>Em memória do videocassete

VCR

O artigo que segue é a tradução de um excelente texto publicado no Retrothing que mostra como a morte do videocassete — algo tão desejado pelas redes de TV e distribuidoras de cinema — acabou levando à queda de audiência generalizada e ao declínio do poder (mas não da arrogância) das grandes empresas de mídia.

Eu sinto saudades do meu VCR [Gravador Videocassete]. Ele ainda está lá, debaixo da TV da sala, mas só foi usado uma vez este ano. O motivo é simples — ele não grava os modernos sinais em Alta Definição, o que o torna absolutamente inútil. Como pai de uma criança pequena eu costumava gravar bastante.
Eu sei que poderia comprar um TiVo, mas estou relutante em assinar por mais um serviço com pagamento mensal. E os gravadores de Blu-ray ainda não pegaram, graças aos milhares de dólares em suas etiquetas de preço. Isso me deixa com poucas opções (e não, eu não quero a “diversão” de manter e consertar um media center [computador ligado a um home theather] que teria que trabalhar impecavelmente para manter minha família feliz).
A solução aqui em casa foi bastante simples. Desde que não podemos mais gravar, passamos a deixar de assistir alguns episódios. E, algum tempo depois, nos pegamos passando sem programas inteiros. Chegamos ao ponto em que percebemos, logo após o Natal, que nós já não assistíamos mais TV nenhuma. Daí nós cancelamos nosso serviço por satélite.
As companhias de mídia finalmente conseguiram remover o botão REC da sala de visitas, algo que elas perseguiam desde a aurora da gravação doméstica. Elas estão muito felizes em oferecer uma grade à la carte a preços exorbitantes — honestamente, quem, em sã consciência, acredita que um simples episódio de House com 40 minutos de duração vale US$ 3,49 [pouco mais de R$ 6,00]? Eu peguei um punhado de episódios no iTunes, mas é muito caro fazer isso regularmente.
Então nós passamos sem nada. Ao dificultar a gravação de shows, as grandes redes de TV aberta e a cabo transformaram seus produtos em algo tão inoportuno e tão caro que as pessoas simplesmente estão procurando entretenimento alhures.
Ex-telespectadores estão se aventurando em cinemas 3D, visitando feiras de ciências, aprendendo novos hobbies, explorando sites como esse aqui e passando mais tempo descobrindo bandas estranhas no You Tube.
Ironicamente, os impérios midiáticos são orgulhosos demais para perceber o que fizeram. Eles botam a culpa da queda da audiência na pirataria e na infração dos direitos autorais, não em seus próprios equívocos. Agora, com licença, eu vou me divertir num passeio de bike
O artigo se aplica muitíssimo bem à realidade brasileira, exceto pelas alternativas como o cinema 3D e as feiras de ciências, praticamente inexistentes no país.
Se gravadores de Blu-ray e home-theathers já são caros por lá, imagine por aqui, onde ainda há  milhões de brasileiros analfabetos analógicos e digitais, que não têm alternativa ao humor do Zorra Total, por exemplo. A coisa piora se levarmos em conta que aqui não temos “canais B” que só passam reprises para quem não viu (ou não pôde ver, muito menos gravar) aquela estréia ou aquele jogo ao vivo.
Aliás, no Brasil as redes de TV nem respeitam os fusos horários. Todas as grades são baseadas no horário de Rio e São Paulo Brasília. Em vez de seguirem as peculiaridades de cada região, inclusive as horárias, as emissoras conseguiram acabar com o fuso horário da Amazônia Ocidental (Acre e leste do Amazonas). E seguem com sucesso as campanhas contra a pirataria num país onde os produtos culturais originais têm um preço altíssimo…
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