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Greenwashing urbanístico

No meu passado como servidora pública paulistana, sim em trabalhei no executivo e legislativo da capital paulistana em 2 momentos distintos, parques lineares foram assunto quando se falava de solução para córregos da cidade. Sinceramente não tenho bem certeza de como isso foi levado pra frente pela Prefeitura. Existiam vários projetos, não sei se todos se tornaram realidade e dos que foram pra frente quais ainda sobrevivem hoje. É, sofremos desse mal na gestão pública, alguns projetos são abandonados ao longo do caminho (pelos mais diversos motivos) ou simplesmente não saem do papel.

Mas o que me faz escrever esse post é o “caso de sucesso” que ouvia naquela época. Era um córrego no centro de Seul, na Coreia do Sul, que foi canalizado e coberto no passado e construído um viaduto elevado, tipo o minhocão em São Paulo ou a falecida perimetral no Rio de Janeiro. Esse rio corta a cidade leste-oeste passando pelo centro e tem 8,4km de extensão no total. Esse rio chama-se Cheonggyecheon. Você pode dar um passeio por ele nesse vídeo aqui abaixo:

A obra foi iniciada em 2003 e foi entregue em 2005. Gastou-se na época algo em torno de US$280 milhões.

Confesso que fiquei maravilhada com o resultado, mas não se iludam, isso tudo é apenas um cenário construído que custa por ano mais de US$7 bilhões de dólares em manutenção (dados de 2010). Apenas os 5,8km finais do rio Cheonggyecheon foi restaurado, o trecho inicial continua fechado e serve de esgoto. A água que corre nesse canal vem de outro rio, o Han, são bombeadas sem parar 120.000 toneladas de água diariamente. Ou seja o que vemos nada mais é que um cenário fabricado. O artigo do professor Myung-Rae Cho, da Universidade de Dankook : The politics of urban nature restoration -The case of Cheonggyecheon restoration in Seoul, Korea, de onde eu tirei essas informações aponta todos os problemas da obra e diz ainda que ela foi uma obra política com o intuito de eleger o então prefeito da cidade como presidente da Coreia do Sul 2 anos depois da entrega.

Podemos chamar essa obra de um greenwashing urbanístico? O professor Myung-Rae Cho chama o local de parque público decorado com o tema natureza. No projeto, a restauração ecológica não foi levada em conta, apenas aspectos de engenharia. O que se tem ali é uma obra de engenharia para evitar problemas de inundação com um projeto paisagístico de natureza. É melhor do que era antes? Veja algumas fotos:

Esse é uma daquelas soluções que eu diria que odeio amar. Num dá pra dizer que ficou ruim, melhorou a paisagem milhões de vezes, porém não foi escolhida a melhor solução pensando em longo prazo e uma restauração ecológica verdadeira. Só o fato de bombear água de outro rio para passar por esse canal, assim, indefinitivamente já era motivo suficiente para terem pensado melhor a solução, isso não faz nenhum sentido do ponto de vista ambiental, na minha opinião chega ser meio estúpido, ainda mais por ser uma solução de obra pública.

E qual o sentido de restaurar uma parte do rio e largar o trecho inicial como antes? Não dá pra dizer que a razão principal dessa obra era o meio ambiente. Dá pra sentir ai uma vontade maior de parecer verde e ambientalmente correto do que de fato ser. Infelizmente não são só as empresas que sofrem desse mal…

Muitas outras questões sociais também entram na conta dessa obra coreana, como a especulação imobiliária, a gentrificação da região, o esquecimento cultural que ela provocou, etc. Só mais um exemplo do ser humano fazendo “humanice” no planeta.

Mas como eu não sou coreana vou achar tudo lindo se um dia for passear lá! hehehe

Odebrecht, mostra a tua cara

Provavelmente eu devo ser a única pessoa que acompanha esse blog desde seu início e portanto as 2 pessoas que passam por esse blog as vezes não devem saber que em 2008 eu tive um problema com a Odebrecht. Bom, vale a pena contar o acontecido, é o case desse blog inclusive! hahaha

Odebrecht Ambiental - Companhia Siderurgica do Atlantico - CSA, Santa Cruz, Rio de Janeiro

