A ansiedade é uma condição natural do ser humano. Porém, em excesso pode ser prejudicial, patológica e interferir em vários comportamentos como a alimentação.
O Brasil é um dos países mais ansiosos do mundo. E a pandemia vem agravando cada vez mais os distúrbios de ansiedade e de compulsão alimentar.
Isso porque existe uma forte relação entre ansiedade, fisiologia cerebral e consumo de açúcares, doces e carboidratos em geral.
Na minha prática clínica, vivencio diariamente o seguinte relato dos pacientes: “Tenho muita ansiedade e como muito doce”.
Mas, qual é a relação entre ansiedade e consumo de açúcar?
O comportamento alimentar é influenciado por diversos fatores, dentre eles os fisiológicos e neuro-cognitivos. Nessa perspectiva, pode-se dizer que as escolhas alimentares são baseadas em dois componentes centrais:
1) Componentes homeostáticos = relacionados à necessidade de energia/caloria
2) Componentes hedônicos = relacionados ao prazer
A “nutrição ideal” é aquela que equilibra o consumo energético e o prazer relacionado à alimentação.
Porém, nos transtornos de ansiedade existe um desequilíbrio entre esses componentes.
E a ansiedade torna-se gatilho para o consumo excessivo de açúcares e fontes de carboidratos como:
- doces, chocolates, sorvetes, sobremesas, pães, roscas, massas, bolos, bolachas/biscoitos recheados , entre outros.
E porque isso acontece?
Primeiro, porque o cérebro usa glicose como fonte de energia. Segundo, porque o consumo de doces e açúcares ativa sistemas neurais de recompensa via dopamina associados ao prazer, bem estar e relaxamento.
Nos transtornos de ansiedade, as pessoas ficam muito focadas no processo mental/emocional de antecipação, medo, angústia e preocupação excessiva.
O que leva ao aumento do gasto energético pelo cérebro cuja principal fonte de energia é a glicose, ou seja, o carboidrato.
Além disso, em resposta a situações de ansiedade e estresse mental/emocional ocorre um aumento da liberação de adrenalina e noradrenalina que preparam o corpo fisiologicamente para reações de “fuga ou luta”.
Para essa ação muscular e cerebral, o organismo precisa aumentar a disponibilidade de glicose na corrente sanguínea.
Por isso, pessoas com transtornos de ansiedade recorrem ao carboidrato (principalmente os açúcares dos doces e chocolates, além de pães, massas e sobremesas) como fonte de energia e também de prazer.
O que fazer para reduzir esse ciclo de ansiedade e compulsão por doces?
A ansiedade gera uma cascata fisiológica de liberação de hormônios do estresse como adrenalina e cortisol. E também aumenta o gasto de energia pelo cérebro.
Por isso, pessoas ansiosas relatam cansaço e falta de disposição para atividades cotidianas e exercício físico.
Para melhorar o humor, reduzir fadiga e equilibrar o comportamento alimentar é necessário:
- estabelecer uma rotina de alimentação, exercício físico e sono.
ALIMENTAÇÃO E SINTESE DE SEROTONINA
O aumento do nível de serotonina no cérebro auxilia no controle da ansiedade e da compulsão por carboidratos (principalmente açúcares, chocolate e doces em geral).
A serotonina (neurotransmissor/ hormônio do bem estar e do bom humor) é sintetizada a partir do aminoácido triptofano.
Portanto, recomenda-se o consumo de alimentos fontes de triptofano como:
- músculo bovino, ovo (gema do ovo), lentilha, feijão-branco, grão de bico, nozes, castanha do Pará, arroz integral, amaranto e banana.
Além dos alimentos, existem fitoterápicos que podem auxiliar no tratamento da ansiedade e da compulsão por doces.
EXERCÍCIO FÍSICO
O exercício também auxilia no controle da ansiedade. É uma forma de sair do foco mental e se conectar mais com o próprio corpo. Atividades como dança, pilates, ioga, musculação, corrida, ciclismo, natação, entre outros, são boas opções.
Além disso, o exercício libera substâncias como a endorfina que causam prazer e bem estar. E contribuem para o equilíbrio do funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal).
MUDANÇA DE HÁBITOS
- Identificar os gatilhos da ansiedade, substituir rotinas, mudar os hábitos alimentares e procurar outras formas de recompensa e prazer.
DESCONECTAR E TER ATIVIDADES PRAZEROSAS
- Desconectar da internet e das redes sociais principalmente nos momentos das refeições e antes de dormir.
