Capítulo 4

Sobre máscaras, testes e COVID-19

p.39-44

Quem é o Coronavírus? Sintomas, prevenção e diagnóstico

08 de junho de 2020
Samir de Deus Elian Andrade

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Revisão: Érica Mariosa Moreira Carneiro
Edição: Maurílio Bonora Junior
Arte: Carolina Frandsen P. Costa

Máscaras e testes são necessários para evitar a transmissão assintomática do SARS-CoV-2 liberado em aerossóis e gotículas. Esse é o resumo do artigo publicado na respeitada revista Science, do dia 27 de maio de 2020. Trata-se de um artigo que coloca em perspectiva as medidas para a redução da transmissão do SARS-Cov-2 por meio de testagem e do uso máscaras pela população. Uma análise necessária… principalmente aqui no Brasil, onde os dirigentes estão tirando a população da quarentena em pleno momento ascendente da curva de casos!

Semana epidemiológica #15

Média móvel de novos casos no Brasil, na ocasião de publicação deste texto

863 óbitos registrados no dia (37.393 ao todo)

Ao respirarmos, falarmos, tossirmos ou espirrarmos acabamos liberando gotículas e aerossóis. Se estamos com alguma infecção respiratória viral, vírus vão estar contidos ali.

Aerossóis são partículas muito, muito pequenas, são menores que cinco micrômetros (≤ 5 μm) enquanto as gotículas possuem mais de cinco-dez micrômetros (> 5-10 μm).

Nota dos Editores:

1 micrometro (μm) é igual a 1/1000 de milímetro.

Um conjunto combinado de fatores (tamanho da partícula, velocidade que a partícula é liberada, gravidade, evaporação) vai determinar a distância percorrida e o tempo que a partícula permanecerá no ar. De forma simplificada, gotículas caem no solo mais rápido do que evaporam, permitindo assim uma maior taxa de contaminação de superfícies. Os aerossóis, por sua vez, permanecem mais tempo no ar e podem ser transportados por longas distâncias, permitindo uma maior taxa de contaminação por inalação. Além disso, a inalação de partículas menores pode estar relacionada à gravidade da doença (aerossóis muito pequenos, poderiam chegar diretamente às regiões mais profundas dos pulmões, onde o sistema de defesa atua mais vagarosamente, causando uma doença mais grave).

 

Adaptado de Prather, Kimberly A., Chia C. Wang, and Robert T. Schooley. T. Schooley. Reducing transmission of SARS-CoV-2. Science 368, no. 6498, 1422-1424, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1126/science.abc6197, e baseado no original de Samir Elian (Sobre máscaras, testes e COVID-19 – Meio de Cultura )

Ao respirarmos, falarmos, tossirmos ou espirrarmos acabamos liberando gotículas e aerossóis. Se estamos com alguma infecção respiratória viral, vírus vão estar contidos ali.

Para efeito de comparação, uma gotícula grande de 100 μm (em azul mais escuro na escala da figura), atingiria o chão em 4,6 segundos e uma distância de quase 2,5 metros, enquanto uma partícula de aerossol de 1μm (pequenos pontos azuis) poderia permanecer no ar por cerca de 12 horas. Além disso, tosses e espirros intensos podem lançar as gotículas por mais de 6 metros (os aerossóis podem ir ainda mais longe). Estima-se que uma pessoa com COVID-19 falando alto por 1 minuto pode gerar mais 1.000 partículas de aerossóis, o que poderia levar a liberação de mais de 100.000 partículas virais de SARS-COV-2!

Há, ainda, diferenças na densidade de partículas virais no ar em ambientes abertos e fechados. Apesar de ainda termos poucos estudos sobre taxa de transmissão de SARS-CoV-2 ao ar livre, as concentrações ali são mais rapidamente diluídas, além de que o SARS-CoV-2 pode ser inativado por radiação UV da luz do sol, provavelmente seja sensível a altas temperaturas ambientes, bem como à presença de aerossóis atmosféricos que ocorrem em áreas muito poluídas. Porém, ao mesmo tempo, os vírus podem se prender a outras partículas presentes no ar, como poeira e poluição e, assim, aumentar sua dispersão (distância e tempo no ar). Observou-se, por exemplo, que pessoas que vivem em áreas muito poluídas apresentam maior COVID-19 com sintomatologia mais grave.

As máscaras surgem como uma barreira importante, uma vez que o seu uso reduz a probabilidade e a gravidade da COVID-19 e reduz significativamente as concentrações de SARS-CoV-2 liberadas no ar. As máscaras também podem proteger os indivíduos não infectados das partículas liberadas e contaminadas com SARS-CoV-2 presentes no ar. Na figura a seguir, vemos as 4 situações diferentes na qual pessoas saudáveis podem entrar em contato com o vírus liberado por uma pessoa infectada assintomática.

