Se você é forever alone, o Facebook não vai te ajudar.

Estima-se hoje que mais de 840 milhões de pessoas no mundo tenham uma conta ativa na rede social Facebook. Desse tanto de gente, mais de 50% posta pelo menos um status update por dia. Sem dúvidas, o Facebook é o site #1 em procrastinação (se bem que YouTube e 9GAG são competidores à altura).

Muita gente acha que o Facebook (ou qualquer rede social da mesma natureza) é um ótimo lugar para as pessoas tímidas se soltarem. É uma espécie de paraíso para os “forever-alone’s” da vida. É um ótimo lugar para pessoas que têm baixa auto-estima — o que cria uma enorme dificuldade em estabelecer relacionamentos interpessoais. Geralmente pessoas com baixa auto-estima não conseguem “se abrir” facilmente em relacionamentos não-virtuais. Mas por que isso acontece? Ora, a insegurança e o medo da reprovação são muito grandes, o que as tornam cada vez mais ansiosas, tímidas e introvertidas. Mas para algumas pessoas, o Facebook é o espaço onde elas podem se abrir e sofrer menos (ou de maneira diferente) reprovações e julgamentos.

Mas a pergunta mais interessante é: será que essa exposição no meio virtual traz algum benefício para as relações interpessoais (relacões não-virtuais)? Alguns terapeutas acham que sim. Acham que a chance de se abrir virtualmente ajuda a se abrir pessoalmente — o que é extremamente importante para qualquer desenvolvimento de intimidade. Mas será? Será que o Facebook cura o efeito forever-alone?

Amanda Forest e Joanne Wood (ambos da Universidade de Waterloo no Canadá) tentaram responder a essa pergunta. Mais especificamente, eles queriam saber se, de fato, (1) as pessoas que têm baixa auto-estima vêem o Facebook como um lugar seguro para se abrirem; (2) que tipo de coisas elas postam e (3) que tipo de resultado elas têm ao se abrirem no Facebook. Será que elas passam a receber mais atenção das outras pessoas?

Para responder à primeira pergunta, os pesquisadores mediram a auto-estima de um grupo de usuários do Facebook (eles utilizaram uma escala chamada Rosenberg Self-Esteem Scale) e mediram, através de um questionário, se eles viam ou não o Facebook como um local bom e seguro pra se exporem. Conforme era de se esperar, as pessoas com baixa auto-estima, de fato, acham o Facebook um lugar seguro para serem mais abertas. Mas que tipo de coisas eles postam? Para responder a essa pergunta, os pesquisadores pediram que os participantes fornecessem os últimos dez “status updates” da conta deles. Esses updates foram analisados por um grupo de codificadores (que não sabiam do propósito do estudo) em termos do seu grau de negatividade. Eles queriam saber se as pessoas de baixa auto-estima têm uma tendência maior a postar coisas do tipo “Nossa, meu dia foi uma merda” ao invém de “Hoje o dia está lindo“.

Os resultados mostraram que as pessoas com baixa auto-estima têm uma tendência muito maior para postar coisas negativas quando comparadas com as pessoas de auto-estima alta. Os pesquisadores pediram ainda que um grupo de estranhos lessem os updates e pressionassem (ou não) o botão “curtir”. De novo, como era de se esperar, os updates negativos receberam muito menos “eu curti” do que os outros mais positivos.

Apesar dos resultados serem bem plausíveis, é possível que as pessoas tenham “curtido” menos os updates negativos simplesmente por que se tratavam de pessoas desconhecidas. Pode ser que, ao ver um update negativo de alguém que você conhece, você vá se importar mais do que um update de uma pessoa que você não conhece. Para verificar essa possibilidade, os pesquisadores mediram o número de comentários e “curtidas” que os updates receberam dos amigos dos participantes. E o resultado foi: NÃO. Não adianta! Mesmo dos amigos, os updates negativos receberam menos atenção. O mais interessante foi notar que os updates negativos postados por pessoas com alta auto-estima receberam mais atenção do que os updates negativos de pessoas como baixa auto-estima. A idéia é que se você tem alta auto-estima (e publica coisas positivas com mais frequência) quando você publica algo negativo, as pessoas se preocupam. Mas se você têm auto-estima baixa e sempre publica coisas negativas, as pessoas simplesmente não ligam — pois é isso que esperam de você.

Por isso, se está se sentindo forever-alone, o Facebook não vai te ajudar! O ideal é que pare de postar coisas negativas.

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Referência:

Forest, A., & Wood, J. (2012). When Social Networking Is Not Working: Individuals With Low Self-Esteem Recognize but Do Not Reap the Benefits of Self-Disclosure on Facebook Psychological Science, 23 (3), 295-302 DOI: 10.1177/0956797611429709

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5 respostas para Se você é forever alone, o Facebook não vai te ajudar.

  1. Leticia Martins disse:

    Excelente Post, André! Parabéns mais uma vez!!!

  2. Olá André, conheci o seu blog pelo ultimo Nerdcast e achei tanto o programa quanto o Blog sensacionais. Fiquei interessadissimo em Psicologia cognitiva, e o seu blog faz um papel brilhante em me manter com vontade de estuda-la no futuro (até comecei a procurar por pós ou mestrado em psicologia cognitiva).

    Atualmente faço Licenciatura em Computação no IFBA e quero associar a area a psicologia cognitiva no futuro, para tornar o processo de aprendizado com computadores mais eficiente no futuro, e pra estudar como nosso cerebro e nossa personalidade reage aos estimulos da internet.

    Parabens pelo trabalho e acompanharei seu blog sempre. 🙂

  3. Oi Pedro!!!
    Obrigado! Fico feliz que o blog (e o Nerdcast) estejam fazendo as pessoas se interessarem mais pela Psicologia Cognitiva! 🙂

    Entre em contato sempre que precisar 🙂

    Um abraço,

    A.

  4. Raquel disse:

    Muito bom essa materia...

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