- Meditar, fazer boas leituras, exercício físico, cultivar hobbies, bons relacionamentos e convívio social também contribuem para reduzir a ansiedade.
- Além das mudanças de hábitos, é fundamental procurar tratamento com psicoterapia e medicamentos quando necessário.
Para maiores informações, acesse: C. Prasad. Food, mood and health: a neurobiologic outlook. Braz J Med Biol Res 31(12) 1998. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bjmbr/a/VvP8LJpCptm4r9z7VNjQtVn/?format=pdf&lang=en
Que artigo Helenita.. é essencial mente corpo alma espírito para o equilíbrio alimentar e sair da ansiedade. Gratidão 👏🏽👏🏾👏🌿🌼🍀💜💙💓
Eu que agradeço pelo seu retorno, Ângela! Com certeza está tudo interligado. É preciso cuidar da alimentação e da saúde física, mental e emocional para reduzir a ansiedade. Gratidão! Um grande abraço!
Muito obrigado pelo artigo. Muito importante e vem construindo e contribuindo de forma definitiva para muitas pessoas mudarem de atitude para uma vida melhor e mais saudável. Parabéns Doutora Helena.
Olá, Valdeci. Eu que agradeço pelo seu comentário! Muito bom saber que estamos contribuindo com conhecimento científico para que as pessoas tenham mais qualidade de vida a partir de mudanças de atitude e de comportamento alimentar!
Tudo narrado de forma clara e convincente. Parabéns.
Muito obrigada pelo feedback! Fico feliz que tenha gostado do post sobre "Ansiedade e Consumo de doces". Essa é uma das missões da Rede de Blogs Unicamp divulgar ciência para todos de forma clara e objetiva! Um abraço!
Parabéns pelo artigo! Excelente tema é muito atual!
Que bom que gostou, Lenira! É muito importante falar sobre ansiedade e consumo alimentar. Isso é uma questão de saúde publica. Muito obrigada pelo seu retorno! Um grande abraço!
Querida Helena maravilhoso seu artigo. Eu acho tão relevante o que fala pois a gente pode regular-se melhor emocionalmente a través de mudar seu jeito de alimentação e identificar os ejes temáticos que geram ansiedade. Parabéns e muito obrigado. Saudações desde Chile.
Olá, Alejandro! Que bom que gostou do artigo! Eu que agradeço pelo seu feedback! Realmente a mudança de práticas alimentares pode auxiliar na saúde mental e emocional ao passo que as emoções também podem influenciar diretamente as nossas escolhas alimentares. Por isso é tão importante identificar os gatilhos e as causas de comportamentos alimentares inadequados para que seja possível modificar e manter novos hábitos de alimentação. Saudações do Brasil! Um abraço!
Parabéns pelo artigo! É fundamental contar com profissionais qualificadas/os para o tratamento da ansiedade, lembrando da importância de um cuidado integral com a saúde, que leve em conta todo o contexto de vida e com um entendimento biopsicossocial dos fenômenos.
Olá, Lara! Muito obrigada pelo seu comentário! Realmente precisamos considerar o contexto de vida de cada um e entender o ser humano como um indivíduo biopsicossocial para então propor formas mais eficientes para o cuidado integral à saúde e o tratamento da ansiedade.
assusto muito bem esclarecido e respondeu as minhas dúvidas. obrigada
Olá, Maria. Que bom que o texto foi esclarecedor e respondeu suas dúvidas. Essa é a nossa missão no Blog Nutrição & Ciência e no Blogs de Ciência da UNIMCAP - tornar a ciência acessível e de fácil compreensão. Agradeço pelo retorno!
O artigo sobre a relação entre ansiedade e consumo de doces é extremamente relevante em nossa sociedade, onde a saúde mental e alimentação equilibrada são preocupações crescentes. Aprofundar-se nessa conexão pode oferecer insights importantes sobre como nossas emoções afetam nossos hábitos alimentares. Muito Bom!!
Parabéns pela iniciativa do artigo! É fundamental contar com profissionais qualificadas/os para o tratamento da ansiedade em equipe interdisciplinar, lembrando da importância de um cuidado integral com a saúde, que leve em conta todo o contexto de vida das pessoas atendidas e também suas questões emocionais. Neste sentido, a psicoterapia também pode trazer contribuições significativos a serem somadas com o trabalho de nutricionaistas, entre outros. Abraço!
Olá, Lara. Eu que agradeço pelo seu comentário e contribuição. Um abraço!