Montanhas-russas: você encara ou foge?

Montanhas-russas: você encara ou foge?

Após uma experiência sensacional que tive ao visitar um parque de diversão durante as férias, a viagem Nas Asas do Dragão também acabou ganhando uma parada especial. Hoje vamos passear pelo fantástico mundo das montanhas-russas para desvendar o que acontece com o nosso corpo quando ficamos cara a cara com essas grandes atrações. O que será aquele “friozinho na barriga” que sentimos? Por que algumas pessoas gostam tanto e outras quase morrem de medo? Pois é… as férias também trazem oportunidades para despertar nossa curiosidade científica. Vamos aproveitar!

Já aviso aqui que tem muuuita ciência por trás das montanhas-russas, mas quem vai falar sobre a física desses brinquedos vai ser o amigo Lucas Miranda, do blog Ciência Nerd, no post “Montanha-russa: a física a serviço da adrenalina“. Não deixem de ler também, está incrível! Agora eu vou focar mais nos aspectos biológicos e psicológicos de quando nos deparamos com essas gigantes com trilhos.

 

As expressões das pessoas pode variar muito nas montanhas-russas! Como seria a sua? hehehehe

 

Lutar, fugir, congelar ou desfalecer

Se não tiver escapatória, a situação de medo pode se tornar tão intensa que pode causar um desmaio. (Ok, aqui sou só eu entrando na brincadeira! Pagar mico é comigo mesma! hahahaha)

Ao passar por situações de estresse, seu organismo desencadeia uma série de respostas rápidas que chamamos de “mecanismo de luta ou fuga”. Este sistema foi desenvolvido ao longo da evolução dos animais e se perpetuou por aumentar as chances de sobrevivência em situações de perigo (como encontros com predadores, por exemplo). Seu organismo também responde dessa forma em outros tipos de situações ameaçadoras, mesmo que você não precise literalmente lutar ou fugir. É o que acontece quando você encara montanhas-russas, filmes de terror, e até mesmo apresentações de trabalho e provas (pois é…).

Além de lutar ou fugir, existem outras possíveis reações: congelar (afinal, se não dá pra enfrentar o perigo ou então sair correndo, ainda há uma chance de você não ser notado se ficar paralisado); ou desfalecer (uma resposta para tentar pacificar o inimigo ou para se proteger de sentir a dor do ataque). O tipo da resposta depende muito da situação, e também está associado a fatores psicológicos.

Agora imagine que você está num parque de diversão, decidindo se vai ou não encarar uma montanha-russa. Neste caso, você tem duas opções: encarar o perigo ou fugir dele. Veja só o que acontece com o seu corpo:

 

Chegando à montanha-russa – ativação da resposta de “luta ou fuga”

E aí você chega na fila e se depara com uma montanha-russa dessas bem acima da sua cabeça. O medo já começa antes mesmo de você entrar no brinquedo!

Assim que você começa a se aproximar da montanha-russa, sentimentos como o medo, ansiedade e insegurança começam a tomar conta de você. Ela parece muito alta, veloz, tem pessoas gritando… que perigo! Todo esse estresse faz com que seu cérebro comece a enviar sinais de emergência para sua glândula pituitária (também chamada de hipófise). Ela é o centro de controle do seu sistema endócrino (conjunto de glândulas do seu corpo que produzem hormônios).

 

A adrenalina começa a correr por suas veias

Pessoa suando frio com "borboletas no estômago".
Sensação de “frio na barriga” ou “borboletas no estômago”. Qual termo você prefere?

A glândula pituitária então envia sinais para as glândulas adrenais (ou suprarrenais), onde a adrenalina é produzida. A adrenalina então começa a correr por suas veias, aumentando seus batimentos cardíacos e sua pressão sanguínea. Sua respiração fica mais ofegante e seus músculos mais tensos. Suas pupilas se dilatam, aguçando sua percepção visual.