No segundo semestre de 2007 a Revista Ideia Sustentável publicou um artigo falando sobre líderes da Sustentabilidade e entre os entrevistados estava Norberto Odebrecht, pouco antes de ler a revista um amigo de faculdade tinha me contado da experiência dele pouco agradável de trabalhar em uma obra na República Dominicana, a obra era gerenciada por quem? Pela Odebrecht! Ai, eu escrevi um email para o editor da revista contando dos absurdos vividos pelo meu amigo naquela obra, recebi um email do editor dizendo que iria entrar em contato com a empresa. 3 meses se passaram e por algum motivo não recebi nenhuma resposta, então resolvi publicar no blog o email trocado com o editor. Pronto, meu inferno começou alguns dias depois…

Primeiro foi o editor me mandando um mail dizendo que sim, tinha me respondido, ai publiquei a resposta aqui. Tudo parecia “resolvido”, pois além de ter uma resposta “oficial” da emrpesa, eles ficaram de investigar e blablabla. Só que 3 dias depois uma outra pessoa também da comunicação da empresa me mandou e mail “ameaçador” falando de um site chamado Ambiente Já e uma resposta um tanto quanto grosseira publicada naquele site com relação às minhas denúncias. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo! Nem que raios de site era aquele. Resumo da ópera, o tal Ambiente Já tinha publicado o meu post no site deles sem que eu soubesse, essa pessoa da empresa leu meu relato, não gostou, mandou uma resposta para o site e mandou para mim via email com ameaças nas entrelinhas. Na época eu fiquei bem chateada e de saco cheio com tudo, dei a coisa toda como encerrada e de fato foi o que aconteceu, a empresa nunca mais entrou em contato comigo para dar qualquer satisfação (uma estratégia acertada, afinal, quem é essa blogueira na fila do pão?). Mas pessoalmente eu e meu amigo tivemos uma vitória (ainda que minúscula) que eu nunca contei aqui no blog porque essa história já tinha me esgotado muito. Logo depois da recuperação do meu amigo ele acabou voltando para República Dominicana para uma outra empreiteira que também prestava serviços para a Odebrecht e a publicação do post sobre a história dele e todo o bafafá que ele gerou aconteceu quando ele estava lá, mas numa outra obra. Eis que um belo dia o diretor geral das obras da Odebrecht da República Dominicana manda chamar meu amigo para uma conversa em Santo Domingo (capital do país), ele sem entender nada foi, chegou lá e qual a foi surpresa de saber qual era a pauta? A publicação no meu blog! No fim meu amigo ficou muito contente em saber que meu bloguinho de alguma forma incomodou uma das maiores construtoras do mundo e no mínimo deixou-os com a pulga atrás da orelha sobre para quantas outras Claudias os funcionários deles podem contar histórias como aquelas.

Eu sei que provavelmente devo estar na lista de persona non grata da Odebrecht, em 2013 eles convidaram vários blogueiros para a entrega do Prêmio Odebrecht para o desenvolvimento sustentável e obviamente não me chamaram! hihihi

Mas o motivo desse post não é só relembrar esse case, mas pra dizer que eu não deveria ser tão mentirosa assim em 2008 já que em 2015 o Grupo Odebrecht é condenado a pagar R$50 milhões por trabalho escravo em obras em Angola. E dessa vez, querida Odebrecht não é uma blogueira maluca ambientalista quem está dizendo, nem o amigo dela, é o Ministério Público mesmo.

Acho que todo esse post e o meu “relacionamento” com a referida empresa dispensa quaisquer comentários sobre o envolvimento da construtora na Operação Lava-jato da Polícia Federal, né?

A casa

Fui conhecer uma casa com vários conceitos sustentáveis em sua construção. Na verdade acho que todos esses conceitos poderiam ser pensados para todas as casas hoje em dia. Coisas como aquecimento solar, reaproveitamento de água de chuva, telhado verde, aproveitamento de energia solar, ventilação cruzada e iluminação natural não são coisas impossíveis de ser parte de uma rotina na hora de pensar uma nova construção, assim como banheiro, cozinha e a churrasqueira. Por que coisas como closets, ofurôs e cozinha gourmet que até bem pouco tempo não existia nas casas, hoje em dia é super comum? Por que conceitos estéticos viram “moda” e ecoeficiência não? Quando eu percebo esse tipo de coisa eu vejo que eu devo mesmo ser a minoria da minoria das pessoas preocupadas em ter um apoveitamento mais inteligente dos recursos naturais do planeta.

