Moscou tem mais de trinta teatros regulares, sendo que quatro exclusivamente infantis. A vida teatral nessa cidade tem as suas peculiaridades. Uma é que (salvo circunstâncias especiais) é impossível a longa permanência de uma peça em cartaz; cada teatro apresenta, via de regra, quatro ou cinco diferentes peças por semana, uma vez que todos eles são teatros de repertório. Se uma peça nova, todavia, constitui um grande sucesso, ela pode permanecer no repertório de um dado teatro durante um longo período; certa peça, produzida pela primeira vez em 1954 ainda é sucesso [em 1957]. Outra peculiaridade é que não há estrelas, pelo menos oficialmente e não existe o culto do estrelismo. Os intérpretes, ao invés disso, tornam-se com o tempo “Estimados Artistas da RFSSR” (ou outra república), ascendendo depois à categoria de “Artistas do Povo”, título de âmbito regional, para, finalmente, atingirem a suprema honra, que é a promoção para a categoria de “Artistas do Povo da URSS”, como [a bailarina Galína Sergéyevna] Ulanova. — GUNTHER, John. A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959. p. 333
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A crítica dramática em Moscou é às vezes extremamente contundente, não sendo poupados nem sequer os templos reverenciados que são o Bolchoi e o Maly. Mas os atores e atrizes têm o privilégio de escrever cartas aos jornais – e são mesmo encorajados a fazê-lo – expondo o que tiverem a dizer em resposta aos críticos. Uma prática notável é a conhecida instituição soviética da crítica pública. Seria divertido adotá-la em nosso meio, embora ela pudesse provocar o caos na Rua 42 ou em Picadilly. Os teatros de Moscou, uma ou duas vezes por ano, realizam reuniões públicas, amplamente anunciadas; o público é convidado a comparecer e, se o quiser, crivar de perguntas o produtor, diretor, autor e atores, que se reúnem no palco. Cada assistente pode falar durante três minutos e centenas de pessoas se manifestam. A peça Jardim de Outono, de Lilian Hellman, que teve recentemente um notável sucesso em Moscou, foi discutida dessa forma. Vários dos críticos amadores declararam que ela lhes lembrava Tchekov; alguns declararam generosamente que não podiam admitir que ela fosse realmente representativa das condições de vida nos Estados Unidos. Os americanos simplesmente não poderiam se comportar daquela maneira! — Op. cit., pp. 335-36