Cobradas nas aulas e provas de Física ou Química, as unidades de medida são grandezas padronizadas para mensurar um fenômeno. Mas quando o fenômeno é incomum, a medida também pode ser.
A comunidade científica usa o adequadamente chamado Sistema Internacional (SI), que se baseia no sistema métrico. Entretanto, existem outros meios de fazer medições. Algumas dessas alternativas são sérias e usadas por muita gente — como o Sistema Imperial, usado em boa parte do mundo anglófono. Outras medidas, porém, foram criadas para uso informal, para casos incomuns ou — porque os cientistas também têm senso de humor — simplesmente para divertir. A seguir, apresentamos 13 dessas unidades engraçadinhas, organizadas numa lista de numeração aleatória.
9) Potrzebie
Diante das polêmicas entre os sistemas métrico e imperial nos EUA, a revista de humor americana MAD apresentou uma alternativa: o “Sistema Potrzebie de Pesos e Medidas”. Desenvolvido por um rapaz de 19 anos chamado Donald E. Knuth, esse sistema “revolucionário” baseia-se numa unidade de comprimento de mesmo nome, que equivale à espessura da edição 26 da MAD (exatos 2,263348517438173216473 mm).
O volume é medido em ngogn (ou 1000 potzebies cúbicos) e a massa, em blintz (definido como a massa de 1 ngogn de halva, “uma espécie de torta com uma gravidade específica de 3,1416 e um calor específico de 3,1416). Embora pareçam termos inventados, blintz e halva são nomes de doces que realmente existem.
Além disso, também há um sistema decimalizado de medição do tempo, que é contado a partir de 1o. de Outubro de 1952, data de lançamento da MAD — todo o período anterior a essa data é referido como B.M. (Before MAD).
4) Sagan
Quem já viu a versão clássica de Cosmos (1980) vai sacar essa. Ao enfatizar as grandezas do universo, o astrônomo e divulgador científico Carl Sagan costumava usar a expressão “bilhões e bilhões”. Usado informalmente por seus fãs, um sagan seria uma medida de quantidade, uma quantidade beeeeem grande.
No mínimo um sagan equivale a 4 bilhões — resultante da soma de dois bilhões com dois bilhões — de unidades de qualquer coisa. Com cerca de 40 bilhões de dólares acumulados, Elon Musk teria uma fortuna de 10 sagans.
7) Attoparsec
Embora não seja oficial, esta medida de comprimento é possível e baseia-se em unidades do SI. Um parsec é uma medida astronômica usada para medir a distância entre estrelas — o equivalente a cerca de 3,26 anos-luz ou uns 31 trilhões de quilômetros.
Uma das vantages do SI é a possibilidade de criar subunidades mais adequadas a determinadas escalas. Para isso, usa-se um conjunto bem definido de prefixos de origem grega. O prefixo atto, por exemplo, equivale a uma redução da ordem de ×10−18. Assim, juntando uma coisa com outra, temos o attoparsec, uma grandeza não muito grande pois equivale a aproximadamente 3,086 cm.
10) Barba-segundo
Esta unidade é o equivalente do astronômico ano-luz (a distância percorrida pela luz em um ano) para escalas super-pequenas. Usado informalmente na indústria de circuitos integrados (os populares chips), uma barba-segundo é definida como o comprimento que uma barba média cresce em um segundo.
Evidentemente, não há uma definição muito precisa desta medida minúscula. No Physics Handbook, um manual de Física organizado por Nordling e Österman, uma barba-segundo equivale a exatos 100 angstroms ou 10 nanômetros. O Google, porém, trabalha com uma métrica menor e sua calculadora faz conversões baseada na equivalência de 1 barba-segundo = 5 nanômetros.
3) Sheppey
Esta medida de comprimento é definida como a distância mais curta em que uma ovelha parece pitoresca — ou, em métricas mais convencionais, 7/8 de milha (1,4 km). O sheppey foi proposto por Douglas Adams em The Meaning of Liff, um dicionário cômico, com definições estapafúrdias para nomes de lugares reais. Nesse caso, o nome vem de Sheppey, uma ilha situada no estuário do Tâmisa, a 68 km de Londres.
11) Smoot
Antes dos sistemas padronizados, as medidas de comprimento costumavam se basear em partes do corpo — é daí que vêm os pés, polegadas, etc. O smoot é, de certa forma, um retorno a essas origens. Essa medida de distância foi definida em 1958, como parte de um trote no MIT.
Naquela ocasião, o calouro Oliver R. Smoot foi literalmente usado como uma régua para medir o comprimento da Harvard Bridge. A medição deu 364,4 smoots, com uma margem de erro de uma orelha (do próprio Smoot, claro). Fazendo as continhas, podemos verificar que Smoot tinha, na época, 1 metro e 70 centímetros de altura.
Informalmente, o smoot acabou sendo adotado pela comunidade local. A polícia de Cambridge, Massachussetts (onde fica o MIT) passou a usar smoots para determinar o local de acidentes ocorridos na ponte. Durante uma reforma, as calçadas da ponte foram divididas em segmentos com 1 smoot de comprimento. Tanto o Google Earth quanto a Calculadora do Google reconhecem o smoot como unidade de medida.
