Liderança científica: Qual o seu movimento?

É sempre fácil pensar em liderança quando estamos falando de ambiente empresarial, ou quando pensamos em alguém que comanda um grupo de pessoas, mas e quando nos sentimos uma pessoa “normal”?

Eu sei que o normal é bem relativo, mas aqui eu falo mais de pessoas em que a única grande responsabilidade é com sua própria vida ou seu projeto, o que engloba a maioria dos estudantes de graduação e até mesmo de pós-graduação. Ainda assim, será que não há a possibilidade de desenvolver a liderança?

No post sobre ciência e política foi discutida a questão do engajamento social quando o assunto é ciência, em que apenas 1305 pessoas (de 15.989) responderam a uma pergunta sobre sua credibilidade no país. E a que se deve isso? Na minha opinião isso está muito relacionado à falta de desenvolvimento de liderança científica.

Em 2014 foi publicado um artigo sobre o retrato da produção científica relacionada a liderança em uma tentativa de identificar os principais tópicos do assunto, e entre eles estavam, principalmente, os papéis do líder e os perfis de liderança. E eles citaram três modelos mais estudados: 1) transacional, que trabalha com sistema de crítica e punição, 2) transformacional, que visa desenvolver o liderado, e 3) carismática.

Mas afinal, como pode ser definida a liderança? “Habilidade de influenciar pessoas para atingir um objetivo“, e como isso tem se desenvolvido dentro da ciência? Em uma discussão sobre o tema na academia de ciência (Austrália e Nova Zelândia) foram definidos alguns pontos que devem estar presentes na liderança científica:

  1. Confiança
  2. Promoção da diversidade
  3. Genuíno interesse nos outros
  4. Conhecimento de suas limitações
  5. Olhar para o todo
  6. Liderar

E se formos parar pra refletir sobre o assunto, todos esses pontos são essenciais para desenvolver um bom pesquisador. A confiança consiste em desenvolver um ambiente seguro o suficiente para aprender e principalmente, para se cometer erros, sendo imprescindível o estímulo da diversidade para garantir que estejam presentes no grupo diversas habilidades distintas e um possa se desenvolver com o outro.

Além disso é preciso identificar o que o outro necessita, para que sejam desenvolvidas mais pesquisas aplicadas, e isso já dá indícios da importância de se observar o panorama geral para identificar o que é ou não possível e se o projeto segue no caminho adequado. Sem esquecer claro de nos desenvolver no caminho, e aí entra a importância do autoconhecimento, finalizando com o levar isso pra mundo, liderança.

Afinal, de nada adianta ter um mega projeto que não serve para nada, é preciso divulgar, e acima de tudo, auxiliar a guiar a nova geração que opta por seguir esse caminho.

E como dizia Einstein: “Nós não podemos resolver um problema, com o mesmo estado mental que o criou”, temos que modificar nosso estado mental para encontrar novas soluções para os problemas existentes no mundo.

Mas, e como unir os tópicos apontados pela academia de ciência com os conceitos de liderança já existentes por aí? Como desenvolver a liderança se você não comanda ninguém? Essa é a típica pergunta em que não há certo ou errado, pois a resposta depende do que é liderança pra você.

Pra mim, liderança científica se baseia em estimular uma ciência que trabalhe a favor do desenvolvimento do nosso país, que colabore transformando vidas, que seja aberta, dissemine o conhecimento,  caminhe lado a lado com a política e se torne um grande movimento. E aqui cabe uma definição muito legal de política e que pode muito bem ser expandida para o líder cientista:

“O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.”

Rubem Alves

Agora, imaginem o poder de um país que pudesse ter políticos e cientistas por vocação, que se preocupem em criar e desenvolver esse jardim para todos. Tenho certeza que teria tudo pra se tornar uma mega potência, mas com a condição de que o povo também estivesse lado a lado nessa campanha e fizesse a sua parte, porque no final, por mais poder que alguém tenha, nós só conseguimos mudar a nós mesmos.

Muitos projetos vêm sendo desenvolvidos por aí que visam o desenvolvimento do nosso país:

  1. Manifestações locais na academia:
    • Universidades de portas abertas, visando conquistar mentes jovens e motivá-los a fazerem uma graduação (Ex. UNICAMP);
    • A rede de Blogs de ciências criado na UNICAMP que trabalha com divulgação científica;
    • O grupo GVENCK na ESALQ, um grupo de jovens universitários que se reuniram com o intuito de fazer encontros constantes e inclusive levarem até a universidade palestras relacionadas a desenvolvimento pessoal e/ou científico;
    • “Aprendendo a aprender”: projeto social desenvolvido para escolas públicas pelo estudante de medicina Arthur Carvalho.
  2. Outras manifestações locais:
  3. Envolvendo o Governo:
    • Projeto Vetor Brasil: que tem como objetivo criar uma rede capaz de potencializar o setor público no Brasil.

Como esses, tem muitos outros grupos por aí ajudando a mudar o nosso país, seja em pequena escala ou em escala nacional, o importante é cada um fazer o seu possível e acreditar que juntos nós podemos fazer a diferença. E o que você pode fazer agora para criar o seu movimento e mudar o seu mundo?

 

Referências:

A. M. de O. Fonseca, J. B. Porto, J. E. Borges-Andrade. Liderança: Um Retrato da Produção Científica Brasileira – SciELO

How to be an Excellent Scientific Leader

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/06/13-frases-inspiradoras-de-grandes-cientistas.html

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Sobre Sheila Tiemi Nagamatsu

Formada em Biotecnologia pela UFSCar, Dra. em Genética e Biologia Molecular com ênfase em Bioinformática na UNICAMP, apaixonada por desenvolvimento pessoal e, atualmente, pós-doutoranda em YALE na área de psiquiatria.

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