Intervalo de Estudo e Retomada de Atenção

ResearchBlogging.orgÉ interessante notar como o comportamento humano se repete a cada ano: todo final de semestre letivo, por exemplo, é a mesma história: professores cheios de provas e trabalhos para corrigir e estudantes cheios de trabalhos para fazer e provas para estudar.

Para estudantes, particularmente, o final de um semestre letivo é um período crítico. A quantidade de horas que ele dedica aos estudos aumenta de forma considerável. Ao mesmo tempo, obviamente, aumenta o cansaço mental. Muitos alunos reclamam que depois de uma certa quantidade de horas estudando sem parar, o foco começa a ficar difuso, a capacidade de concentração diminui e o processamento da informação necessária para a prova é comprometido.

Uma vez que manter a atenção em determinado assunto ou tópico é uma atividade voluntária e demanda o uso de mecanismos inibitórios diversos (para evitar distrações), a manutenção de atenção por períodos prolongados de tempo causa “cansaço”. Em psicologia, esse fenômeno é conhecido como fatiga atencional, ou mais popularmente conhecido como “cansaço mental”. Como é um fenômeno já bem conhecido, pesquisadores têm cada vez mais procurado por maneiras efetivas de conseguir uma “retomada da atenção”. Em outras palavras, uma vez que se chega a esse estágio em que a capacidade de manter a atenção está comprometida, é preciso que tenhamos mecanismos que façam com que essa capacidade seja retomada de maneira efetiva e produtiva.

Fazer um intervalo é certamente uma alternativa. No entanto, Stephen Kaplan, um dos primeiros estudiosos a definir a Teoria da Restauração da Atenção (Attention Restoration Theory) diz que, para ser efetivo, esse intervalo deve apresentar algumas características: (1) deve distanciar a pessoa do assunto/tópico que causou o cansaço mental. Esse distanciamento pode ser físico ou mental, (2) deve promover o uso da nossa atenção involuntária, ou seja, aquela que não requer ativação de mecanismos inibitórios — quando estamos admirando alguma coisa, por exemplo e (3) qualquer que seja a atividade (ou falta dela) nesse intervalo, ela deve ser compatível com o que a pessoa procura, de maneira que o intervalo não crie outras demandas mentais. Pesquisadores na área de Psicologia Ambiental (sim, isso é uma área da Psicologia) têm mostrado que ambientes naturais, em oposição a ambientes com construções e prédios, apresentam as características colocadas por Kaplan e, por isso, são mais eficientes no processo de restauração da atenção.

Gary Felsten, do Departamento de Psicologia da Indiana University, fez um estudo bem bacana para investigar essa possibilidade. O estudo foi publicado esse mês no Journal of Environmental Psychology. Ele pediu para os participantes da pesquisa (alunos de uma universidade “rural” e alunos de uma universidade “urbana”) que imaginassem que estavam estudando para uma prova. Eles deveriam imaginar que já estavam estudando por algumas horas e que, mesmo ainda não tendo acabado os estudos, eles precisam de um intervalo. Após esse procedimento, os participantes viam uma série de lugares e respondiam a algumas perguntas, envolvendo os aspectos mencionados por Kaplan. Eles respondiam sobre o potencial do local para a restauração da atenção. Uma das perguntas que eles responderam, por exemplo, foi: “Alguns lugares nos permite sentir como se estivéssemos longe de nossos problemas do dia-a-dia. Você acha que esse lugar te faria sentir assim?”

Felsten controlou o “tipo” de lugar que os participantes viam. Todos eram locais internos. Algumas figuras mostravam locais sem janela. No entanto, desses locais, alguns tinnham as paredes com ambientes naturais (árvore, caichoeira, montanhas) pintados. As outras figuras mostravam locias com janelas. Essas figuras variavam no que tange a vista da janela: ambiente natural, ambiente urbano e uma mistura dos dois.

Os resultados mostraram que os participantes perceberam os locais que apresentavam alguma forma de natureza (janela ou pintura) como mais apropriados para um intervalo de estudo. Alguns efeitos interessantes foram observados com relação aos participantes da universidade “rural” vs. os da universidade “urbana”: os participantes da universidade urbana apresentaram uma maior preferência para os locais que apresentavam janela com uma vista mista (prédios e área verde). Todas as diferenças encontradas foram estatisticamente confiáveis.

Sempre que vou a alguma conferência, eu noto que a quantidade de área verde nos campi universitários, nacionais e internacionais, é bem grande. Seria interessante verificar empiricamente como as pessoas não so percebem o local de intervalo de estudo, mas se, efetivamente, esses locais proporcionam uma restauração de atenção eferiva. Seria divertido também verificar se há alguma correlação expressiva entre a quantidade de área verde nas universidades e o desempenho geral dos alunos. Mais ineterssante ainda, seria verificar se há uma relação entre as faculdades e institutos que se localizam fisicamente mais perto das áreas verdes, o desempenho dos seus alunos e o número de “grants” que seus professores recebem (ok ok, esse último é só por diversão mesmo!!!)

Referência:

Felsten, G. (2009). Where to take a study break on the college campus: An attention restoration theory perspective Journal of Environmental Psychology, 29 (1), 160-167 DOI: 10.1016/j.jenvp.2008.11.006

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