Forçando bolsitas de pós-graduação a divulgar ciência em escolas

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Me ensine, pós-graduando!

Quer saber como um governo obriga os pós-graduandos com bolsas federais a virarem excelentes divulgadores de ciência? É só escrever isso aqui num projeto de lei:

O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º Esta Lei visa articular os programas federais de
concessão de bolsas de estudos para a educação superior com as redes
públicas de educação básica.
Art. 2º O estudante beneficiário de bolsa de estudos custeada
com recursos públicos federais fica obrigado a prestar serviços de
divulgação, formação e informação científicas e educacionais, de no
mínimo quatro horas semanais, em estabelecimentos públicos de educação
básica.
Art. 3º Caberá aos órgãos federais competentes, em conjunto
com as secretarias estaduais e municipais de educação, regulamentar e
definir as formas de participação dos bolsistas nas atividades das escolas.
Art. 4º Os bolsistas no exterior cumprirão o compromisso
quando do retorno ao Brasil, durante período igual ao de duração da bolsa.
Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 224 de 2012

Pronto! Problema da educação científica resolvido. PRÓXIMO!

Opa, é claro que não está resolvido coisa nenhuma. Vamos por partes.

Estágio em escola funciona?

Todo mundo que teve estágio obrigatório em escola para poder fazer a licenciatura sabe como é: uma bagunça. As escolas e os professores não estão minimamente preparados para receber os bolsistas, mesmo que os bem-intencionados. Ou o professor te larga com a molecada, ou só deixa você assistir. Poucos são os casos onde professores e escolas aproveitam essa mão de obra escrava.

Mão de obra escrava?

Sim, escrava. Bolsista de programa federal ganha no mestrado R$1.500 e no doutorado R$2.200. É mais do que muita gente ganha, você pode dizer, mas é muito menos do que o mercado paga por um profissional com esse tempo de estudo.

Um bom bolsista, com um trabalho sério, não tem vida nesse período, tanto pelo valor da bolsa ser baixo e deixar o bolsista especialista em harmonizações de miojo, quanto pelo tempo escasso. Muita leitura e trabalho de campo, ou pesquisa, ou laboratório, dependendo da área de atuação.

Claro que conheço bolsistas que só fazem um trabalhinho meia-boca no começo da pós e depois ficam coçando o saco ganhando bolsa até o fim do período. Mas são poucos e isso é problema do programa de pós e do orientador que permitem isso.

Por isso, 4 horas semanais parecem pouco, mas pra quem já não tem tempo é muito, e outra coisa mais importante, e que nunca é lembrada pelo governo nem para ajudar os professores, é o tempo de preparação de uma atividade em sala de aula, que eleva para o dobro o tempo gasto na semana.

Mas então o que fazer?

Claro que não sou contra os pós graduandos atuarem na divulgação científica. Na verdade o meu sonho é que todo cientista atue ou pelo menos saiba da importância de fazer divulgação. Mas fazer nas coxas é que não dá, né?

Na justificativa o projeto se vangloria porque “não cria órgão público e nem tampouco novo programa que possa demandar aumento de gastos públicos”. Num país em que falta muito investimento em educação, justificar uma mudança dizendo que é bom porque não vai mexer no orçamento e nem criar um orgão especializado pra organizar isso tudo, transforma esse projeto de lei numa piada. Só mais uma daquelas leis que não pegam.

Temos sim que gastar com divulgação científica, e temos sim que criar estruturas especializadas nisso. Como fazer exatamente eu não sei. Um caminho é fazer a divulgação valer realmente alguma coisa no currículo científico dos pesquisadores. Outra é ter um programa organizado e com objetivos bem definidos de como alunos de pós podem ajudar na divulgação científica nas escolas.

Temos que estimular novas vocações, e dar caminhos para os interessados a optarem por essa atividade, e não enfiar a divulgação guela abaixo de bolsistas, escolas e professores. Divulgar não é fácil nem trivial. É preciso treino e vocação. Um mau divulgador é pior do que nada, e pode fazer um grande estrago.

Eu gostava muito de psicologia. Quase prestei vestibular para psico ao invés de biologia. Passei a odiá-la quando tive aulas com uma péssima professora de Psicologia da Educação que não sabia nada de nada. Foi a neurociência que resgatou o meu respeito pela psico anos depois. Esse é o meu medo com quem não sabe ou não quer fazer divulgação mas vai fazer obrigado. Crianças odiando ciência sem antes entendê-la.