Oliver R. Smoot, o calouro-régua, faria carreira justamente na área de padrões de medidas: ele se tornaria diretor do American National Standards Institute (o Inmetro americano) e presidente da Organização Internacional de Padronização (mais conhecida pela sigla ISO).
2) Barn
Clichê na paisagem rural americana, um barn nada mais é do que aqueles grandes celeiros pintados de vermelho — que você já deve ter visto em algum filme ou desenho animado. A largura de um barn costuma ser grande, mas não é o caso da medida de mesmo nome usada na Física de Partículas.
No mundo subatômico, o barn é uma unidade de área, usada para medir a área de choque entre duas partículas. Os físicos de partículas começaram a falar em barn para se referir à dificuldade de conseguir fazer duas partículas se chocarem num acelerador. A analogia — baseada em “Não dava para acertar a largura do celeiro“, uma expressão caipira americana — equivale a uma área de 1.0×10−28 m2. Existem, ainda, algumas subdivisões do barn, adequadamente chamadas de outhouse (puxadinho) e shed (barraco).
6) Nanoacre
Não, não se trata de uma versão nanotecnológica do Estado do Acre. Um nanoacre é outra unidade para medir áreas minúsculas — especificamente, é a unidade de área usada no VLSI (Very Large Scale Integration). Um VLSI é um sistema de circuito integrado, formado pela combinação de milhões de transístores num único chip.
Nesse caso, um nanoacre é como o metro-quadrado do setor imobiliário e serve para medir as áreas ocupadas pelos componentes de um chip. O nanoacre é definido como a área de um quadrado com 2,01168 mm de lado (ou seja, 4,0468564224 mm2).
12-13) Microsséculo e Nanosséculo
Como os nomes indicam, estas são duas medidas de tempo, baseadas em subdivisões do século (100 anos). O microsséculo, segundo o matemático Gian-Carlo Rota, seria a duração máxima de uma palestra para John von Neumann. Um microsséculo é a milionésima parte de um século — ou exatos 52 minutos e 35,76 segundos. Curiosamente, este é um valor muito próximo da hora-aula de 50 minutos, padrão de tempo letivo usado em muitos lugares.
Já o nanosséculo se originou na computação e teria sido definido em 1969, pela IBM, como o intervalo de tempo aceitável para que um sistema dê uma resposta ao usuário. Bilionésima parte do século, o nanosséculo vale mais ou menos 3,156 segundos — ou, se preferir, π segundos.
7) BED (Banana Equivalent Dose)
Poucas coisas são tão difíceis de medir em termos comuns quanto a radiação. Embora existam unidades precisas usadas por cientistas, elas são praticamente incompreensíveis para o cidadão comum. Assim, da mesma forma que falamos em “campos-de-futebol” para dar noção a uma medida em hectares, a BED é usada para comparar níveis de radiação a algo mais acessível: bananas.
Amarelada e recurvada, essa fruta comum costuma ser levemente radioativa graças à sua riqueza em potássio-40. Proposta por Gary Mansfield, cientista do Lawrence Livermore National Laboratory, a Dose Equivalente a Bananas vale aproximadamente 0,1 microsievert (considerando-se uma banana média, de 150 gramas). Essa simplificação é uma quantidade minúscula de radiação: 1 BED é cerca de 1% da média diária de exposição à radiação naturalmente presente no ambiente (proveniente da luz solar, por exemplo).
Para efeitos de comparação, o valor aceitável de radiação emanada por uma usina nuclear seria de 2500 BED; uma tomografia gera um campo que equivale a 70000 BED. Uma dose letal de radiação tem aproximadamente 35 milhões de BED. Em outras palavras, isso significa que para morrer pela radiação bananal você teria que ser soterrado por 35 milhões de bananas — mas nesse caso é provável que você morresse esmagado ou asfixiado antes de acumular tamanha quantidade de frutas.
1) Warhol
É uma medida de tempo, mais especificamente de tempo de fama, baseado nos “15 minutos de fama” que o artista Andy Warhol mencionou certa vez. Foi proposta em 1997 pelo jornalista e escritor Cullen Murphy, então editor da revista The Atlantic. Um warhol seria, portanto, o tempo que dura a fama de alguma celebridade.
Naturalmente, como um warhol é bastante efêmero, podemos dizer que alguém teve 1 quilo-warhol de fama (i.e., foi famoso por 15 mil minutos, ou quase 10 dias e meio). Um mega-warhol equivale a 15 milhões de minutos de fama, o que dá 28 anos e meio — curiosamente, essa foi a quantidade de fama acumulada pelo próprio Warhol até a época de seu falecimento, em 1987.
3) Garn
Esta unidade é talvez a mais incomum, quiçá nojenta, desta lista. Usado extra-oficialmente pela NASA, o garn mede o grau de náusea causado durante os treinamentos de astronautas. O nome deriva do político e astronauta Jake Garn, que ficou enjoado com muita frequência durante seus testes e também em órbita.
Membro do comitê orçamentário responsável pelo programa espacial americano, Garn foi o primeiro (e único) congressista dos EUA a fazer um voo espacial, em 1985. Suas náuseas foram tão intensas que deram origem a uma medida comparativa, com uma escala unitária, de 0 a 1. O aspirante a astronauta que marca 1 ponto na escala garn é considerado inapto para o trabalho e dispensado por excesso de enjoo.