Montanha-russa de emoções: doutorado ou lição de vida?

Quantas vezes você já passou por algum daqueles momentos que parece que o mundo está desabando na sua cabeça? Em que que o mundo inteiro se apaga, não há luz. Você deixa de ver a amizade, deixa de sentir alegria, é como estar dormindo a luz de velas… Mas nesse momento é importante se permitir enxergar que a chama, apesar de quase inexistente, ainda vive em você, e é preciso oxigenar o ambiente para que ela volte a queimar e brilhar, até que em algum momento você olhe ao seu redor e perceba que tudo está em seu lugar, que você voltou a ser feliz, a ser quem você quer ser, que você está inteiro de novo.

Isso, em geral, acontece algumas vezes em nossas vidas e muitas durante um doutorado ou um mestrado, e é preciso nos conscientizarmos de que não estamos sozinhos, que todos passamos por momentos desafiadores, e que devemos sim expor nossas fraquezas em favor do nosso autoconhecimento. Nesse momento, a palavra é aceitação. Aceitar suas qualidades e seus pontos fracos, aceitar seus limites e seus sonhos, se aceitar.
Vocês devem estar se perguntando agora o porque eu estou trazendo esse tema pra um blog de bioinformática, e é o famoso efeito borboleta, pois qualquer mínimo detalhe que deixasse de existir na minha história mudaria o rumo da história desse blog. Por isso, eu decidi dividir com vocês um pouco da minha história, escrevendo nesse primeiro post, como eu cheguei no doutorado, e depois, dividindo cada ano do doutorado em um post diferente, trazendo meus principais aprendizados durante esse tempo, acontecimentos e dramas, que definitivamente, não foram poucos, até chegar no agora, com um novo projeto em andamento.

Contando um pouco da minha história, eu lembro de em algum momento eu ser uma menina alegre, simpática e em seguida, de ter me tornado alguém insegura, triste, de chorar escondida pelos cantos, pensar que eu não deveria estar nesse mundo, que a vida de todos estaria melhor se eu não estivesse mais aqui. Pra uma criança pensar em suicídio basta um único momento, pois a vida é sempre tudo ou nada, é intensidade.

A partir daí eu me vi sendo uma observadora da minha própria vida, sem tomar decisões porque elas podiam me machucar, sem me entregar a amizades, e a amores porque tudo um dia acaba, e isso foi o que me preencheu por anos, a depressão. E o que define esse estado? Como identificar a doença? Hoje a única resposta que eu tenho é que somente nós mesmos somos capazes de nos identificar como depressivos, e hoje eu entendo a necessidade de pedir ajuda. Eu lembro de me perguntar muitas vezes se realmente existia o amor, a felicidade ou a alegria sincera, porque até então era apenas o medo que me motivava.

Esse período da minha vida foi a minha escuridão, aquele momento em que estive praticamente sem oxigênio, eu me vi perdida, não sabia quem era nem o que eu queria, tinha ne tornado alguém sem profundidade por não ter coragem de encarar todos os meus tormentos.

Com o passar dos anos eu descobri os livros espiritas e de auto ajuda, e num primeiro momento eu encontrei na religião a motivação necessária pra mudar o foco da minha vida, eu reencontrei a minha chama e pude dar o primeiro passo pra mudar o rumo da minha vida.

Nesse meio tempo eu passei em biotecnologia na UFSCar, e apesar de não querer muita proximidade com o mundo, eu fiz alguns (grandes) amigos, mas confesso não ter vivido muito aquela “alegria” da faculdade. Pois foi apenas no terceiro ano, ao final de uma disciplina de psicologia, que, ao preencher um questionário sobre bulling na escola que minha ficha caiu: “O meu passado ainda me definia”.

Com o problema no plano da consciência eu parti pro intercâmbio, um ano na espanha. E foi longe de tudo que havia me definido até então que eu reencontrei minha alegria de viver, que eu pude oxigenar ainda mais aquela pequena chama. Dá pra imaginar por que voltar pro Brasil foi mais que um choque né? Como continuar sendo aqui aquela pessoa alegre que eu descobri que eu era? Como lidar com meu passado? E acima de tudo, como lidar com o que fazer do meu futuro, sem nem saber onde eu queria chegar? Mas aqui eu já tinha trazido um grande aprendizado, eu não era a pessoa que eu tinha me tornado, eu sabia que eu podia ser quem eu quisesse ser, só precisava definir quem eu queria ser. Era bem simples afinal.

Nisso eu descobri o coaching de uma forma muito superficial, e vi ali algo que realmente me interessava. Também comecei a enxergar a bioinformática como uma potencial área de trabalho, mas com apenas uma disciplina na faculdade, como partir pra essa área? Então eu pedi ajuda… e foi aí que eu cheguei na UNICAMP pra iniciar um estágio em bioinfo enquanto me decidia entre o mestrado ou doutorado direto, que foi o que acabei optando por levar adiante.

Nessa época eu já tinha conseguido reavaliar muita coisa na minha vida, e cheguei segura, afinal, era um laboratório com os melhores e eu tinha muito o que aprender. Mas ao mesmo tempo, estava insegura comigo mesma, eram novas pessoas, uma nova área, quem eu iria escolher ser nesse momento? E foi dessa forma que eu comecei a minha jornada, jornada essa que será apresentada em quatro partes:

1.  O início da jornada (2015): Lidando com a ansiedade e estresse
2.  Platô (2016): Em busca do equilibrio
3. O reencontro (2017): Trazendo o retorno de emoções perturbadoras, histórias que se repetiam
4. A cura (2018): Mostrando a aceitação e o desenvolvimento de um potencial escondido

 

Até agora eu apresentei meu primeiro contato com o mundo do coaching de uma forma bem rápida, e no terceiro post ele retornará como um dos “personagens” principais.

E, no coaching, nós sempre saímos com um aprendizado e uma ação. Então vamos ao final do primeiro post:

Aprendizado: “A vida nem sempre é fácil, as pessoas nem sempre expõem os problemas, mas eles existem, e cabe a cada um de nós aceitá-los e arrumar forças e motivações pra superá-los, e nós não precisamos estar sozinhos. ”

Ação: “Quem você escolhe ser hoje? O que você escolhe sentir? A decisão é nossa, e eu, hoje, estou escolhendo ser feliz, apesar de*.”

 

*Fazendo referência ao Livro do Prazeres de Clarice Lispector.

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Sobre Sheila Tiemi Nagamatsu

Formada em Biotecnologia pela UFSCar, Dra. em Genética e Biologia Molecular com ênfase em Bioinformática na UNICAMP, apaixonada por desenvolvimento pessoal e, atualmente, pós-doutoranda em YALE na área de psiquiatria.

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