Qualidades de pós-graduandos bem sucedidos.

*** Esse texto é uma tradução autorizada de “3 qualities of successful Ph.D students: Perseverance, tenacity and cogency”, escrito pelo Prof. Matt Might da University of Utah ***

Todo outono uma nova safra de doutorandos chega à universidade. Desde que tenho procurado por esses estudantes, ouço a mesma pergunta uma dúzia de vezes todo ano: “Quanto tempo demora para se conseguir um Ph.D?”.

Essa não é a pergunta correta.

“Um doutorado pode levar tanto tempo quanto você quiser”, respondo a eles. Não existe um limite para quão rápido você consegue satisfazer todos os critérios da instituição. Uma questão melhor para se fazer é “O que faz um doutorando ser bem sucedido nesse processo?”.

Tendo acompanhado esses alunos em trajetórias de sucesso e fracasso em quatro universidades, percebi que o sucesso nessa pós-graduação está ancorado em três qualidades: perseverança, tenacidade e poder de convencimento.

Se você está fazendo doutorado ou pensando em começar um, leia.

O QUE NÃO IMPORTA
Existe uma concepção errada de que um Ph.D precisa ser esperto. Isso não pode ser verdade.

Uma pessoa esperta saberia que fazer doutorado não é lá uma ideia muito inteligente.

Qualidades de alguém “esperto” como brilhantismo e raciocínio rápido são irrelevantes numa pós-graduação. Estudantes que chegaram até esse ponto confiando apenas em seu brilhantismo e capacidade de raciocínio abandonam os programas de pós com uma previsibilidade irritante. Não duvide: ser brilhante e raciocinar rapidamente são características valiosas em outras empreitadas. Mas nenhuma é suficiente ou necessária na ciência.

É claro que ser esperto ajuda. Mas não dará conta do trabalho.

Ainda, como qualquer pós-graduando pode lhe dizer: muitos idiotas conseguem cruzar a linha de chegada e se vão, diploma de doutor em mãos.

Como meu orientador costumava me dizer, “Sempre que me sentia deprimido na pós – quando me preocupava em não conseguir finalizar meu doutorado – eu olhava para pessoas mais burras que eu terminando os seus, e pensava ‘se aquele idiota consegue um doutorado, droga, eu também posso‘“.
(Desde que me tornei professor tenho me percebido repetindo esse pensamento, só que eu troco o ‘conseguir um doutorado’ por ‘ganhar aquele financiamento’.)

PERSEVERANÇA
Para escapar da universidade com um doutorado você precisa estender de modo significativo a fronteira do conhecimento humano. Mais precisamente, você precisa convencer um grupo de experts que guardam essa fronteira de que o fez.

Você pode cursar disciplinas e ler artigos científicos para descobrir onde está essa fronteira.

Essa é a parte fácil.

Mas quando chega o momento de realizar essa expansão, você precisa entrar em sua fortaleza e se preparar para a carnificina de derrotas.

Muitos doutorandos desanimam quando chegam a essa fronteira porque não há mais um teste para realizar ou um procedimento a ser seguido. É nesse momento (entre 2 e 3 anos de doutorado) que os atritos chegam ao ponto máximo.

Encontrar um problema a ser resolvido raramente é difícil. Todos os campos de pesquisa são ricos em problemas abertos. Se encontrar esse problema for complicado, você está no campo errado. A parte difícil de verdade, claro, é resolvê-lo. Afinal, se alguém pudesse lhe dizer como fazê-lo não seria uma questão aberta.

Para sobreviver a esse período você precisa estar disposto a falhar do momento em que acorda até a hora de dormir. Você precisa estar disposto a falhar por dias, meses, talvez anos a fio. A habilidade que você adquire durante esse trauma é estimar a probabilidade de uma nova abordagem funcionar.

Se você perseverar até o final dessa fase, sua mente intuirá soluções para problemas de maneiras que não era capaz no passado. Você não saberá como ela faz isso (eu não sei como a minha faz). Ela apenas fará.