  • (1) Pessoa infectada assintomática sem máscara e pessoa saudável com máscara;
  • (2) Pessoa infectada assintomática e pessoa saudável, AMBAS SEM máscara – situação em que a pessoa saudável se encontra mais exposta ao vírus:

Adaptado de Prather, Kimberly A., Chia C. Wang, and Robert T. Schooley. T. Schooley. Reducing transmission of SARS-CoV-2. Science 368, no. 6498, 1422-1424, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1126/science.abc6197, e baseado no original de Samir Elian (Sobre máscaras, testes e COVID-19 – Meio de Cultura )

  • (3) Pessoa infectada assintomática com máscara e pessoa saudável sem máscara;
  • (4) Pessoa infectada assintomática e pessoa saudável, AMBAS COM máscara – situação em que a pessoa saudável se encontra menos exposta ao vírus:

Adaptado de Prather, Kimberly A., Chia C. Wang, and Robert T. Schooley. T. Schooley. Reducing transmission of SARS-CoV-2. Science 368, no. 6498, 1422-1424, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1126/science.abc6197, e baseado no original de Samir Elian (Sobre máscaras, testes e COVID-19 – Meio de Cultura )

Alguns estudos identificaram a eficiência de filtragem de aerossóis por máscaras caseiras. Quando feitas com materiais adequados e bem ajustadas ao rosto, obteve-se resultado semelhante ao de máscaras médicas (mas ainda precisamos de mais estudos para essa confirmação). Acontece, porém, que a universalização da proteção que o uso correto das máscaras caseiras deveria trazer, não ocorre como deveria. É só olhar pela janela de casa e ver que nas ruas as pessoas estão andando com máscara frouxa, ou sem máscara, ou com a máscara no queixo ou pescoço, ou com o nariz exposto… ou seja: a proteção não está funcionando!

Nota dos Editores:

Estudos recentes indicam que máscaras de pano são barreiras físicas e são melhores do que não usar máscara. No entanto, máscaras cirúrgicas oferecem maior proteção. Atualmente, em ambientes fechados, tem sido recomendado o uso de máscaras do tipo PFF2.

Outro ponto importante a ser levantado é que nas infecções respiratórias mais comuns, as transmissões dos vírus ocorrem por meio das partículas liberadas em tosses ou espirros de indivíduos sintomáticos. Porém, para a COVID-19 o que está sendo observado é um pouquinho diferente: a transmissão parece ocorrer principalmente pela liberação de aerossóis durante a fala ou a respiração de indivíduos contaminados, mas que não apresentam sintomas (indivíduos assintomáticos) – ainda que estes venham a desenvolver os sintomas depois.

O que expusemos neste texto é muito importante, pois é o que deve guiar a maneira que devemos agir para reduzir a transmissão do vírus. O que deveria ser muito simples, uma vez que são dois os principais pontos que devem ser observados, acabam tornando-se muito difícil, uma vez que depende da cooperação e bom senso da população e boa gestão dos nossos governantes:

Precisamos: (1) de medidas que reduzam a liberação de aerossóis (uso CORRETO de máscaras com boa taxa de filtração); e (2) realizar testes para saber quem são os indivíduos contaminados assintomáticos. Assim, teremos dados reais para que os governos possam elaborar políticas públicas/estratégias pensadas com cuidado para essas pessoas e que visem evitar a disseminação da COVID-19.

Em Wuhan, cidade que foi o epicentro inicial da COVID-19, por exemplo, ao iniciar o processo de saída da quarentena foram detectados novos casos da doença. O medo de que uma nova onda da doença surgisse levou as autoridades locais a realizarem um grande movimento para testarem toda a população. Foram mais de 9,9 milhões de testes realizados, com a identificação de 300 casos de portadores assintomáticos do vírus. O custo dessa ação foi de aproximadamente 126 milhões de dólares.

Pelo jeito algo parecido aqui no Brasil vai ser muito difícil… 

PARA SABER MAIS ↪

 

  1. Prather, Kimberly A., Chia C. Wang, and Robert T. Schooley. T. Schooley. Reducing transmission of SARS-CoV-2. Science 368, no. 6498, 1422-1424, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1126/science.abc6197
  2. Testes em massa em Wuhan registram 300 portadores assintomáticos de coronavírus, mas nenhum novo caso. 2020. Disponível em: https://www.reuters.com/article/saude-coronavirus-wuhan-testes-idLTAKBN2391L 

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Sobre máscaras, testes e COVID-19

Máscaras e testes são necessários para evitar a transmissão assintomática do SARS-CoV-2 liberado em aerossóis e gotículas. Esse é o resumo do artigo publicado na respeitada revista Science, do dia 27 de maio de 2020. Trata-se de um artigo que coloca em perspectiva as medidas para a redução da transmissão do SARS-Cov-2 por meio de testagem e do uso máscaras pela população. Uma análise necessária… principalmente aqui no Brasil, onde os dirigentes estão tirando a população da quarentena em pleno momento ascendente da curva de casos!

Sobre o período de incubação da doença e suas relações com a quarentena

A doença da COVID-19 vem nos impondo uma série de desafios cotidianos. Para nós, no sentido individual, já temos percebido que a doença no Brasil não são apenas números que se somam dia a dia. Já são nomes de conhecidos, amigos e familiares que viram estatística, ou não – dependendo da gravidade dos sintomas e se é necessário hospitalização. Nos casos mais severos, acompanhamos apreensivos internações e, muitas vezes e infelizmente, a despedida de longe dessas pessoas – por medidas sanitárias.