Não. Não estou falando de 2015. Esse acabou também, mas já tem outro no lugar. Estou falando de relacionamento mesmo. Todo mundo, pelo menos uma vez na vida, já passou pela muito pouco prazerosa experiência de terminar um relacionamento amoroso com alguém. Não importa se o namoro ou casamento durou seis meses ou seis anos, os sentimentos de perda, abandono, tristeza e solidão que sentimos quando alguém termina com a gente (e até mesmo quando a gente termina com alguém) parecem ser universais.
O interessante é que não importa qual era a atual situação do relacionamento. Não importa se ele estava “bom”, sem brigas e algo repentino aconteceu pra terminar tudo, ou se ele era um barril de pólvoras prestes a explodir. O sentimento ruim que sentimos pós-término vai sempre estar presente. Mas afinal de contas, por que sempre nos sentimos um lixo quando terminamos com alguém?
Bom, pra começar, geralmente nos relacionamos com alguém porque vemos naquela pessoa algo que tem a ver com a gente. E esse “vemos” nem sempre é consciente. Seja pela aparência física ou alguma atração mais sentimental, sempre há uma espécie de identificação com a outra pessoa. Essa identificação cria automaticamente uma noção de aceitabilidade e segurança (em termos evolucionistas, é muito mais seguro estar no meio de seres semelhantes a você do que seres completamente diferentes).
Toda essa configuração faz com que nosso cérebro comande a produção de algumas substâncias (dopamina e serotonina, por exemplo) que terão um impacto enorme em como nos sentimos em relação a outra pessoa. Eu explico aqui exatamente o que acontece no nosso cérebro quando estamos apaixonados por alguém.
Mas e quando tudo isso acaba? Os sentimentos de segurança, identificação e aceitabilidade perdem o seu suporte. Essa falta de suporte desencadeia um nível de estresse tão grande que nos sentimos tristes e vulneráveis. Como resposta, seu cérebro vai comandar a produção de bastante cortisol, uma substância que ajuda no controle do estresse, mas que quando produzida em altas quantidades têm efeitos colaterais desagradáveis, tais como falta de sono, cansaço constante, péssimo hábito alimentar, vontade de comer doces o tempo todo, ansiedade, falta de apetite sexual, dores de cabeça, etc.
Note que todos esses sintomas são bem comuns quando terminamos com alguém. Não dormimos direito, ficamos tristes, ansiosos, comendo feito loucos, etc. E ainda há indícios de que altos níveis de cortisol fazem com que nossas memórias mais profundas venham à tona de maneira mais rápida. O que explica o motivo pelo qual nunca conseguimos parar de lembrar das coisas que vivemos com a pessoa com quem terminamos.
Mas e aí? O que fazer então? (In)felizmente não há uma receita eficaz para lidar com esse tipo de perda. No começo é sempre ruim mesmo e o maior segredo é: fique na fossa. Esse período de fossa é necessário. É muito caro para o nosso sistema cognitivo ter que inibir sentimentos como esses. Deixe-os acontecer. Chore se tiver que chorar. Fique sozinho se tiver que ficar sozinho. Com o tempo seu sistema cognitivo vai começar a se adaptar a essa nova situação e você vai notar que a vontade de chorar vai ser menor e a vontade de se isolar nem vai ser tão forte assim.
Como no final das contas é tudo uma questão de química, você precisa contribuir com essa parte também. Por mais que seu corpo vá querer comer todos os doces, bombons e chocolates que vir pela frente, é importante que você os evite (não 100%, mas não coma demais). Altos níveis de glicose e açúcar no organismo só vai contribuir para a produção de mais cortisol. Coma alimentos ricos em fibra, coma frutas e coisas verdes. Faça exercício físico. Além de servir como passa-tempo, vai fazer com que seu corpo produza mais endorfina, o que vai contribuir para o controle do estresse e o sentimento de dor que o término do relacionamento certamente causou.
Terminar um relacionamento é sempre ruim e por mais que você queira, você nunca vai ver, logo no início, o que isso realmente representa na sua vida. Deixe o tempo agir um pouco e faça a sua parte comendo bem, fazendo exercícios e chorando quando necessário. No final, tudo vai ficar bem, seja com a pessoa com quem se relacionou ou com alguma outra pessoa que vai encontrar.