Ontem assisti o workshop Comunicação e Sustentabilidade do Sustentável 2009. As pessoas que falaram foram: Percival Caropreso, fundador da Setor 2½; Ricardo Voltolini, editor da revista Ideia Socioambiental e Massimo Di Felice, professor da USP.
Eu ouvi muito sobre a diferença da comunicação para a sustentabilidade e a comunicação da sustentabilidade; dos cuidados que se devem tomar quando se resolve comunicar a sustentabilidade seja para quem for, de como a sustentabilidade deve ser nas empresas e como deve ser essa comunicação. De fato foi uma aula bastante interessante em que eu vi bastante organizada várias ideias que eu acredito e acho primordial quando se fala do assunto para empresas e profissionais que querem saber do que se trata essa tal sustentabilidade.
Mas várias coisas me inquietaram… E infelizmente não pude ficar para as perguntas para que alguém lá pudesse me dar uma luz.
Uma das coisas que mais me chamou atenção foi que disseram que a mídia denuncia casos não muito corretos de sustentabilidade, eu me pergunto a mídia quem? Não a mídia tradicional, né? Os grandes jornais, revistas e portais de internet nunca vi falando mal de alguma campanha de sustentabilidade inconsistente (e olha que a gente tem um monte por ai), eles citam superficialmente alguma que não é lá muito convincente e na grande maioria o que vejo é só jogação de confete e rasgação de seda, vários prêmios pra dizer quais empresas são mais sustentáveis, qual o melhor projeto de sustentabilidade, quem foi mais sustentável no ano, quem ta só fazendo marketing também consegue entrar no bolo e fica tudo certo. Você confia na mídia? Eu só vejo denúncia mesmo a partir das ONGs (Greenpeace, Amigos da Terra Amazônia Brasileira), blogs e jornais e sites pequenos e regionais.
Me desculpe os profissionais de comunicação em sustentabilidade mas vocês vivem num mundo de faz de conta ou pior, num mundo de hipocrisia, e eu não acho que isso seja um problema, afinal antes de mais nada a gente tem que pensar na nossa sustentabilidade, se a gente não consegue pagar as contas no fim do mês de que adianta sair falando mal de todo mundo por ai? Mas assumam essa hipocrisia, por favor! Vocês escrevem relatórios de sustentabilidade com meias verdades, comunicam ações vazias, não publicam o que vêem de errado por ai e querem credibilidade, querem que as pessoas acreditem nas empresas? Lamento, não são só as empresas que estão sofrendo com a desconfiança do consumidor quando falam de suas ações sustentáveis, pra mim é a mídia que passa por esse problema.
Sim, as empresas têm ações inconsistentes, algumas acham que o lugar da sustentabilidade é no marketing, a grande maioria das pessoas não sabem diferenciar ser de fato sustentável dos “agrados socioambientais” (palavras do Percival), mas o que os profissionais de comunicação estão fazendo para combater isso? Para simplesmente defender e alertar o consumidor leigo que sabe menos ainda se o produto é de verdade verde? Acho que a resposta pra essa pergunta beira ao nada.
Tá, posso estar sendo bem exagerada, mas as pessoas que discordam completamente de mim me mostrem exemplos de que estou completamente enganada, por favor.
P.S.: Eu sei que de uns tempos pra cá eu tenho tentando ser menos pessimista e de fato isto está acontecendo comigo, mas cheguei à conclusão que ver o lado bom das coisas, a mídia tradicional faz muito bem, com certeza em várias revistas semanais você vai ver vários exemplos de empresas que são legais e ganham prêmios por isso, eu vou fazer a minha parte aqui de alertar as pessoas que nem tudo é tão verde e perfeito assim.
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8 Comments
Ouvi alguns trechos pelo streaming do evento, e foi o suficiente pra saber que para a Coca-cola, sustentabilidade é incentivar o esporte e ter uma completa discrição dos ingredientes na embalagem. 1- como se o código do consumidor não exigisse os ingredientes. 2- O QUE RAIOS ISSO TEM A VER???
A maioria das ações sustentáveis que vejo não tem nada, nada, de sustentáveis. São todas ótimas ações de marketing, mas só. Nem as idéias que são levantadas para amenizar o impacto ambiental se sustentam.
É isso mesmo, tem que ser a mosca na sopa. Pq a mídia é de quem tem a grana, e não são os ambientalistas com certeza.
Apontar os erros sim.
Só não podemos cair em dois erros: 1-não ver nossos próprios erros
2-tentar mostrar alternativas.