Enquanto adquire essa habilidade, você estará lançando artigos para revisão por pares para descobrir se os outros acham que o que você está fazendo se qualifica como pesquisa. Como a taxa de aceitação em bons periódicos varia entre 8% e 25% a maioria dos seus artigos será rejeitada. Você só pode esperar que, eventualmente, descobrirá como publicá-lo. Se você se dedicar e trabalhar duro o suficiente, conseguirá.

Para estudantes que se destacaram na graduação, a repentina e constante barragem de rejeição e falha é irritante. Se você tem um problema de ego, essa pós-graduação irá resolvê-lo. De modo vingativo. (Alguns egos parecem se recuperar após um tempo.)

Essa fase do doutorado exige perseverança – face a incerteza, a rejeição e a frustração.

TENACIDADE
Para aspirar a uma posição como professor titular após conseguir seu doutorado, você precisa de uma qualidade adicional: tenacidade. Como existem poucos desses cargos disponíveis, há uma competição feroz (porém civilizada) para consegui-los.

Na ciência da computação, um candidato competitivo terá aproximadamente 10 publicações, sendo entre 3 e 5 em periódicos de primeira linha (índice de aceitação de trabalhos inferior a 33%). Somente um título de doutor não garante nem uma entrevista.

Existem algumas boas razões para se conseguir um doutorado. “Porque você quer ser professor” pode ser a única realmente boa. Ironicamente, existe uma boa chance de você não perceber que tem essa vontade até o final da pós. Então, se você vai para a pós faça-a direito para o seu próprio bem.

Para se tornar professor você não pode ter uma única descoberta ou ter resolvido um único problema. Você precisa resolver vários e publicar cada solução. Ao terminar a pós, um arco conectando seus resultados deve emergir, provando aos avaliadores que sua pesquisa possui um caminho produtivo para o futuro.

Você também precisa criar relacionamentos com os acadêmicos do seu campo de modo ativo, agressivo até. Eles precisam saber quem você é e o que está fazendo. Também precisam estar interessados no que você está fazendo.

PODER DE CONVENCIMENTO
Finalmente, um bom aluno de doutorado precisa ser capaz de articular suas ideias de modo claro – pessoalmente e ao escrever.

A ciência é tanto um ato de persuasão como de descoberta.

Uma vez que tenha feito uma descoberta, você precisa persuadir os experts de que você fez uma contribuição legítima e significativa. Isso é mais difícil do que parece. Apenas mostrar “os dados” não funcionará. (Sim, em um mundo perfeito isso seria o suficiente.)

Ao invés disso, você precisa “alimentá-los de colherinha”. Enquanto escreve, precisa conscientemente minimizar a quantidade de tempo e gasto cognitivo que eles precisarão para entender que você fez uma descoberta.

Você pode precisar “sair em turnê” e dar palestras inspiradas para deixar seus pares animados com a sua pesquisa. Quando participar de conferências, você os quer esperando o próximo episódio ansiosamente.

Você precisará escrever resumos atraentes e introduções que fisguem o leitor e façam ele sentir vontade de investir tempo na leitura do seu trabalho.

Você aprenderá a balancear clareza e precisão, para que suas ideias se componham sem ambiguidade ou formalidade em excesso.

Geralmente, os alunos de pós não chegam com boas habilidades comunicativas. Isso é uma capacidade que eles forjam na pós. Quanto mais cedo isso acontecer, melhor.

Infelizmente o único modo de melhorar a escrita é fazê-lo repetidamente. 10000 horas é o número mágico que dizem ser necessário para se tornar um expert em algo. Você nunca chegará nem perto desse número escrevendo somente seus artigos científicos.

Assumindo a pouca prática em escrever para um público antes de se chegar à pós-graduação, se você ficar na pós seis anos até obter seu doutorado, é possível alcançar essas 10000 horas escrevendo 5 horas por dia. (Próximo do final de um doutorado não é incomum ultrapassar 12 horas de escrita diária.)

É por esse motivo que eu recomendo que novos estudantes comecem um blog. Mesmo que ninguém o leia, faça isso. Você não precisa nem escrever sobre o que pesquisa/estuda.

A prática do ato de escrever é tudo o que importa.

*** Esse texto é uma tradução autorizada de “3 qualities of successful Ph.D students: Perseverance, tenacity and cogency”, escrito pelo Prof. Matt Might da University of Utah ***

Doutorado, explicado.

