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Gás x Água

Como geóloga, tenho verdadeira admiração pelo Aquífero Guarani. Essa esponja rochosa subterrânea garante não apenas que várias cidades sejam abastecidas da melhor água do Brasil, como também — e, talvez, principalmente — assegura a qualidade do chope fabricado em Ribeirão Preto e provavelmente a famosa cerveja Brahma de Agudos (mas os mestres cervejeiros dizem que isso não é verdade). Mas pelo menos os geólogos meus amigos que frequentam o famoso bar Pinguim em busca daquela maravilha gelada, cremosa e bem tirada deveriam sempre fazer seu primeiro brinde ao arenito Botucatu, que estoca toda aquela água para eles. Se bem que os hidrogeólogos do interior de São Paulo devem fazer isso já que esse aquífero garante o emprego da maioria deles!

As pessoas que vivem em boa parte do interior de São Paulo, e outras no Centro-Sul do Brasil, talvez marchassem furiosas com tulipas quebradas na mão sobre a Agência Nacional do Petróleo se soubessem o que o futuro próximo pode reservar às rochas do Aquífero Guarani. Sem muito debate público e sem muita cobertura da imprensa, a ANP quer permitir a exploração de gás natural em depósitos não convencionais na bacia sedimentar do Paraná no oeste do Estado homônimo, que abriga parte do aquífero. A técnica a ser usada é o fraturamento hidráulico, ou “fracking”. Isso pode significar contaminação das águas do Guarani.

Uma audiência pública foi realizada sobre o tema na semana passada, já às portas da 12a Rodada de Licitações, que acontece nos dias 28 e 29 deste mês e que concederá 240 blocos de gás em 12 Estados. A audiência discutiu uma minuta de resolução da ANP estabelecendo regras para o uso do fracking para salvaguardar os recursos hídricos na exploração desses reservatórios não convencionais. ONGs como o Instituto Socioambiental manifestaram sua oposição ao movimento, pedindo moratória ao fracking no Brasil.

Como tudo mais que envolve energia neste país, a 12a Rodada acontece sem que as decisões importantes tenham sido amadurecidas ou debatidas com a sociedade pela energocracia estatal, e sem que ninguém além de meia-dúzia de engenheiros do governo e o pessoal da indústria tenha muita informação sobre riscos e benefícios. Como resultado, a discussão vira um fla-flu no qual os ambientalistas são acusados de ignorância, luddismo ou sectarismo só por quererem um aprofundamento nas informações que é incompatível com os calendários de licenciamento fixados por esses mesmos engenheiros do governo. Os ambientalistas e o Ministério Público, por sua vez, podem de fato exagerar na reação. Todos perdem.

Para entender o que está em jogo, é preciso entender primeiro what the frack são esses depósitos não convencionais. Vamos lá:

O gás natural (CH4) normalmente ocorre em bolsões em carbonatos, um tipo de rocha sedimentar. Como o petróleo, ele é formado por coisas mortas cozidas durante milhões de anos em condições ideiais de pressão e temperatura no fundo da terra. Ai, o gás migra para os carbonatos que são rochas bastante porosas, até que alguém dê a sorte de furá-los. Algumas dessas rochas são tão grandes e porosas que produzem gás por décadas. É assim no Qatar, na Rússia, no Mar do Norte e na nossa vizinha Bolívia.

Acontece que existem outros tipos de rocha sedimentar nos quais a decomposição de coisas mortas produziu gás e petróleo. Um deles é o folhelho, que os anglo-saxões chamam de “shale” ou “mudstone”, exatamente pelo fato de ser formado por lama rica em matéria orgânica depositada continuamente em fundos de rios ou lagos. Desde o século 19 os geólogos sabem que muitos folhelhos contêm hidrocarbonetos. Como o folhelho também é um dos tipos mais comuns de rocha sedimentar, vários países do mundo estão montados em várias Arábias Sauditas em óleo e gás de folhelho (assim como a bacia sedimentar do Paraná). Isso se alguém pelo menos conseguisse extraí-los: em vez de acumular-se em bolsões gigantes, os preciosos hidrocarbonetos do folhelho, o “shale oil” e o “shale gas”, ficam presos em fendinhas minúsculas na rocha. Sempre foram, por isso, economicamente inviáveis. Alguns deles até tem cheiro de óleo, folhelhos são na verdade petróleo que passou do ponto.