Força ae Clau
Olá Cláudia, respeito muito sua opinião, mas acho que existe sim um certo pessimismo e uma concentração de foco em um ator só: as empresas.
Na verdade, vejo uma evolução, ainda muito pequena, na postura e nas ações empresariais, porém, é preciso lembrar que empresas vivem de clientes. Somos nós, a sociedade em geral que define de quem comprar, o que escolher, o que exigir. Mas será que nossa sociedade está disposta a investir em sustentabilidade e ética ou será que os artigos sem origem comprovada, piratas e tudo mais ainda têm espaço?
Acho que devemos assumir nosso papel. Quanto aos relatórios, acho que existe alguma confusão de sua parte. Eles são veículos encomendados pelas próprias empresas para divulgar suas ações, seu evolução e até mesmo suas tentativas. Não são os resultados que definem o relatório, mas a intenção da empresa de abrir o diálogo. Concordo que é muito pouco, mas se voltarmos a cinco ou dez anos, você irá encontrar uma evolução significativa.
Desculpe mais uma vez, mas espero ter colaborado de alguma forma.
Abs e parabéns pela iniciativa.
Leandro, concordo com vc que o foco nas empresas é, digamos assim, exagerado, mas existem vários motivos pra isso. 1) As instituições mais poderosas do mundo hj são empresas, ganham de longe de governos, ongs ou sociedade civil e nao digo só pelo fator financeiro, mas em poder de influência tb; 2) Não são as empresas que gastam milhoes em mkt para se divulgar e convencer alguém a comprar seu produto pq ela é verde? Eu nao vejo nenhum governo dizendo por ai q é sustentável e querendo me convencer, só por causa disso, a ir até lá gastar meu dinheiro ou me mudar pra lá, aliás, nem vejo politicos se dizendo sustentaveis pra ganhar meu voto; 3) Como fica meu poder de consumidora quando uma empresa como a Vale diz q zerou seu footprint? O maximo q eu consegui fazer foi postar num blog minha indignação, como faço pra nao consumir mais os produtos da Vale? Ou da Petrobras? Ou de uma empresa de energia que diz q só investe em energia limpa, mas está construindo uma termoelétrica de carvão?
Se a sociedade está disposta a investir em sustentabilidade? Dizendo pelas pessoas individualmente eu nao sei, mas as empresas com todo poder que tem devem dar o exemplo, nao pq sao boazinhas, mas pq são responsaveis e sabem q se nao for assim todo mundo vai pro buraco, os consumidores dela e por consequencia elas.
A sociedade tem sua parcela de responsabilidade sim, mas no Brasil pelo menos, nao dá pra esperar muito das pessaos, somos um país de analfabetos funcionais, de pessoas q usam internet para acessar orkut, de gente que nao tem uma escola decente pra frequentar, eu acredito que quem tem mais e sabe mais tem q dar o exemplo, sempre.
Oi, vim conhecer seu blog e desejar bom fds
bjss
aguardo sua visita 🙂
Post perfeito!
Será que a Globo vai querer perder uma poderosa anunciante como a Vale, a Natura ou a Petrobras quando essas fazem propagandas exaltando o quanto são sustentáveis? Acho que não.
Olha, até concordo com o Leandro que os consumidores têm o poder de compra e podem decidir se querem ou não comprar o produto mais sustentável. Mas o grande problema, e é o que a Claudia está colocando, é que as empresas dizem que são eco, fazem um grande marketing em cima disso, e nem sempre são convincentes ou nos oferecem provas concretas. Matam a cobra e não mostram o pau.
Se diz que é sustentável, tem que provar, tem que mostrar como faz tim-tim por tim-tim. Elas têm, sim, a obrigação de nos mostrar como fazem e de prestar contas. E eu acho que é isso que a Claudia quer mostrar.
Tá certo Claudia, compartilho de sua indignação, realmente o que se vê hoje nos meios de comunicação é a venda de uma idéia totalmente irreal do que seja sustentabilidade.Sou profissional da comunicação e admito que muito se tem feito de errado nessa área. Lembro no entanto que é preciso ter cuidado para não cair na fácil armadilha da teoria de "conspiração da grande mídia"; E acredito também que quem tem um mínimo de tutano pode diferenciar o que é publicidade do que é jornalismo, mesmo que concorde que somos um país de analfabetos funcionais. Não nos deixemos levar pelo pessimismo. Façamos nossa parte, denunciando publicamente balelas como campanhas publicitárias de bancos e Vales da vida...