*** Esse texto é uma tradução autorizada de “The illustrated guide to a Ph.D”, escrito pelo Prof. Matt Might da University of Utah ***

Toda primavera eu explico para um grupo de novos estudantes de doutorado o que um doutorado significa.

É algo difícil de se descrever com palavras. Por isso, uso figuras. Veja abaixo o guia ilustrado para um doutorado.

Imagine um círculo que contém todo o conhecimento humano:

Ao terminar o ensino fundamental, você sabe um pouco:

No final do ensino médio, você sabe um pouco mais:

Com um diploma de bacharel você ganha uma especialidade:

Um mestrado aprofunda essa especialidade:

A leitura de artigos de pesquisa em periódicos acadêmicos o leva ao limite do conhecimento humano:

Quando você chega à fronteira, você foca:

Você força essa fronteira por alguns anos:

Até que, um dia, a fronteira cede:

E, a expansão que você criou é chamada “título de doutor”, o Ph.D.

Claro, o mundo parece diferente para você agora:

Portanto, não se esqueça do cenário completo:

Continue forçando.

 

*** Esse texto é uma tradução autorizada de “The illustrated guide to a Ph.D”, escrito pelo Prof. Matt Might da University of Utah ***

P.S: Já fiz outra tradução do Prof. Might, confira aqui http://www.ciensinando.com.br/2012/05/dicas-blogueiros/

Reality check.

Uma das habilidades mais desenvolvidas pelos alunos de pós-graduação – incluindo este que vos escreve – é reclamar.

Achamos a vida de pós-graduando difícil, reclamamos dos horários muitas vezes malucos, da falta de reconhecimento, do pagamento injusto, da carreira concorrida na academia e da falta de desenvolvimento em P&D no Brasil para absorver os mestres e doutores formados. E apesar de muitas dessas reclamações serem válidas, gostaria de deixar um aviso: hoje (09/05/2012) às 14h Ana Amália Tavares Bastos Barbosa defende sua tese de doutorado “Além do corpo: uma experiência em arte/educação”.

“E daí?”, alguns podem perguntar. Começo a resposta pela imagem abaixo:

Ana Amália com seus alunos (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress)

Ana Amália sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e está paralisada faz 10 anos. Dependendo apenas de movimentos de seu queixo interpretados por computador, ela ensina arte para crianças com paralisia cerebral, pinta e, não satisfeita, desenvolveu um doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP.

Portanto, faça como eu farei de hoje em diante. Quando começar a entrar na espiral “pós-graduando desgraçado”, lembre-se dela, OK?

Fontes:

Mulher paralisada há dez anos por derrame defende tese de doutorado (Folha.com)

Escola de Comunicação e Artes (USP)

 

A valorização do pós-graduando importa?

*** Esse texto faz parte da blogagem coletiva “Qual é o valor do aluno de pós-graduação stricto sensu?” lançada pelo site Pós-Graduando ***

Quando recebi o convite dessa ação, comecei me informando sobre seus objetivos e aproveitei para conhecer a opinião dos autores que já haviam contribuído. E não é que foi exatamente da leitura desses textos que nasceu o meu? Explico.

Constante nos textos foi uma frase que todo estudante de mestrado e doutorado, após alguns momentos de quase surto, se acostuma a ouvir quase com indiferença: “mas você só estuda?”.

Essa indiferença pode ser adquirida de maneiras bem diferentes. Tem gente que desenvolve surdez seletiva, que aprende como um mestre a evitar essa discussão… No meu caso, entendi que quase ninguém que faz essa pergunta tem ideia do que são, como funcionam e quais são os propósitos de um mestrado ou doutorado na área de ciências.

Só que isso vai ser assunto para outro texto e vou aproveitar a oportunidade para escrever não sobre o pós-graduando, mas sobre o Brasil. E para isso vou adicionar à discussão outro ser incompreendido desse país: o professor. E ele tem que se acostumar às suas próprias frases cruéis, como “professor, você só dá aula?” e a campeã “quem não sabe fazer, ensina!”.