Em 1999, um persistente geólogo americano chamado George Mitchell descobriu o segredo do folhelho e fez os depósitos dessa rocha falarem. Ele uniu duas técnicas, o fraturamento hidráulico de alto volume (o tal “fracking”) e a perfuração de longos poços horizontais, para arrancar o gás na porrada. A receita é mais ou menos simples: primeiro, perfura-se o poço vertical até atingir a camada de folhelho com gás. Depois, perfura-se horizontalmente, ao longo da rocha, túneis que chegam a quilômetros de comprimento. Aí vem a mágica: injeta-se no poço, a altíssima pressão, uma mistura de 1 milhão de litros d’água, areia e um coquetel de químicos surfactantes. Essa sopa quebra toda a rocha ao longo do poço, permitindo que o gás aprisionado nas fendas vaze no sentido da menor pressão – para dentro do poço e para fora.

O “fracking” começou a ser usado em larga escala nos folhelhos da formação Marcellus, no nordeste dos Estados Unidos, em 2004. A técnica fez tanto sucesso que o preço do gás caiu nos EUA de US$ 14 o milhão de BTUs em 2005 para US$ 1,90 em 2011. A Pensilvânia tornou-se um dos maiores produtores de gás do planeta. Hoje os americanos preparam-se para exportar gás natural. E não é só isso: o fracking vem sendo aplicado com sucesso a folhelhos que contêm óleo também. No ano passado, a Agência Internacional de Energia afirmou que o shale oil transformará os EUA no maior produtor de petróleo do mundo em 2035. De quebra, os EUA reduziram sua dependência de carvão e suas emissões de CO2 caíram em 2011 pela primeira vez desde os anos 1990. O panorama energético global foi transformado pela teimosia de George Mitchell.

Mas é claro que não existe almoço grátis. A maior porção do folhelho Marcellus fica no interior do Estado de Nova York, contíguo à Pensilvânia. Também ali ficam as montanhas Catskills, que abrigam os mananciais que abastecem a cidade de Nova York. O governo de Nova York impôs, em nome da sua água, uma moratória à exploração de shale gas no Estado.

Mas as coisas não param por aí: no fim da década passada, um caso de contaminação grave aconteceu no distrito de Dimock, na Pensilvânia, onde poços artesianos explodiram, torneiras abertas pegaram fogo e alguns residentes perderam suas casas, já que sua água ficou imprestável. Isso porque, no meio do caminho entre o folhelho e a cabeça dos poços, havia um lençol freático. Um trabalho nas coxas de perfuração fez com que o mix de químicos, água e gás metano vazasse para dentro do aquífero. A história é contada no belo livro Under the Surface, do jornalista americano Tom Wilber, e no documentário Gasland.

Um conhecido esteve em Dimock no ano passado e conversou com alguns moradores. A maioria não foi afetada pelo vazamento, ganha royalties pelos poços em sua propriedade e o impacto visual é francamente pequeno. O pessoal está bastante satisfeito. Claro, há vários estudos mostrando que o impacto do shale gas sobre o clima no curto prazo pode ser mais grave que o do carvão, mas hoje em dia ninguém está nem aí para esses detalhes, certo? O que o Brasil está esperando, então? Provavelmente foi esse o raciocínio da ANP.

A figura abaixo mostra qual é o problema. Ela é meio arcana, mas acho que dá para entender: trata-se de uma estratigrafia da bacia sedimentar do Paraná.

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Há quase 300 milhões de anos, grande parte da região que hoje vai da Argentina e Uruguai ao Mato Grosso e Goiás estava tomada por mares rasos cheios de lama. O fundo desses mares viraram o folhelho Irati, a camadinha fininha de rocha que você vê na segunda coluna de “litoestratigrafia”. Segundo Alexandre Szklo, da Coppe-URFJ, os folhelhos da bacia do Paraná podem conter 60 vezes mais gás do que todas as reservas brasileiras conhecidas hoje. Aliás, meus primeiros reconhecimentos geológicos aconteceram nessa formação, a primeira vez que eu vi um folhelho na vida foi o Irati!

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Formação Irati. As partes escuras são o famoso folhelho. Foto: Alexandre Perinotto.

No Jurássico, há 160 milhões de anos, toda aquela região virou um grande deserto. Isso explica por que não temos quase nenhum fóssil de dinossauro daquela época no Brasil. E explica também o aquífero Guarani, formado pelas rochas porosas do arenito Botucatu, remanescentes daquele deserto. Na maioria dos locais, para chegar aos 70 metros do Irati é preciso furar através dos 450 metros do Botucatu. É fácil imaginar problemas no caminho.

