Um olhar diferente sobre os terremotos do México
Essa noite, ao assistir o noticiário com minha filha de 11 anos, testemunhei ela impressionada com as imagens do terremoto que abalou o México no dia hoje.
De certa forma, revivi a mesma aflição que tive há aproximadamente 30 anos atrás, quando um outro grande terremoto assolou a Cidade do México. Eu também era apenas uma criança na época mas lembro que fiquei acompanhando durante vários dias o resgate de vítimas presas sob os escombros de prédios, o trabalho dos cães farejadores, a emoção dos bombeiros quando conseguiam tirar alguém com vida. Lembro que diversas vezes me emocionei com as histórias daquele terremoto.
Terremotos são realmente assustadores, mas hoje pude explicar para minha filha que eles são mais comuns do que se pensa.
No primeiro semestre de 2017, ofereci uma disciplina de pós-graduação na área de Visualização de Dados.
Numa era onde o acesso aos dados é fácil e eles são abundantes (a era do Big Data), a pesquisa na área de Visualização de Dados promete proporcionar novos olhares para as informações que tais dados guardam e, aliando-se técnicas de computação gráfica, análise estatística e processamento de dados, essa área de pesquisa pretende criar representações visuais que possibilitem a descoberta de novas informações e aquisição de novos conhecimentos de maneira muito mais rápida e intuitiva.
Um bom exemplo da aplicação deste conceito foi a ferramenta de visualização interativa desenvolvida durante a disciplina pelos alunos Gustavo Reder Cazangi (Engenheiro de Computação) e Tainá Souza (Geóloga), para visualização de dados de terremotos disponibilizados pelo órgão americano de pesquisas geológicas e seus dados sobre tremores registrados ao redor do mundo.
A ferramenta, que foi desenvolvida como um dos projetos da disciplina, pode ser acessada pelo link: https://guca.bitbucket.io/ia369/t3/index.html
Ela foi projetada para mostrar de uma maneira interativa e intuitiva os principais terremotos registrados no planeta, nos últimos dias.
A ferramenta é didática ao mostrar que os terremotos são mais frequentes e mais comuns do que podemos imaginar.
A imagem abaixo, por exemplo, mostra a grande quantidade de terremotos registradas na última semana.
Nessa outra imagem gerada com a ferramenta, é possível destacar o terremoto ocorrido hoje no México, com epicentro na cidade de Raboso.
Finalmente, um gráfico do tipo histograma mostra porque o terremoto ocorrido no México pode ser considerado especial.
Enquanto tremores acontecem todos os dias em diferentes partes do planeta, felizmente, poucos são tão intensos quanto o registrado no dia de hoje.
Finalmente, outro aspecto didático proporcionado pela ferramenta é a visualização das placas tectônicas na Terra. Esse tipo de visualização permite que compreendamos porque o Brasil, por exemplo, não tem registros de fortes terremotos.
Num mês onde minha filha tem sido bombardeada com notícias de furacões devastadores e terremotos avassaladores, esse tipo de ferramenta permite que eu mostre a ela que, na realidade, o planeta Terra é sim um planeta hostil, mas que nós, seres humanos, somos muitos bons em sobreviver e uma das grandes capacidades que temos é a de aprender com os próprios erros. Ao que tudo indica, apesar do terremoto no México ter sido muito forte, o número de vítimas registrado até o momento é, felizmente, menor do que em terremotos de décadas passadas (Veja reportagem da Folha de S. Paulo: “No mesmo dia, em 1985, terremoto matou 10.000 na Cidade do México“).
Finalizo esse post transmitindo meus sentimentos de solidariedade à toda população atingida pelo terremoto.
Há trinta anos atrás, os imagens que vinham do México me ensinaram que, diante da tragédia, os seres humanos são todos semelhantes e que nossa resiliência e nossa união, podem operar verdadeiros milagres.
Muito bom o texto!
Interessante que a gente acaba aprendendo coisas variadas conforme os temas vão aparecendo e ganhando relevância na mídia.
O ideal, pelo que mostra o mapeamento de terremotos, seria que as comunidades humanas evitassem habitar onde os "pontinhos" vermelhos se concentram, não é mesmo. Mas acho que nem sempre essas populações tem essa opção.
Toda a nossa solidariedade para esse povo sofrido.