[abre parênteses] Imagina quando eu estava ao mesmo tempo na pós e dando aula? [fecha parênteses]

Essas frases, para mim, refletem um único problema: educação. Mais precisamente a importância (ou falta de) dada à Educação, o que tem impacto direto na importância dada à Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI). E essas concepções sobre pós-graduandos e professores são, em grande parte, subproduto da visão do estado brasileiro sobre o tema.

Tenham certeza: a falta de seriedade com que professores e pós-graduandos são encarados em nosso país resulta do descaso brasileiro – governo e cidadão – para com educação.

Não tá fácil prá ninguém... mas tem jeito.

Verdade seja dita, parte desse problema não é exclusividade nossa. Mesmo um país superdesenvolvido científica e tecnologicamente como os EUA têm problemas com a valorização de professores, e os alunos de pós são muitas vezes considerados subempregados. Duvida? Acesse os quadrinhos de Jorge Cham no PHD Comics e veja o cotidiano acadêmico retratado por lá. O conteúdo das tirinhas é humorístico, mas baseado na própria experiência acadêmica do autor. Também é muito comum ele elaborar seus desenhos de sugestões de undergrads e grad students norte-americanos.

Assim, o que esperar de um país que, verdade seja dita, ainda engatinha em direção ao time de “primeiro mundo” da Educação e CTI?

Felizmente isso não é um problema mundial. Na Holanda, por exemplo, grande parte de quem se dispõe a fazer um doutorado assina contrato de emprego e é um trabalhador como outro qualquer. Mesmo nos EUA, que têm problemas parecidos com os nossos, quem se dispõe a tocar um pós-doutorado faz isso como empregado (ao contrário do que acontece no Brasil, onde novamente o sustento é proveniente de bolsas).

Por essas e outras continuo, como um zumbi, recitando o “mantra da resolução dos problemas no Brasil”: educação, educação, educação. Investir com seriedade, paciência e competência em Educação Fundamental e Média formará cidadãos melhores e conscientes da necessidade de se investir em CTI.

Isso é um processo, não adianta investir um quadrilhão de dólares em CTI se a tal mão de obra qualificada for analfabeta funcional ou incapaz de pensar criticamente. Esse é o motivo de o investimento na formação de cidadãos ser mais importante do que gastar tubos de dinheiro com alta tecnologia. Como diz uma expressão em Inglês, quando entendermos isso e passarmos à ação, the rest follows.

E daí não será necessário realizar mobilizações sobre a importância do pós-graduando ou sobre o reajuste de bolsas… e sinceramente? Se você está passando por todo o estresse de um mestrado e/ou doutorado, da rotina (falta de rotina?) difícil, muitas vezes extenuante e comprometedora, e ainda fica chateadinho quando alguém tenta desqualificar sua escolha acadêmica, siga o conselho abaixo:

"Fique tranquilo, trabalhe muito e pare de mimimi". Sério.

Quer ver o início desse movimento e ler os textos dos outros participantes? Acesse o link do Pós-Graduando em http://www.posgraduando.com/pos-graduacao/qual-e-o-valor-do-aluno-de-pos-graduacao-stricto-sensu.

Carnaval acadêmico 2012 e a Unidos da Pós-graduação!

Não resisti e fotografei o resultado de 5 pessoas – contanto este que vos fala, claro – trabalhando direto no laboratório durante o carnaval. As fotos foram tiradas no final da tarde da 4ª-feira de cinzas.

Bancada? Onde?
Alguém aí viu o NaCl? Não encontrei no armário!
Difícil deixar arrumado precisando correr vários SDS-PAGE em sequência...
Quando acabam as ponteiras começa o "momento zen": encher caixinhas!
"Ei, como é que tá a apuração das escolas de samba?" "Sei lá, meu, perdi minha calculadora, ajuda aqui!"

Esses são só alguns flashes que mostram o resultado final de ficar no laboratório tantos dias seguidos. Cansa, mas compensa pela rapidez em se conseguir resolver experimentos pendentes.

Claro que depois limpamos e arrumamos tudo, senão a chefe mata a gente. Ela é compreensiva com a zona, mas tudo tem limite… De qualquer modo, é muito bom quando o laboratório entra no modo “produção agressiva como se não houvesse amanhã”.

Ah, e prá constar, o clima não esfriou depois que acabaram os feriados. Preparei esse post rapidinho no sábado enquanto esterilizava a sala de cultura de células.