 

O sangue é desviado de outras partes do corpo e redirecionado aos seus pulmões e músculos

Ao mesmo tempo, o seu fluxo sanguíneo é redirecionado principalmente para seus pulmões (que captam o oxigênio) e para seus músculos (que recebem o oxigênio). Os músculos então ficam preparados para entrar em ação (lutar ou fugir da situação de perigo). Mas para que isso aconteça, o sangue precisa ser desviado de outras partes consideradas menos essenciais para aquela situação. Assim, órgãos como o seu estômago passam a receber menos sangue. E é esse um dos principais motivos para você ter aquela sensação de “frio na barriga” antes mesmo de entrar na montanha-russa. Do mesmo modo, sua pele também passa a receber menos sangue, e você começa a “suar frio” (veja suor de estresse).

 

A decisão: encarar ou fugir?

Ao passar por todos esses sintomas antes mesmo de entrar no brinquedo, você pode acabar desistindo de encarar a montanha-russa. Afinal, seu próprio corpo está dando sinais de alerta, então pra que continuar sofrendo? E quanto maior o tamanho da fila, maior a ansiedade e o sofrimento. Mas então entra um fator importante: sua companhia no parque. Às vezes você se sente pressionado a encarar o brinquedo, senão corre o risco de ser chamado de “amarelão”. E ninguém gosta de ficar mal com os amigos, né? Além disso, para ter graça, tem que estar todo mundo na foto! (Senão fica que nem na foto logo abaixo… hahahaha)

Aí depende de você escolher o que vai ser menos pior. Talvez não seja tão ruim assim. Ou talvez seja. E você fica indeciso, fica mais e mais ansioso. Nesses momentos, para evitar sofrer tanto na fila, você tem que tentar se distrair, conversar com os amigos… Você pode até aproveitar pra contar pra eles tudo o que você aprendeu aqui e no Ciência Nerd! 😉

Então chega a hora da verdade: é sua vez de entrar no carrinho. Você pode amarelar de vez, ou aceitar o seu destino, sentar no carrinho, e encarar a luta!

 

Cuidado! Você pode acabar caindo na Caverna do Dragão! hahahaha

Momento de arrependimento

Depois que você já está sentado e o carrinho começa a subir, você percebe que não tem mais o que fazer. Aí pode bater aquela sensação de arrependimento: “O que eu estou fazendo aqui???”. Você pode acabar passando por um momento de desespero, e parece que tudo vai dar errado. “Ai, meu Deus! Meu colete parece meio solto… aquele parafuso ali não tá muito bem preso… Misericórdia!!!”. Enquanto sua adrenalina está a mil, você chega ao topo da montanha e se vê prestes a despencar para sua morte! “Ahhhhhhhhhhhhh!”

 

O “frio na barriga” nas grandes quedas

Enquanto você despenca, vem aquela sensação mais intensa de “frio na barriga” (que uns amam e outros odeiam). Você sente esse “friozinho” porque seus órgãos têm certa mobilidade dentro da sua cavidade abdominal. Assim, quando a queda é muito brusca, as partes duras do seu corpo começam a descer instantes antes dos seus órgãos abdominais. Essa inércia é sentida por células nervosas (mecanorreceptores) que enviam informações da posição dos seus órgãos para seu cérebro. Então você fica com aquela impressão de que seu estômago está quase “saindo pela boca”!

Essa aqui não é exatamente uma montanha-russa, mas entra para as estatísticas da adrenalina e do frio na barriga, com certeza! (E eu queria muito colocar essa foto aqui, porque amo esse brinquedo! hahahaha)

 

Reviravoltas no percurso

Inversões podem ser muito radicais!

Durante o percurso da montanha-russa, várias outras estratégias são utilizadas para garantir que você continue sentindo o máximo de emoção.

Loopings e inversões fazem com que seu cérebro receba muitas informações confusas: uma hora você vê árvores, de repente você está vendo o céu.

As cores e o cenário ao redor do brinquedo garantem que sua experiência seja única, afinal, sua percepção visual está muito aguçada pela adrenalina.

Cada montanha-russa traz uma combinação única de características para você. (Saiba mais sobre as diferentes formas como sentimos o mundo aqui: fisiologia sensorial).

