Eu gosto muito de Matemática. Sempre gostei! Eu lembro que quando eu era bem novinho, eu via meu irmão mais velho resolvendo equações com raíz quadrada e achava chique demais! Eu era louco para aprender raíz quadrada só para parecer inteligente! Engraçado, né? Mais ou menos. É muito comum, até hoje, as pessoas associarem conhecimento matemático com inteligência. Einsten era inteligente por que sabia um monte de fórmulas complicadas. Michio Kaku é considerado inteligentíssimo por que sabe “de cor” as equações de J.C. Maxwell sobre eletromagnetismo. Meus alunos acham um máximo quando eu escrevo no quadro a função de densidade da distribuição normal sem consultar minhas notas de aula. Mas será que é isso mesmo?
Um estudo recente publicado no periódico Judgment and Decision Making relata o resultado de um experimento bem legal que foi montado para ver se esse efeito (de achar que matemática é um máximo) acontece com todo mundo ou apenas com pessoas que geralmente não tem um conhecimento matemático muito sofisticado.
O pesquisador (Kimmo Eriksson) pediu para 200 profissionais (com Mestrados e Doutorados em diversas áreas do conhecimento, incluindo medicina, matemática, engenharias, ciências humanas, etc) para ler um resumo de uma pesquisa feita na área de antropologia e avaliar a qualidade da pesquisa apresentada no resumo. Para metade dos participantes, Eriksson incluiu a seguinte frase:
Essa frase faz menção a um modelo matemático que explica efeitos de sequência (efeitos muito comuns em experimentos com tempo de reação, mas completamente alheios à pesquisa apresentada). O resultado mostrou que para os profissionais das áreas de engenharias, matemática e tecnologias, a adição do modelo matemático não teve efeito nenhum. No entanto, para os profissionais das áreas de humanas, medicina e educação, a frase fez com que a percepção da qualidade da pesquisa aumentasse significativamente. Em outras palavras, para esses profissionais, a adição do modelo matemático fez com que eles achassem a pesquisa um máximo.
Por que isso acontece? Pode ser que, por motivos históricos, a gente perceba formulações matemáticas como proposições mais sérias, exatas e menos susceptíveis à fatores subjetivos. Não é a toa que grande parte dos avanços na ciência e tecnologia começam a partir de algum tipo de formulação matemática. Pode ser também fruto de um efeito que Dan Sperber chama de “Efeito Guru”. Em geral, nós temos a tendência de achar profundo, importante e válido tudo aquilo que não entendemos. E isso ocorre independente da área de conhecimento.
No final das contas, da próxima vez que alguém tentar te impressionar com alguns formulismos matemáticos ou frases complicadas, pare e pense! Ele ou ela pode estar é cheio de lero-lero. 🙂
Acesso o estudo original do Eriksson aqui, e o artigo do Dan Sperber aqui. E siga o Cognando no Facebook, Twitter e Google+
Tem a história do Euler e Diderot:
https://cs.uwaterloo.ca/~shallit/euler.html
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[]s,
Roberto Takata
Eu ia falar da mesma história que o Roberto. Isso me faz pensar nas vezes em que a análise literária se pretende ciência. A maior parte de estudantes que sustentam essa visão (dos que conheço) é mais pelo status da palavra “ciência” do que pelo reconhecimento da literatura como tal. É chique ser científico. Tem mais autoridade. Mas, vejam bem, não tem problema não ser ciência! Hipervalorização do rótulo. Como se as verdades do conhecimento tivessem de ser unívocas e explicadas por números (ou dados)…
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