Novas Perspectivas no Tratamento Intra-Articular da Osteoartrite do Joelho
A osteoartrite (OA) do joelho é uma condição crônica e debilitante que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Ela causa desgaste na cartilagem articular e afeta o funcionamento do joelho, resultando em dor, rigidez e limitação dos movimentos. Embora muitos conheçam a OA como uma doença de “desgaste”, sabemos hoje que fatores genéticos, metabólicos, inflamatórios e mecânicos também estão envolvidos em sua progressão.
Uma das formas mais utilizadas para o alívio da dor causada pela OA é a aplicação de medicamentos diretamente na articulação do joelho – o chamado tratamento intra-articular. Este método permite uma ação mais localizada, reduzindo os efeitos colaterais em outras partes do corpo. No entanto, a eficácia desses tratamentos ainda é alvo de debate na comunidade científica.
Tratamentos Intra-Articulares Tradicionais
Os tratamentos intra-articulares mais utilizados para a osteoartrite do joelho são as injeções de corticosteroides e de ácido hialurônico (AH). Enquanto os corticosteroides oferecem alívio rápido da dor por sua ação anti-inflamatória, seu uso frequente pode causar efeitos colaterais indesejáveis, como degradação da cartilagem. Por isso, o ácido hialurônico tem ganhado atenção como uma alternativa com potencial terapêutico mais amplo e duradouro.
O ácido hialurônico é uma substância naturalmente presente no líquido sinovial das articulações saudáveis. Sua função mais conhecida é a de lubrificar e amortecer os impactos dentro do joelho, facilitando o movimento articular. No entanto, estudos mais recentes demonstram que seus efeitos vão além da lubrificação. O AH também modula a inflamação, protege as células da cartilagem contra o estresse oxidativo, inibe enzimas que degradam a matriz cartilaginosa e pode até estimular a produção natural de mais ácido hialurônico pela articulação.
Outro aspecto importante é que nem todos os produtos com ácido hialurônico são iguais. Eles diferem quanto ao peso molecular (baixo, médio ou alto), à concentração da substância, à origem (animal ou biofermentativa), ao número de aplicações necessárias e à presença de aditivos, como o sorbitol.
•AH de baixo peso molecular (até 1.000 kDa) tende a ter maior penetração nos tecidos, mas é eliminado mais rapidamente da articulação.
•AH de alto peso molecular (acima de 1.500 kDa) permanece por mais tempo no joelho, proporciona maior viscosidade e pode ter efeito mais prolongado na redução da dor.
•Formulações com AH estabilizado com sorbitol ou manitol apresentam maior resistência à degradação oxidativa, o que pode prolongar o efeito do tratamento.
•A concentração do ácido hialurônico também influencia o resultado. Concentrações mais elevadas tendem a promover melhores efeitos mecânicos e biológicos, embora possam estar associadas a maior incidência de desconforto após a injeção.
Apesar das evidências conflitantes em relação à sua eficácia clínica, muitos especialistas consideram o ácido hialurônico uma opção segura e razoável para pacientes que não respondem bem a analgésicos e fisioterapia, especialmente quando se opta por formulações modernas e com características avançadas.
Novas Abordagens em Estudo
Nos últimos anos, a medicina tem buscado novas alternativas para tratar a osteoartrite, especialmente com foco em terapias biológicas e celulares. Entre as novidades estão:
•Plasma Rico em Plaquetas (PRP): derivado do próprio sangue do paciente, o PRP contém fatores de crescimento que podem auxiliar na regeneração dos tecidos. Embora promissor, no Brasil seu uso ainda é proibido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), embora muitas entidades médicas, tais como a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) defendam a sua liberação com normas específicas.
•Concentrado de Medula Óssea (BMAC) e Injeções de gordura (adiposa): também usam células do próprio corpo do paciente, com a esperança de estimular a regeneração da cartilagem. No entanto, a quantidade real de células com potencial regenerativo é pequena.
•Células-tronco (mesenquimais): alvo de grande interesse e marketing, essas células são estudadas pela sua capacidade de modular inflamações e regenerar tecidos. Contudo, o uso clínico seguro e eficaz ainda está em investigação, e muitas clínicas oferecem essas terapias antes que estejam plenamente validadas.
O Futuro: Terapias em Desenvolvimento
Diversos tratamentos inovadores estão sendo testados nos Estados Unidos, incluindo medicamentos com ação prolongada, inibidores de vias inflamatórias específicas, e até terapias genéticas. Alguns exemplos incluem:
•SM04690: uma molécula que tenta interromper a destruição da cartilagem;
•Sprifermin (rhFGF18): fator de crescimento que demonstrou aumento na espessura da cartilagem em alguns pacientes;
•CNTX-4975 (capsaicina purificada): atua no controle da dor sem os efeitos negativos dos corticosteroides;
•TissueGene C (Invossa): mistura de células modificadas para liberar substâncias regenerativas diretamente no joelho.
Apesar dessas inovações, é importante lembrar que a maioria dessas terapias ainda está em fase de testes clínicos e não estão amplamente disponíveis.
Considerações Finais
O tratamento intra-articular da osteoartrite do joelho está em constante evolução. Embora os métodos tradicionais ainda sejam os mais usados, sua eficácia é limitada e muitas vezes influenciada pelo efeito placebo. As terapias biológicas e celulares trazem esperança, mas ainda precisam de mais evidências antes de serem adotadas amplamente.
É essencial que pacientes e profissionais de saúde tomem decisões baseadas em evidências científicas, considerando os benefícios reais, os riscos envolvidos e os custos associados. Com o avanço das pesquisas, espera-se que novas opções mais seguras e eficazes estejam disponíveis nos próximos anos.
Bibliografia:
Jones IA, Togashi R, Wilson ML, Heckmann N, Vangsness CT Jr. Intra-articular treatment options for knee osteoarthritis. Nat Rev Rheumatol. 2019 Feb;15(2):77–90. doi:10.1038/s41584-018-0123-4.