 

As pernas bambas

Essa sensação pode ser explicada pelo fato de os músculos terem ficado muito tempo tensionados. Além disso, ao término da situação de estresse, aos poucos o fluxo sanguíneo começa a voltar ao normal, deixando de priorizar os músculos, o que também pode causar a sensação de fraqueza muscular.

 

Por fim, o alívio!

Depois de passar por toda a situação de estresse e perceber que ainda está vivo, você deve se sentir aliviado, não é mesmo? Algumas pessoas gostam muito dessa sensação de alívio por vencerem o perigo. Segundo o neurologista Dr. Humberto de Castro Lima, é aí que entra em cena a dopamina, um hormônio que atua no centro de prazer do sistema nervoso e é responsável pela sensação de satisfação ao final da experiência.

Sentir essa sensação é o que normalmente faz com que as pessoas queiram repetir a dose de emoção. Algumas ficam até “viciadas em perigo” (você pode se informar melhor sobre isso aqui e aqui). Por outro lado, algumas pessoas continuam não gostando de montanhas-russas, talvez porque a sensação de medo continue sendo muito pior do que a sensação final da recompensa. (Alguém tem outras teorias?)

 

PESQUISA: E você? O que acha das montanhas-russas?

Infelizmente não consegui encontrar muitas estatísticas interessantes sobre as experiências e percepções das pessoas com relação às montanhas-russas. Assim, movida pela mais pura curiosidade, montei uma pesquisa para dar início às investigações. Quem sabe os resultados preliminares não ajudam a indicar um caminho para novas pesquisas científicas?

Você pode participar da pesquisa clicando na imagem abaixo:

 

Contra-indicações

Apenas para finalizar, acho importante também fazer algumas observações sobre os riscos das montanhas-russas. Se você tem histórico de problemas cardíacos, pressão alta, convulsões, problemas na coluna, labirintite ou estiver gestante, andar nas montanhas-russas não é recomendado para você. Além disso, vale lembrar que os brinquedos têm um limite mínimo e máximo de altura e peso, assim como outras recomendações que devem ser respeitadas para garantir a sua segurança. Procure sempre se informar antes de entrar nesses brinquedos. Se estiver tudo certo, a decisão é sua! Você encara ou foge? =)

 

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7 Comentários

    • Muito obrigada, Carol! =)
      Esse é um tema pelo qual eu sou apaixonada! Finalmente resolvi escrever sobre ele, e adorei! ^^
      Ah, e essa é minha primeira experiência montando essas pesquisas online! Aproveitei a oportunidade pra já começar a ter contato com esse tipo de pesquisas, pois preciso aprender pra poder usar no meu trabalho do Doutorado, vou precisar bastante!

  1. Que matéria maravilhosa! Sou estudante de biologia no Instituto Federal do RJ e estava procurando por referências confiáveis sobre a "ação biológica" do parque de diversões e estava muito difícil. Seu blog é perfeito! Parabéns pelo trabalho 🖤

  2. Eu tenho medo de montanha russa desde sempre.Tenho epilepsia e por isso não posso ir nesse brinquedo,além do mais também tenho medo de altura.
    Depois te ter visto Premonição 3 eu nem iria em uma,mesmo se pudesse.

  3. Eu amo montanhas-russas, sempre vou, mas estou com artrose, discopatias e mais algumas coisas, enfim, não consigo pensar que não poderei mais ir, queria saber o nível de perigo para minha coluna, se eu cuidar bem, posso ir?

    • Oi, Jeanne! Como algumas montanhas-russas têm muitas trepidações e mudanças bruscas de direção ao longo do percurso, há um risco maior de complicações na coluna para quem já tem problemas prévios, então é muito importante você consultar o seu médico para receber as orientações adequadas para o seu caso. Da próxima vez que passar por uma consulta para avaliar suas condições de saúde, não se esqueça de perguntar sobre isso! Só volte a andar numa montanha-russa se tiver a aprovação médica, ok?

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  1. Montanha-Russa: A física a serviço da adrenalina (vol. 4, n. 1, 2017) - Ciência Nerd

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