Um amigo geólogo especialista na bacia do Paraná me diz que não há problemas ambientais, necessariamente. Ele lembra, por exemplo, que a Petrobras explora há anos no sul do Paraná o petróleo do folhelho Irati, o tal “oil shale” (não confundir com “shale oil”), no qual a rocha é moída e cozida até separar o hidrocarboneto. Naquela região, porém, o folhelho está mais próximo da superfície e o que acontece lá nada tem a ver com o fracking e sim uma mineração desses folhelhos. É assim nos blocos concedidos no oeste paranaense? Provavelmente não.

É um caso complexo de decisão, que faz invocar o princípio da precaução, sempre desprezado pela indústria e algumas vezes abusado pelo ambientalismo e pelos ministérios públicos da vida. A probabilidade de dano pode ser mínima, mas o impacto seria tão grave que é caso de parar para discutir. Para o Brasil, o pior cenário seria ter Dimock em proporções continentais sem gozar da bonança econômica do gás. No Brasil, o pior cenário é o que costuma acontecer. Não acho que o país possa ou deva dizer não ao fracking, mas um pouco mais de estudos, precaução e canja de galinha não faz mal a ninguém. E de verdade, entre gás e água eu sempre vou ficar com a água por uma questão de sobrevivência. Pra mim não faz sentido vender gás para comprar água limpa importada.

Turismo sustentável

Qual a diferença desse post para o que eu escrevi alguns meses atrás intitulado Turismo Verde? Apesar de nomes bastante parecidos eles não tem muito a ver pois esse é para mostrar uma iniciativa muito legal para ajudar a melhorar o turismo sustentável no país. Primeiramente quero apresentar a Garupa. A Garupa nada mais é do que uma plataforma de crownfunding, nada mais que isso, mas tem um tema específico, o turismo sustentável, como funciona? Lá você encontra vários projetos de turismo sustentável, como por exemplo curso de inglês para a comunidade que cuida de uma pousada na Amazônia para dar mais autonomia aos locais na gestão da pousada, apoiar um restaurante de comida caseira e caiçara no caminho para a Estação Ecológica da Jureia ou ainda a reforma do Centro de Visitantes da Associação Mico-Leão-Dourado (http://www.micoleao.org.br), para criar uma exposição com mapas, imagens, vídeos e textos informativos que acrescentem à experiência e à educação ambiental do visitante.

Além de conhecer projetos bem legais tomei contato com alguns destinos turísticos no Brasil bem no estilo sustentável de ser, com produção e empoderamento das pessoas locais. É muito empolgante.

E toda vez que eu descubro uma iniciativa legal dessas escolho um projeto para adotar e dessa vez escolhi o projeto da Pousada Uacari de contratar um professor de inglês durante um ano para a comunidade que cuida da pousada, veja mais detalhes no video a seguir:

Fiquei morrendo de vontade de conhecer essa pousada, o site deles é http://pousadauacari.com.br/ . Já tô aqui pensando em vários possíveis roteiros… Smile Que tal colaborar com desenvolvimento de turismo sustentável no Brasil? Agora não tem mais desculpa de não saber como!

Relato da Lucia Malla e do Gabriel Britto que já estiveram lá na Pousada!

A beleza da estatística

Um dos meus passatempos favoritos é escolher aleatoriamente alguma apresentação do TED para assistir, sempre tenho gratas surpresas e dessa vez não foi diferente. Sou péssima para nomes e só lá pela metade da apresentação me dei conta que já tinha visto um video desse Sr. sueco sobre estatísica, Hans Rosling, não é a toa que na descrição do perfil dele do TED fala “nas mãos de Hans os dados cantam”. Não duvide.

Eu sei que um video de 15 minutos é muito tempo, mas vale muito a pena ver esse pois fala de várias coisas que tenho pensado em escrever aqui e achei tudo resumido nesse video.

  • África não é um país, é um continente, parem de generalizá-la como se fosse tudo uma coisa só.
  • Educação de meninas é de extrema importância para um mundo melhor, empoderar as mulheres só vai trazer vantagens para o mundo, a maior delas: controle de natalidade!
  • Controle populacional tem que deixar de ser tabu, alguma coisa tem que ser feita a respeito e urgente, o planeta Terra não comporta tanta gente consumindo e querendo ter vidas de alto padrão.

Apesar do principal tema desse video ser estatísitica não tem como não se empolgar, o Sr. Hans é ótimo! E ver que os dados de mortalidade infantil estão melhorando no mundo é bom para ter um pouco mais de esperança no mundo. Winking smile