62 – Porque o horário de verão não voltou (e não voltará)

E aí pessoal?

Vocês se lembram do meu texto relacionado ao horário de verão? Bem, passou-se um tempo desde que ele foi publicado. Hoje, devido a crise energética ocorrida entre 2020 e 2021 (discutida no texto 56), muitas pessoas tem pedido a volta do horário de verão.

Hoje o texto traz uma reflexão sobre o porque desse retorno, e o por que dele não retornar tão cedo.

Resistências quanto ao retorno do horário de verão

Um estudo foi realizado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)[1], ao qual foi encomendado pelo Ministério de Minas e Energia pela pressão de setores da economia pedindo o retorno do horário de verão. O objetivo do estudo era verificar o impacto do horário de verão no consumo de energia elétrica.

Porém, segundo o que a ONS divulgou, os resultados deste estudo demonstram que não fará muita diferença se o horário de verão retornar ou não. Isto é devido a popularização de aparelhos de ar condicionado, ao qual deslocou o pico de consumo para as tardes. Segundo o presidente da ONS, Luiz Carlos Ciocchi[2], o horário de verão é neutro no ponto de vista energético.

O Poder360[3] publicou este estudo da ONS[4], o qual demostra (link nas referências) uma redução no consumo com o horário de verão caso este fosse aplicado. Porém, mesmo com este estudo aplicado, a medida não voltou. Ou seja, há fortes indícios do horário de verão não voltar puramente por questão ideológica. Logo, a questão dos aparelhos de ar condicionado é apenas uma mera desculpa.

Desta forma, vamos ao próximo ponto.

Ar condicionado e renda urbana

Sobre a questão do consumo estar mais atrelado ao aumento de ar condicionado, vamos considerar dois pontos.

O primeiro é a quantidade de ar condicionado e as pessoas que as obtêm. Considerando o estudo da EPE de 2018[5], ele demonstra que realmente há um impacto do ar condicionado na matriz energética. Logo, olhando por este ponto, seria coerente com o que a ONS falou a respeito do consumo ser muito alto no período da tarde. Porém, aí que entra o segundo ponto.

O segundo é a quantidade de pessoas com ar condicionado. Há poucos dados a respeito disso, ate mesmo no estudo tanto no estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em relação a posse de utensílios, aos quais não se encontra o ar condicionado. Porém, há estudos do IBGE referentes a renda familiar[6], ao qual caiu bastante durante o período de 2020 e 2021, devido a inflação e a pandemia. Inclusive, o próprio IBGE[7] confirmou que o Brasil voltou ao mapa da fome. Sem falar que pessoas com maior renda consomem mais energia que pessoas de menor renda.

Conclusão

Desta forma, acredito que faltou um pouco essa consideração destes dados neste estudo da ONS. Além de ser uma tentativa de fazer com que o horário de verão não fosse aplicado, tendo em vista apenas o impacto no setor elétrico.

Considerando que varias pessoas estão voltando a pobreza, chegando a condições de não pagarem uma conta de luz, penso que o horário de verão deveria ser aplicado pensando nas condições da população. Em especial as pessoas que não tem nem condições de obter nem um ar condicionado.

Até a próxima.

Referências

[1] PAMPLONA, Nicola, Horário de verão não garante economia de energia, avalia ONS, Folha de São Paulo, disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/09/horario-de-verao-nao-garante-economia-de-energia-avalia-ons.shtml>, acesso em: 22 set. 2021.

[2] CONTEÚDO, Estadão, Horário de verão não faz diferença para economia de energia, diz estudo do ONS, InfoMoney, disponível em: <https://www.infomoney.com.br/economia/horario-de-verao-nao-faz-diferenca-para-economia-de-energia-diz-estudo-do-ons/>, acesso em: 22 set. 2021.

[3] BARROS, Rafaella, Governo ignorou conclusão de novo estudo do ONS sobre horário de verão, Poder360, disponível em: <https://www.poder360.com.br/energia/governo-ignorou-conclusao-do-novo-estudo-do-ons-sobre-horario-de-verao/>, acesso em: 23 nov. 2021.

[4] ONS, Avaliação da aplicação do Horário de Verão em 2021.

[5] EPE, Uso de Ar Condicionado no Setor Residencial Brasileiro: Perspectivas e contribuições para o avanço em eficiência energética, Rio de Janeiro: 2018.

[6] PNAD Contínua – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, IBGE, disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/17270-pnad-continua.html?=&t=series-historicas>, acesso em: 22 set. 2021.

[7] SARAIVA, Alessandra; BOAS, Bruno Villas, IBGE confirma que país voltou ao Mapa da Fome em 2018, diz pesquisador, Valor Econômico, disponível em: <https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/09/17/ibge-confirma-que-pas-voltou-ao-mapa-da-fome-em-2018-diz-pesquisador.ghtml>, acesso em: 22 set. 2021.

Rafael Henrique

Sou graduado em Engenharia de Energia pela PUC Minas. Recentemente, concluí o mestrado em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP. Decidi dar inicio a este blog, com o intuito de abrir o espaço de divulgação científica relacionado a energia e seus temas relacionados.

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1 Resultado

  1. Haroldo Limeira de Souza disse:

    Boas explanações e reflexões. Obrigado.

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