Acho que vou trocar a placa de “Biologia Molecular” do meu laboratório por um pôster de “Onde os fracos não têm vez”. Combina.

 

Burocracia eterna das trevas.

Todo mundo imagina – corretamente – que laboratórios de pesquisa sejam recheados de equipamentos caros, complexos e quase mágicos. Em quase 100% dos casos isso é verdade e implica outra característica: são importados.

Daí, além de toda a complicação para se conseguir o dinheiro da compra, a importação e o recebimento da dita cuja, temos a mãe de todo o Mal: a Burocracia (sim, maiúscula pois essa entidade já está no próximo Deuses Americanos do tio Gaiman). A Dona Burocra (apelido carinhoso dado por um grande amigo e adotado por muitos com quem trabalho) faz de tudo para te pegar. Seja falta de espaço no laboratório, briga entre departamentos para decidir quem vai “sediar” a novidade, entraves de patrimoniamento institucional etc. Podem escolher à vontade que o cardápio é extenso.

Assim, uma visão comum são caixas lacradas – às vezes bem grandes – que ficam meses – sim, MESES – encostadas em salas, no corredor, na garagem, no estoque. Uma beleza.

No corredor de entrada do laboratório em que trabalho existe uma dessas caixas. Francamente, acho até que alguém decidiu que ela funciona melhor como peça de decoração e que deixá-la como está é uma boa ideia. Vejam a dita cuja:

Caixa decorativa para corredores: encomende a sua! (Foto: arquivo pessoal)

A seta vermelha mostra um detalhe novo que me chamou a atenção faz alguns dias. Alguém muito espirituoso achou o formato da caixa sugestivo e resolveu “plantar” uma piada para quem gosta de cinema.  Vejam a criatividade do sujeito:

Um pouco mais perto... essa imagem lembra alguém, não lembra? (Foto: arquivo pessoal)

E, finalmente, a surpresa. Sério, eu morri de rir quando vi isso pela primeira vez e todo dia chegando ao laboratório eu dou um pelo menos um risinho:

Tem coisas que só instituições públicas de pesquisa podem fazer por você... Contemplem O SENHOR DAS TREVAS! (Foto: arquivo pessoal)

Piadas à parte, me peguei pensando… Imagina se durante aquele experimento maldito que me obriga a virar a noite no laboratório eu ouço:

Listen to them. Children of the night. What music they make…

Eu hein… credo =/

 

PS: não entendeu a referência? Clica aqui malandro -> http://www.imdb.com/title/tt0021814/quotes

Só acaba quando termina…

Traduzi – porcamente, concordo – uma das últimas tirinhas do PHD Comics. Mais uma vez o autor acertou na mosca e ilustrou uma situação familiar a quase todos que se metem a fazer mestrado e/ou doutorado.

Adaptado de: PHD Comics (Jorge Cham); publicado originalmente em 23/01/2012.

Aproveito para acrescentar a essas observações minha experiência de mestrado (que parece estar se repetindo no doc): só deixe de fazer experimentos para a sua tese quando estiver na data limite para escrevê-la. E volte aos mesmos assim que escrita/entrega/defesa tiverem terminado.

Ah, e sem chorar, hein?

Para ler mais acesse o PHD Comics em http://www.phdcomics.com/comics.php.

Resultados do Ato Público contra a nova distribuição dos royalties do petróleo.

Dias atrás comentei a realização de um Ato Público encabeçado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) contra o projeto de lei que prevê a redistribuição dos royalties do petróleo.

As críticas à Proposta de Lei Substitutiva 448 extrapolam a cobertura da mídia sobre o entrave entre os Estados e Municípios produtores e não produtores, baseando-se no fato de a nova proposta extinguir itens que tratam da destinação de percentagens específicas para Ciência, Tecnologia & Inovação previstos na legislação vigente.

Salão Nobre lotado para o início das discussões. Ato Público realizado em São Paulo no dia 7 de Novembro de 2011. (Imagem: arquivo pessoal)

O evento terminou com a decisão das entidades organizarem um movimento para solicitar aos deputados da Câmara Federal mudanças no PLS 448 que destinem por lei percentuais para as áreas supracitadas. Um resumo do Ato foi publicado pela SBPC em “Já a partir de 2012, os fundos setoriais perderão quase metade do valor atual“.

