O que andei vendo no Netflix em maio

Três faces da vida humana: um cantor de polca ambicioso e trapaceiro, um grupo de garotas encarceradas e as dicas de Bear Grills para não perder a vida

Documentário

The Man Who Would Be Polka King [EUA | 2009 | 67 min.] — Para alguns da comunidade polonesa da Pensilvânia, Jan Lewan foi o Elvis da Polca, um superstar, um deus. Para outros, ele foi apenas um sujeito que, com muita lábia e carisma, aplicou um golpe milionário. Neste documentário de John Mikulak e Joshua van Brown, damos um mergulho na vida de Jan Lewan e seu envolvimento com a comunidade polaco-americana. Nascido Jan Lewandowski na Polônia pós-guerra, ele desertou para o Canadá em 1971, sonhando com uma carreira de estrelato como cantor. Em vez disso, o que encontrou foi uma vida dura de frentista, gari, funcionário de matadouro e cantor de bar sempre que possível. Não demorou para buscar sua vida glamurosa nos EUA. Ali, graças à numerosa colônia polonesa da Pensilvânia, logo descobriu um nicho como cantor de polca. Mas isso não era o bastante, e logo ele passou a ser empresário, abrindo uma loja de presentes e uma agência de viagens. A música não ficou de lado: Lewan virou líder de uma big band e uma pequena trupe de artistas poloneses. Entretanto, seu sucesso se baseou em dívidas — e pior, dívidas ilegais. Lewan bancava seus negócios e sua carreira com notas promissórias — o que não seria problema, contanto que ele tivesse autorização do governo estadual para tanto.

Mesmo sendo alertado pelo Fisco, ele não corrigiu seu modelo de negócios, semelhante a um esquema de pirâmide: o dinheiro de novos investidores — geralmente idosos que entregavam todas as suas economias em troca de uma promessa de juros bem gordos — era simplesmente repassado aos mais velhos. Nem a loja nem as viagens, muito menos suas turnês lhe dava lucro. Seus trambiques seriam revelados por um ex-acordeonista (e talvez a sogra), uma fraude num concurso de beleza envolvendo sua esposa em 1998 e agravados por um sério acidente de ônibus em 2001. Quem conta sua história, numa mesa de bar, é Stan Tadarowski, apresentador que o acompanhou de perto por 25 anos. De maneira um tanto irreverente, este documentário conta como Lewan foi de trabalhador braçal a nomeado ao Grammy ao mesmo tempo em que fraudava 400 pessoas em 20 Estados. Os depoimentos de advogados, jornalistas, ex-investidores, autoridades fiscais, membros de sua orquestra, familiares e um ex-presidiário são acompanhados por uma profusão de gravações de VHS — Lewan gostava muito de ser filmado, tanto que teve seu próprio cinegrafista, que também participa com suas memórias. Condenado por dezenas de acusações de fraude, Lewin passou cinco anos na cadeia e pagou um preço bem alto — mas nunca se arrependeu de nada do que fez. Trailer (em inglês):

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Série Documental

Garotas no Cárcere [Girls Incarcerated | EUA | 2018 | 1 temporada] — Estar na adolescência costuma ser sinônimo de se meter em encrencas. Mas algumas encrencas são maiores do que as outras. Nesta série documental produzida pela Netflix americana, acompanhamos o dia-a-dia do Centro de Correção Juvenil de Madison, Indiana, e de suas internas. Ali, meninas entre 15 e 17 anos cumprem sentenças por envolvimento com drogas, armas e outros crimes. São moças como Brianna, que tem pavio-curto, Sarah, criada pela mãe a base de heroína e Alexis e seu passado traumático. Diferente de uma prisão comum, Madison tem um colégio, atividades esportivas e um sistema que premia o bom-comportamento com as camisas bordô (que dão acesso a pequenos privilégios, como o salão de beleza). As meninas são acompanhadas por assistentes sociais e guardas que servem como mentores. Ao longo dos meses, acompanhamos as brigas, os amores, os relacionamentos familiares, os estudos, as expectativas e temores das internas de Madison. Além das meninas, há entrevistas com os guardas, os assistentes sociais e os professores da instituição. Os resultados do trabalho deles são tão variáveis quanto as personalidades das adolescentes: algumas se formam e prosseguem os estudos rumo à universidade, enquanto outras retornam à carceragem vez após vez. A versão dublada é boa de modo geral, mas peca pelo tratamento conservador, buscado evitar os inevitáveis xingamentos nos momentos mais tensos. Com 8 episódios de cerca de 45 minutos cada, Garotas no Cárcere deve ganhar uma segunda temporada a partir de 21/06.

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Reality Show

Você Radical [You vs. Wild | 2019 | 1 temporada] — Figurinha carimbada dos programas de sobrevivência em ambiente selvagem, Bear Grylls chegou à Netflix. Diferente de suas produções televisivas, essa série de 8 episódios produzidos pelo Netflix conta com um recurso já utilizado em programas ficcionais da plataforma de streaming: a interatividade narrativa. Em Você Radical, o espectador acompanha Grylls de forma ativa, escolhendo as opções apresentadas pelo explorador em momentos-chave de cada episódio: é melhor contornar uma encosta nevada ou descê-la de rapel? andar ou se arrastar por áreas pantanosas? pescar ou ingerir ovas de anfíbios? Em cada caso, o objetivo é sair inteiro da situação proposta em ambientes como uma floresta tropical, uma zona alpina, um deserto ou um litoral rochoso e úmido. Caso faça a escolha errada, o espectador e Grylls acabam num beco sem saída ou adoecidos, interrompendo o episódio. Mesmo assim, é possível corrigir a escolha feita e retomar a exploração a partir do último ponto de bifurcação. Versões dubladas ou legendadas se equivalem, ainda que a dublada tenha pequenos delays. O resultado é uma produção de duração variável pela possibilidade de escolhas (mas que não supera os 20 e poucos minutos) e bastante educativa sobre como se portar em ambientes inóspitos.

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