milhão de exemplares!

Por outro lado, o reconhecimento oficial era frequente e o recebimento de prêmios dava status (e talvez alguma remuneração extra): dos cerca de 8000 Prêmios Stalin distribuídos entre 1939 e 1952, 2340 foram para escritores, dramaturgos e compositores e ainda havia condecorações menores ainda mais comuns, como o Emblema Vermelho do Trabalho e o Honrado Trabalhador das Artes.

 

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