Ok, já sabemos que o aquecimento global existe, é causado por nós e que muita gente vai se dar mal no futuro se não fizermos nada. Isso os relatórios do clima do IPCC deixam bem claro. Eles também dão dados, tabelas, gráficos, limites de quanto CO2 ainda podemos gastar, etc.
Mas algumas coisas eles não nos dizem, como de que jeito implantar mudanças na sociedade para resolver o aquecimento?
Só saber o que está errado, e até indicar uma solução para o problema, não garante que as pessoas vão partir para a ação e resolvê-lo. As pessoas e os governos simplesmente não funcionam assim.
Por isso é importante que daqui para frente esses relatórios tenham mais participação de cientistas sociais, porque eles estudam pessoas, sociedades e suas relações.
Saiu um comentário na Nature falando sobre isso. É de um dos raríssimos cientistas políticos que participaram deste último relatório do IPCC, por isso ele sabe como a coisa funcionou por dentro. Ele conta que só uma área das ciências sociais estava bem representada: a economia. Outras áreas como sociologia, ciência política e antropologia tem que estar juntas e misturadas com a física e economia.
E tem um bom motivo para as ciências sociais ficarem de fora disso, e o motivo é que elas tocam em polêmicas que muitos querem evitar. A gente tem que lembrar que o IPCC está num cabo de guerra entre a ciência e a diplomacia, e por isso não basta um dado estar cientificamente certo para ser apresentado. Ele tem que ser um consenso político, e é aí que o bicho pega, porque cada país tem um interesse diferente sobre o mesmo dado. Por exemplo, alguns dos maiores poluidores são países emergentes, que poluem justamente porque estão emergindo, enquanto os países desenvolvidos já se desenvolveram, já poluíram, e podem se dar ao luxo de reduzir. Então de quem é a culpa do aquecimento? Quem tem mais responsabilidade para resolver? Como convencer pessoas a agir agora para evitar um mal futuro?
Ao tentar fugir desse tipo de polêmicas políticas e comportamentais, o IPCC perde força. Afinal, o objetivo é resolver o problema, e não fazer relatórios eternamente.
É isso que a imagem que ilustra este post, tirado do comentário da Nature, representa. Genial o desenho, né? A ciência tem que cair fundo na sociedade.
Mas só colocar cientistas sociais não vai resolver o problema, porque pessoas e sociedades são as coisas mais complexas de se estudar, e mesmo dentro de cada área dessas ciências tem muita discordância. A ajuda que as sociais podem trazer é justamente focar e direcionar essas polêmicas, já que elas estão acostumadas com isso e também porque que acabam sendo as polêmicas do IPCC em alguma escala.