O ScienceBlogs Brasil manifestou seu apoio à questão pela publicação do artigo “Royalties do Petróleo: Educação, Ciência, Tecnologia & Inovação e o PLS 448” no blog Raio-X. O texto contém explicações sobre o tema e foi elaborado para que todos tenham mais conhecimento sobre o assunto.

Acessem!

Royalties do Petróleo: Educação, Ciência, Tecnologia & Inovação e o PLS 448

 

Quer multidisciplinaridade? Vá para áreas da saúde.

A ideia é juntar tudo

[Post patrocinado por EducaEdu: Cursos Saúde e Medicina]

A trans-inter-super-ultra-mega-blaster-multidisciplinaridade estána moda, certo? Todo mundo fala disso. Mas eu acho que a coisa ainda está muito mais no discurso do que na prática. O mundo ainda compensa mais as pessoas super-especializadas. Isso é o que eu acho, mas podemos discutir. Se não concorda ou me apóia, comente este post com sua idéia.

Apesar de não ver isso na prática da pesquisa, pelo menos tenho visto algo parecido surgir em aulas da pós-graduação. Ou pelo menos algumas. E vejo que a área de saúde é a que tem estado na frente nesta multidisciplinaridade.

Dou alguns exemplos:

Como eu estou entrando na área das neurociências eu tenho feito disciplinas de pós-graduação na psiquiatria da USP, e comecei por uma disciplina mais amistosa para mim, biólogo que sou – isto é, com um “molecular” ou “genética” no nome. Afinal, em estudos do câncer ou do cérebro, molecular é molecular e genética é genética. Elas são ferramentas que podem ser aplicadas a muita coisa, e os termos, técnicas e jargões são os mesmos. Começando assim eu pude me sentir menos patinho feio dentro da psiquiatria.

Assim comecei com a disciplina Genética e Transtornos Psiquiátricos. Pode parecer bem clínico, mas no programa dava pra ver que abordaria conceitos básicos, indo de interação gene x ambiente, passando por estudos epidemiológicos, moleculares e até bioinformática e modelos animais.

Mas a multidisciplinaridade mais interessante não estava no conteúdo das aulas, mas nos alunos que apareceram por lá.

Havia biólogo (eu e não sei se mais algum), psicóloga clínica, um psiquiatra beeeem clínico mas interessado por pesquisa e epigenética, psiquiatra epidemiologista, e até um neurocirurgião!!!

Sério, eu nunca tinha conversado com um neurocirurgião. Para mim eles carregam um estigma de serem os seres mais inteligentes do mundo. Não que eu ache isso, mas parece que quando as pessoas pensam em uma profissão absurdamente difícil, pensam em neurocirurgião.

Claro que o cara era normal, bem gente boa, muito inteligente, principalmente uma inteligência bem técnica, eu diria, mas nada fora do comum para um bom cirurgião. E deu contribuições fantásticas nas discussões da aula. Sério, agora eu quero ter sempre um neurocirurgião por perto pra conversar e tirar dúvidas.

Agora estou em outra disciplina, esta bem mais voltada para pesquisa, mas ainda sim temos certa diversidade com psiquiatras (na maioria), psicólogos e eu, o biólogo fora do nicho.

E foi muito legal contribuir para a discussão quando a conversa foi sobre o papel da evolução nas doenças psiquiátricas. Eu como biólogo pude ajudar com conceitos que para biólogos são banais, mas para médicos e psicólogo são mais distantes.

Estou gostando de estar nessa área médica ou de saúde. Afinal eu tenho essa tendência generalista, de gostar de tudo, e vejo que há muita multidisciplinaridade por aqui. Claro que ainda faltam áreas importantes entrarem na roda, como, no caso da psiquiatria, os psicólogos comportamentais, neurocientistas e pessoal do comportamento animal, entre outros.

Juro que isso tudo chegou a gerar uma certa inveja-boa da prática clínica. Mas ainda bem que passa rápido.

Por isso, se você é um generalista como eu, gosta de interagir com várias áreas, e ainda não sabe o que fazer da vida (vai prestar vestibular ou entrar em uma pós-graduação), as áreas da saúde são uma boa pedida.

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