Filipe III estava sentado com ar grave ao pé da fogueira. O fogueireiro da corte havia acendido tanta lenha que o monarca quase estava sufocando com o calor mas sua grandeza não lhe permitia se levantar da cadeira. Os empregados domésticos não poderiam adentrar seu cômodo, por ser contra a etiqueta. Por fim, apareceu o Marquês de Potat e o rei lhe ordenou que ele abafasse as chamas. Mas o marquês se desculpou, alegando que a etiqueta lhe impedia de realizar essa tarefa, que deveria ser cumprida pelo Duque de Usseda, que precisava ser chamado. O duque, entretanto, não estava na corte e as chamas se intensificavam. Em vez de macular sua dignidade, o rei as suportou como pôde. Mas seu sangue esquentou a ponto de lhe aparecerem erisipelas na cabeça no dia seguinte. Após alguns dias, isso lhe causou uma febre violenta, à qual o rei sucumbiu em 1621, aos 42 anos de idade. — D’ISRAELI, Isaac. Curiosities of Literature [Curiosidades da Literatura], Vol. I. Paris: Baudry’s European Library, 1835. p. 162
Bem antes disso, segundo D’Israeli, a rainha Isabel de Portugal estava prestes a dar à luz o futuro Filipe II. Ela ordenou que todas as luzes do palácio fossem apagadas durante o parto, “de modo que ninguém percebesse se a violência de suas dores mudasse as cores de suas faces”. Indignada, a parteira lhe aconselhou a gritar para aliviar suas dores. A rainha, então, lhe respondeu: “Como ousas me dar tal conselho?? Prefiro morrer do que gritar”. Nem os vagidos de uma rainha em trabalho de parto eram tolerados pela etiqueta espanhola.