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Divulgação Científica

Público alvo, furar bolhas e outras coisas mais da Divulgação Científica nas redes

Ao fundo, em márca d´água, várias marcas de redes sociais interligadas por linhas. à frente, a ilustração de uma mulher, de vestido vermelho e cabelo azul, com as mãos na cabeça e várias perguntas ao seu redor: que conteúdo? qual público? em que redes sociais? viralizar ou engajar?. Abaixo uma linha em vermelho, escrito em vermelho mais fraco (quase rosa): "notas não aleatórias sobre cultura, educação e divulgação científicas"

Muito se fala sobre público alvo na Divulgação Científica e, também, outro termo clássico que é o “furar bolhas”. Mais recentemente também temos debatido em alguns grupos que o conteúdo que produzimos nas redes sociais aparentemente não têm o mesmo impacto que meses anteriores.

Como podemos divulgar nosso conteúdo nos dias atuais, competindo com o tanto de materiais sendo postados diariamente? Será que é “só” nos adequarmos às plataformas que nosso conteúdo será entregue? Por outro lado, como definir público-alvo quando existem interferências diferentes que vão desde a produção até a entrega e não estão evidentes para quem vem produzindo conteúdo em redes sociais?

Este texto de hoje (e os 2 próximos que serão continuidade) tem várias vozes – que talvez se reconheçam ou não no meio das inquietações que fui trazendo… – desde debates em grupos, até postagens do (ou sobre o) twitter, instagram, tiktok e etc.  

Produção de conhecimentos na Divulgação Científica: sobre delimitações

A primeira coisa que pensamos quando queremos divulgar a ciência, para além de ler/ver conteúdos de outros divulgadores (para nos inspirarmos, para aprendermos, para estudarmos e percebermos a comunicação funcionando através destes perfis) é pensar em que conhecimentos queremos (ou conseguimos) falar enquanto cientistas, pesquisadoras, ou estudiosas de um tema. Considerando que temos uma área ou temática definida, costumamos também delimitar o nosso público-alvo.

Por um lado, temos hoje plataformas variadas para criarmos os conteúdos que queremos, com criatividade, com diferentes linguagens, modos de interação, etc.

Por outro lado, nosso público-alvo tem que não apenas ser usuário da plataforma (o que parece bem óbvio, mas é sempre bom reiterar), porém tem que receber o conteúdo que elaboramos

Esta parece ser uma questão boba: ora, se existem seguidores, então quando postamos algo nas redes, eles recebem, não?

Sim, porém depende.

Pode parecer, também, que como as redes sociais “estão aí” e todos as utilizamos, que atuar nessas redes, a partir de um estudo de quais públicos usam estas redes, também é o caminho.

E é claro que saber quais públicos usam as redes sociais e como usam ajuda (e muito) na hora de criarmos conteúdos e na hora de direcionarmos nosso trabalho.

Não estou falando, portanto, nada de novo sob o sol.

Mas há algumas questões que me parecem importantes nestes universos paralelos que são as redes sociais. Então, para além de ser um texto sobre público alvo, eu decidi levantar alguns pontos que vem me inquietando acerca da comunicação científica digital. Espero que fique coeso, pois as ideias proliferam e nem sempre o espaço permite aprofundamento que gostaríamos… 

Democratização de espaços via redes sociais

As redes sociais, aparentemente, democratizaram, e muito, espaços para falarmos o que quisermos. Seja com páginas e perfis específicos, seja em nossos perfis pessoais, imiscuindo divulgação científica com quem somos e falamos no mundo (isso usando a lógica da divulgação, mas cabe para outros setores também, claro).

Além disso, ainda existem os conteúdos em sites fixos, ou plataformas como o Blogs Unicamp usa (wordpress, blogspot, wix ou outros), para citar as mais famosas e populares.

E há diferença entre a atuação apenas nas redes e ter espaços como sites e/ou blogs?

Nós, aqui do Blogs, costumamos dizer que sim! O que não nos exime de termos conteúdo (e produzi-lo) em redes sociais. Especialmente quando pensamos em repositórios e sua importância na organização deste conteúdo. Uma vez que nas redes sociais a lógica de feed ou linha do tempo faz o conteúdo ser substituído rapidamente pelo próximo a ser consumido.