O próprio engenheiro e dono da casa diz que não tem nada de difícil e muito novo no que ele fez, são tecnologias perfeitamente acessíveis, basta querer implementar. Ah, mas é caro por isso que as pessoas não fazem. Bom, fazer um ofurô, uma piscina, um closet também não é barato, então, como sempre, tudo é uma questão de escolha e prioridade.

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Fachada da casa

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Fundos da casa

Saiba mais sobre essa casa que fica aqui em São José dos Campos: http://goo.gl/iBAxxd e http://goo.gl/GjqHbJ.

Sim, essa é uma casa num condomínio de luxo e precisamos fazer esses conceitos de eficiência nas moradias e nas construções chegarem também em casas mais simples e populares, mas enquanto o povão acreditar que copiar os ricos que é legal e os ricos não resolverem mudar o conceito, vai ficar dificil…

Amazônia Pública – Tapajós

Acabei de ler um livro chamado Como mudar o mundo, e vou precisar muito da ajuda dele para não me sentir a pessoa mais impotente do universo depois de ler a última série de reportagens da Agência Pública sobre a Amazônia.

A única região da Amazônia que eu conheci é o oeste do Pará, às margens do Rio Tapajós, numa visita patrocinada pela Vivo e a Ericsson para acompanhar a inauguração da primeira torre de dados da região. E pensar que toda a beleza daquele local pode estar comprometida me deixa bem triste. Nada mais, nada menos que um complexo hidrelétrico com 7 represas estão programadas para o local, esse é um dos aspectos levantados nessa terceira semana de reportagens, essa semana sobre o Rio Tapajós.

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Rio Tapajós. Foto: Fernanda Ligabue.

Tudo que essas reportagens contaram só mostra o jeito capitalista de desenvolvimento, o jeito capitalista de crescer e o jeito capitalista de ser dos governos. É errado? Bom, não tenho achado que seja o melhor caminho, mas parece que é o melhor que a humanidade tem conseguido. E como faz para mudar isso? Como faz para fazer realmente diferente em que todos saiam perdendo o menos possível? E rápido por que não adianta nada pensar que poderia ter sido diferente depois do estrago feito.

Eu sei que lendo essas reportagens me senti muito impotente… Chega a ser desanimador, o que será que se pode fazer e não deixar a Amazônia virar um canteiro de obras?

Amazônia Pública – Rio Madeira

Semana passada a Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo iniciou uma série sobre a Amazônia, Carajás e a exploração do ferro foi o primeiro tema. Essa semana o tema são as usinas hidrelétrica que estão em construção ao longo do rio Madeira, Jirau e Santo Antônio.

Ano passado conheci um colega geólogo que esteve a trabalho nas 2 obras e as histórias contadas por ele eram verdadeiros shows de horrores, praticamente tudo que as reportagens dessa semana contam de alguma forma esse meu colega também citou. E assim como em Carajás o problema social causado é, na minha opinião, o pior e o mais difícil de resolver.

2012 / Marcelo Min / Fotogarrafa / UHE JIrau
Usina hidrelétrica de Jirau. Foto Marcelo Min.

Segundo esse meu colega não eram todas as empresas que tratavam mal seus funcionários ou não davam condições adequadas de trabalho, algumas empreiteiras da obra tinham lista de espera de funcionários pois nelas as pessoas sabiam que seria bem tratadas. Mas provavelmente essas empresas devem ser excessões.

Só eu fico assustada quando ouço ou leio as histórias dessas obras? E não falo apenas dos maus tratos dos trabalhadores, da destruição de vilarejos e vidas de pessoas, mas será que as se tem ideia do impacto que é uma espécie de peixe sumir de um ecossistema? Como podemos deixar isso acontecer em pleno 2012? Bom, se o mundo acabar tá tudo resolvido, mas e se não acabar?

As perguntas que ficam (afinal, eu nunca tenho respostas só mais perguntas) hidrelétricas geram mesmo energia limpa? A gente ignora todo o impacto causado na construção e tudo bem? Ok, ok, precisamos de energia, mas será que não dá pra fazer de um jeito melhor? Quero acreditar que essas obras também teve gente da região impactada positivamente e não apenas financeiramente…