Por dentro da URSS: uma pilha atômica

Pavilhão n. 71 da Exposição Permanente de Moscou, dedicado à energia nuclear e sua indústria.
Pavilhão n. 71 da Exposição de Resultados da Economia Nacional, em Moscou, dedicado à energia nuclear e sua indústria.

Não longe do centro de Moscou, num extenso trato de terra (200 hectares), encontra-se a Exposição Agrícola, que se parece com uma feira mundial. Quarenta e seis pavilhões exibem produtos agrícolas e uns vinte, da indústria. Conforme sucede com a maioria das pessoas que a visitam pela primeira vez, dirigimo-nos ao edifício dedicado à energia atômica. Como é de praxe nos museus soviéticos, é predominante a preocupação de educar: painéis bem elaborados e quadros explicam engenhosamente o mecanismo e a função de cada objeto. O visitante eventual pode aprender ali uma porção de coisas sobre a energia atômica. E, de repente, vê! Vê, realmente, uma pilha atômica de verdade em funcionamento, gerando energia através de uma reação em cadeia. É uma pilha tipo “piscina”, de pequeníssima capacidade (150 kW): um reservatório de sete metros e meio de largura por três a três e meio de profundidade, cheio de água destilada, consome o calor produzido no fundo pela fissão do urânio, que fulgura uma luz azulada e está lá, à vista de todos.

A pilha não tem uso prático; constitui, apenas, um recurso de publicidade e se parece com uma que as autoridades americanas três anos atrás expuseram em Gênova, durante a conferência Átomos para a Paz. Mas os russos têm sua pilha de brinquedo em permanente exposição e a cada ano milhões de adultos e crianças se embasbacam diante dela. Inclinam-se sobre a grade, no alto do tanque de aspecto sinistro, fazem perguntas e se vão embora comovidos e impressionados. A pilha pode ser um instrumento de propaganda mas esta é eficaz, e parece popularizar e tornar tangíveis as novas e desafiadoras fôrças científicas desencadeadas agora no universo. Ao que se saiba, não existe nenhuma pilha atômica similar em exposição nos Estados Unidos ou no mundo ocidental. Seria bastante fácil montar uma em Nova York ou em outro lugar, e talvez fosse uma boa idéia. — GUNTHER, John. A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959. pp. 288-89.

Conhecida como Exposição Agrícola de Toda a União (ou VSKhV, na sigla em russo), o evento citado é uma exposição permanente, que ainda existe e continua atraindo turistas russos e estrangeiros. Com o fim da URSS, passou a ser chamada Exposição de Resultados da Economia Nacional (VDNKh) e organizada pela prefeitura de Moscou. Hoje ocupa uma área tão grande quanto o principado de Mônaco e tem cerca de 400 edifícios. Um deles é o Pavilhão da Energia Atômica, aberto em 1954 e que atualmente funciona como museu do setor. No entanto, não sabemos se ele ainda abriga a pilha atômica montada e exposta ao público nos anos 1950.

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