>Arte Crítica e os Críticos de Arte

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Será que um artista pode fundar uma escola de arte mesmo sem querer? Em 1924, irritado com a falta de discernimento dos críticos de arte diante de todo aquele hype modernista, o escritor e jornalista norte-americano Paul Jordan-Smith (1885-1971) convenceu-se de que “os críticos louvariam qualquer coisa ininteligível.”
Para provar que estava certo, ele criou o que poderia ser chamado de uma meta-obra-de-arte-crítica. Paul, que jamais havia pintado na vida, pegou umas tintas velhas, uma brocha, uma tela com defeito e, “em poucos minutos espalhei os traços crus de uma selvagem assimétrica segurando o que deveria ser uma estrela-do-mar, mas que saiu como uma casca de banana.” Depois, ele mudou seu penteado, apresentou-se como Pavel Jerdanowitch e mostrou a obra “Exaltation” a um grupo de artistas de Nova York. Pavel dizia fazer parte de uma nova escola, chamada Dessombracionismo.

“Exaltation” (1924): Estrela-do-mar FAIL é hype WIN.

Os críticos adoraram o estilo de Jerdanowitch e acabaram fazendo o que Jordan-Smith menos queria: criaram um hype em cima dele.  O pintor polonês (ou checo? ninguém nem se importou em saber quem era o cara) foi considerado um visionário e o dessombracionismo era uma revolução.

“Jerdanowitch”, ou melhor, Jordan-Smith, expôs a pintura na galeria do Waldorf Astoria. Durante os dois anos seguintes, ele apareceu com pinturas cada vez mais fora do comum, exibidas em Chicago, Boston e Buffalo (a cidade, não o animal), comentadas e elogiadas até nos jornais de arte de Paris:

Um explorador de espírito inquieto, ele [Jerdanowitch] não se contenta com os caminhos pisados. Ele fez alguns belos retratos, depois alguns trabalhos muito estranhos, simbólicos e originais: Exaltation, Illumination, Admiration. Suas composições bastante pessoais, onde o artista representa coisas pela simbolização de sentimentos de seu próprio ponto de vista, o que o põe entre os melhores artistas do avant-garde com uma fórmula que exclui qualquer banalidade.

— L’Art Contemporain: Livre d’Or [A Arte Contemporânea: O Livro de Ouro] (Éditions De La Revue du Vrai et du Beau, Paris, 1927), pp 85-86

Ele acabou confessando a verdade em uma entrevista para o Los Angeles Times em 1927. E parece que o autor estava certo em sua crítica aos críticos. Mesmo depois de revelar a identidade de Jerdanowtch, Paul Jordan-Smith disse que “a maioria dos críticos da América insistia que, como eu já era um escritor e tinha noção de organização, eu tinha uma habilidade artística, mas era ou ignorante ou arrogante demais para admitir”. Depois de enganados, os críticos é que foram ignorantes e arrogantes demais para admitir.

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Em tempo: desde 2006, o Dessombracionismo (ou seria neodissombracionismo?) voltou às telas de pintura em um concurso anual que leva o nome de Pavel Jerdanowitch, mas homenageia Paul Jordan-Smith. Ele deve estar se revirando no túmulo com uma homenagem tão hype.
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