Não estamos inaugurando a produção independente de conteúdo, com a internet, mas certamente conseguimos veiculá-lo de um modo diferente, por exemplo, do que em rádios comunitárias, zines circunscritas, jornais locais. Isto para citar alguns modos de comunicar, fora da grande mídia, antes da internet virar um fenômeno acessível pelas massas. Também lembrando que a internet ainda é restrita a um poder aquisitivo relativamente alto em países como o nosso.

Assim, é bom frisar que a internet ser mais acessível nos dias de hoje não significa que o espaço está democratizado. Muito menos que os conteúdos veiculados são acessíveis, acessados e acessáveis pelo público que usa diferentes plataformas.

Podemos citar alguns motivos, desde falta de compreensão da plataforma em si em diferentes níveis, como os algoritmos funcionam selecionando e direcionando conteúdos e perfis para as pessoas, diferentes linguagens que não são palatáveis para a diversidade de pessoas que usam a internet, etc. (e todos nós nos incluímos nestes motivos, de diferentes formas). 

Democratizar conteúdos e espaços em mídias sociais vai bem além de acesso à internet mais barato e ao alcance de [quase] todos. Voltaremos a isso em outros textos.

Tá, mas e o público alvo, como furar bolhas?

Existe uma dualidade sempre presente nas tentativas de crescer nas redes e como projeto de divulgação científica. Uma é ampliar a quantidade de pessoas que acompanham nosso trabalho – os “seguidores”. Outra é o “furar bolhas” – que é um termo que usamos muito, mas definimos conceitualmente muito pouco.

Eu vou considerar aqui “furar bolhas” como o ato de atingirmos pessoas que não compõem nosso público alvo. Público alvo considerarei um grupo cujo perfil é definido a partir de gostos, vivências culturais, regionalidades e outras delimitações que são previamente estudadas, quando pensamos nos conteúdos.

Exemplificando…

furar um bloqueio razoavelmente construído por nós, quando delimitamos nosso público alvo. Por exemplo, no perfil do PEmCie, nossa intenção é dialogar com docentes recém formados, sobre Educação em Ciências. Ampliar nossos seguidores ou ampliar a quantidade de pessoas dentro deste perfil (sendo generalista aqui, docentes de ciências recém formados) que acompanham este trabalho é o desejável. Conseguir isto não seria furar bolhas.

Se alguém da área das artes cênicas (sei lá, inventei agora) seguisse o conteúdo, lesse, dialogasse, compartilhasse, etc. Segue sendo divulgação científica, mas não é o público que eu idealizei para escrever. Faz sentido isso para vocês? Para mim, furar bolhas seria alcançar este público fora do público alvo. Às vezes pode ser desejável, às vezes talvez tanto faz como tanto fez…

Quando eu escrevo sobre COVID-19, talvez o furar bolhas seja importante: pois se trata de um conteúdo sobre cuidados básicos de saúde. Quando eu falo sobre planejamento de aulas, talvez não seja tão importante furar bolhas, mas ampliar a quantidade de pessoas dentro do público alvo. Pode ser, também, que furar bolhas seja importante se forem pessoas que têm filhos na escola e, com isso, lidem melhor com a valorização docente ao compreender a complexidade do que é um planejamento de conteúdos. Mas isso é efeito colateral, certamente (um efeito colateral maravilhoso? Sim! Mas efeito colateral ainda assim).

Por fim…

Entre público alvo e furar bolhas, planejamento em redes, alcance, engajamento, escolhas de conteúdos há muito o que falar ainda. Hoje foi só uma introdução e teremos mais 2 textos para falar de outros tópicos.

O CEDiCiências tá só começando…

Para saber mais

O texto de hoje foi inspirado em duas conversas de twitter e uma postagem:

Luiza Caires

Scienceblogs Brasil

Já falamos sobre a Divulgação Científica e especialistas, também, no primeiro post do CEDiCiências

Além disso, consultei os materiais:

Anderson, Chris (s/d) Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho.

Larrosa, Jorge (2002) Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação, n.19.

Strutzel, T (2015) Presença digital: Estratégias eficazes para posicionar sua marca pessoal ou corporativa na Web. Rio de Janeiro: Alta Books.

E do Mindflow:

Desafios do produtor de conteúdo – da comunicação de massa ao digital

O Dilema das Redes e porque esse problema também é seu!

O que é Comunicação Institucional?

No PEmCie

Divulgação científica em tempos de pandemia: como elaboramos conteúdos?

Excessos: informação, opinião, experiência

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