>É Agora ou Nunca

>No início de dezembro, líderes de todo o mundo se encontram em Copenhague para buscar ações conjuntas e evitar o pior das mudanças climáticas. Mas o choque de interesses pode ser fatal para o encontro.

Copenhague, 7 de dezembro de 2009. Local e data marcados para o encontro que vai decidir os rumos e o destino de toda a humanidade. Entretanto, a COP-15 (15ª. Conferência entre as Partes sobre Mudanças Climáticas promovida pela ONU) pode sucumbir aos interesses econômicos e às divergências políticas.
Dentre os participantes há países pequenos e altamente vulneráveis, como as Ilhas Maldivas. Junto com Tonga e outras nações insulares, as Maldivas seriam as primeiras a desaparecer com a elevação do nível do mar causada pelo degelo das calotas polares. Por isso mesmo, esses países insulares estão desesperados e buscam convencer os demais. Para esses pequenos países cercados – e agora ameaçados – de água por todos os lados, a urgência das ações deve superar fatores políticos e econômicos. Os países árabes, que já sofrem com sua limitada oferta de água potável, também querem menos discursos e mais ações diretas e efetivas a partir de Copenhague.
Dentro desses países, porém, há um conflito de interesses muito claro: os que têm maior peso na política internacional, como a Arábia Saudita, a Líbia, a Argélia e o Irã são também produtores de petróleo que podem ter suas economias prejudicadas com metas de corte de CO2 mais duras. Também estão preocupados com suas economias os chamados emergentes, principalmente a China e a Índia.
Os chineses são conservadores e defendem a manutenção das metas estabelecidas em 1997 no Protocolo de Kyoto. Os indianos são mais radicais e alegam que os países desenvolvidos – que poluíram por mais tempo – devem ter metas mais rígidas e arcar com os maiores custos. Embora sejam grandes poluidores, China e Índia têm a seu favor o baixo índice de emissão per capita graças a dois fatores: populações que já superaram a barreira do bilhão de indivíduos e uma péssima distribuição de riqueza que permite que veículos tracionados por força animal ou mesmo humana convivam com enormes usinas elétricas movidas a carvão.

Yes? We? Can?

Outro grande poluidor, os Estados Unidos, pode melar a COP-15 com sua política interna. Mesmo com a sensibilidade de Obama em relação aos assuntos ambientais, o plano de metas para a redução das emissões americanas está emperrado no Senado. Há quem defenda a extensão das negociações na capital dinamarquesa em três ou até seis meses.
Outro motivo de preocupação para os líderes da COP-15 é que organizações não-governamentais de todo o mundo também vão a Copenhague, mas participam apenas como observadores. Suas propostas poderão ser apresentadas por escrito, mas não serão obrigatoriamente acatadas ou mesmo debatidas. A situação delicada da COP-15 alarmou as ONGs e os países mais frágeis, pois é sério o risco de esvaziamento da Convenção de Copenhague, mesmo com a presença de gente do naipe de Obama e Lula.
O presidente brasileiro, aliás, está fazendo um grande esforço internacional para salvar Copenhague. Ao lado de França, Inglaterra e países africanos, o Brasil defende que as metas voluntárias tenham força de lei. Apesar do descompasso entre o Ministério do Meio Ambiente de Carlos Minc e a Casa Civil da presidenciável Dilma Rousseff, o país conseguiu definir uma das maiores metas até agora: até 39% de redução de emissões até 2020. Um exemplo.

Tic, tac, tic…

Segundo estudos científicos divulgados no último IPCC (Painel Governamental de Mudanças Climáticas) em 2007, o máximo valor de CO2 na atmosfera para manter o clima sob algum controle é de 350ppm (partes por milhão). Entretanto, os dados colhidos indicam uma concentração que não só já passou do aceitável como continua subindo: 387ppm e crescendo a um ritmo de 2ppm por ano. Para reverter esse quadro, seria preciso diminuir, até 2020, as emissões de 25 a 40% do que eram em 1990.
Para pressionar a adoção de metas, ONGs, blogueiros e cidadãos do mundo inteiro uniram-se no movimento Tic, tic, tic, tic – hora de justiça climática. Como o próprio nome já indica, as ONGs acreditam que o tempo para agir está se esgotando – afinal, 2020 é logo ali – e desejam que haja uma divisão justa de responsabilidades, embora isso não deva ser desculpa para prolongar ou adiar a adoção de metas.
Ao contrário do que muita gente pensa, Copenhague não vai substituir Kyoto. Mas o protocolo firmado na cidade japonesa já está quase na data de validade. O acordo tomava 2012 como data-limite para a redução de emissões de gases estufa aos níveis de 1990. Grandes poluidores como China e Rússia levaram anos para ratificar o Protocolo de Kyoto. Os norte-americanos, sob o governo Bush, nem isso fizeram. Embora a 5ª. Conferência entre as Partes de Kyoto ocorra em paralelo à COP-15 em Copenhague, não há muito mais o que fazer em relação às metas protocolares por falta de tempo hábil para as mudanças.
A expectativa do mundo inteiro é que o mesmo não se repita com Copenhague. É agora ou nunca.

Para saber mais

  • COP-15.dk– site oficial do evento tem versões em 7 línguas, mas deixou o português de fora.
  • tictictictic.org – infos sobre o movimento, que já conta com a adesão de centenas de ONGs e mais de 9 milhões de pessoas do mundo todo. Participe!
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