
Pedaços de âmbar retirados do Myanmar revelam que os sapos vivem em florestas tropicais há quase 100 milhões de anos
Imagine que você é um sapo esfomeado e está prestes a dar o bote num apetitoso besouro. Vocês dois estão na casca de uma árvore quando, de repente, são engolfados por uma gosma amarelada e grudenta que vem escorrendo pela casca da árvore. Você e o besouro morrem instantaneamente por falta de ar à medida que a massa de gosma se solidifica e cai no chão.
Noventa e nove milhões de anos mais tarde, esse pedaço de âmbar recheado com um sapo e sua última refeição (ou quase) foi descoberto na região de Angbamo, Província de Kachin, no norte do Myanmar. Outros três pedaços com sapinhos pré-históricos preservados em seu interior também foram encontrados ali perto. As quatro peças, achadas em 2015, foram levadas a laboratório e estudadas minuciosamente por Lida Xing, Ming Bai (ambos da Universidade Chinesa de Geociências) e Edward L. Stanley (Universidade da Flórida, EUA).
Para o co-autor Dr. David Blackburn, curador de herpetologia do Museu de História Natural da Flórida, essas pedras-sapo são um achado especial: “é quase impossível conseguir um sapo fóssil desse período que seja pequeno e tenha seus ossinhos preservados quase em 3D”, declarou ao Sci-News. Segundo ele, os sapos empedrados revelam também o contexto em que viviam. “Esses sapos eram parte de um ecossistema tropical que, de muitas maneiras, não seria muito diferente do que encontramos hoje – exceto pelos dinossauros.”

Identificados e batizados como Electrorana limoae em estudo publicado por Blackburn e seus colegas na Scientific Reports, os sapinhos têm cerca de 2 centímetros de comprimento. Apesar disso, conforme revelaram exames de tomografia computadorizada, o âmbar preservou o crânio, as patas dianteiras e partes da coluna vertebral e patas traseiras. Na mesma peça, repousa um besouro ainda não-identificado, que quase virou janta há 99 milhões de anos. São os mais antigos fósseis de sapos em âmbar do mundo, superando em alguns milhões de anos outras peças provenientes da República Dominicana.
Embora revele algumas respostas sobre a vida dos sapos em ambientes tropicais há quase 100 milhões de anos, os fósseis do Electrorana também levanta algumas dúvidas. Suas características são mais próximas de espécies vivas que moram em ambientes bem diferentes, como os sapos-parteiros (Alytes sp.) e do gênero Bombina. Ao contrário do Electrorana, seus parentes modernos vivem em ambientes temperados da Eurásia. Os sapos fossilizados do Myanmar deram origem aos seus congêneres modernos ou migraram para zonas tropicais vindos de regiões de clima mais ameno? Novos estudos podem resolver essa questão em breve, mas nosso amigo Electrorana vai continuar passando fome eternamente. Pobre rapaz!

Referência
Lida Xing et al. 2018. The earliest direct evidence of frogs in wet tropical forests from Cretaceous Burmese amber [A mais antiga evidência direta de sapos em florestas tropicais úmidas tirada de âmbar burmês do Cretáceo]. Scientific Reports 8, article number: 8770; doi: 10.1038/s41598-018-26848-w
Wilker
Eu tenho ossos muito grandes, encontrei quando fui cavar um buraco no meu terreno. Eu não faço ideia de qual animal seria.
Renato Pincelli
Wilker,
dependendo do caso, você pode ter encontrado um fóssil por acidente. Para confirmar se é isso mesmo ou apenas um esqueleto de um animal comum, recomendo que guarde esse material com cuidado e procure um biólogo ou paleontólogo na universidade mais próxima. Se conseguir uma confirmação do que é, me informe. Caso seja um fóssil mesmo, eis aí uma boa história para o blog.