Diz o bom-senso que reagir a um assalto nem sempre é uma boa ideia. No entanto, isso não impede que as pessoas continuem a comprar armas “para garantir a própria segurança”. Ainda mais quando essas pessoas são norte-americanas, que parecem não acreditar na possibilidade de uma população desarmada.
A facilidade de acesso a armas de fogo sempre foi um problema que os americanos não veem. No começo dos anos 1930, o crime estava em alta nas áreas urbanas dos Estados Unidos, em parte pelo tráfico de álcool que se formou após a proibição dessa droga e em parte como consequência da recém-iniciada Grande Depressão. Nada disso impediu que Frederick G. Palla, de Nova York, apresentasse uma “Arma de fogo auto-defensiva” como a solução para o crime:
Um lançador de arma de fogo composto por uma braçadeira flexível, adaptada para abraçar e se conformar aos contornos do antebraço de uma pessoa, um trilho em forma de T apoiado sobre a dita braçadeira, uma guia carregadora de arma de fogo que deslize sobre o dito trilho, meios para lançar a dita arma de fogo até sua posição de operação nas mãos do usuário e meios para travar a dita arma de fogo contra o lançamento acidental.
Fred Palla — que aliás parece nome de mafioso — conseguiu a patente para tal dispositivo em 2 de maio de 1933, sob número 1.906.870. Entre as justificativas, Mr. Palla afirma que seu invento tem “propósitos auto-defensivos”, pois
as estatísticas mostram indisputavelmente que o crime, em geral, está em crescimento gradual. Isso é particularmente verdadeiro nas cidades. Roubos são audaciosamente cometidos em plena luz do dia, não raro ocorrendo em locais congestionados e sob as vistas de muitas pessoas. Os pistoleiros invariavelmente cumprem seus planos com tal velocidade e precisão de modo a tornar extremamente difícil uma interrupção.
Assim, Mr. Palla acredita que, graças ao efeito-surpresa, armas que se movem sobre trilhos escondidos debaixo da manga sejam a perfeita solução, pois trata-se de “um dispositivo extremamente simples e altamente efetivo que pode ser prontamente usado no braço sem detecção e que pode ser instantaneamente posto em posição de operação sem a menor indiscrição.” Não é difícil imaginar o inventor tendo uma epifânia ao observar uma carta na manga durante um jogo de cartas numa obscura cantina de Little Italy.
No mínimo, isso só reforça a impressão de que Palla é um mafioso, cazzo! Será que não lhe passou pela cabeça que tal dispositivo discreto seria o equipamento perfeito para qualquer criminoso (inclusive a máfia)? Numa época em que não haviam detetores de metal nas portas giratórias dos bancos, esse seria um disfarce perfeito para qualquer assaltante. Pior ainda, o pessoal do escritório de patentes americano também não se deu conta de nada disso. Talvez Mr. Palla lhes tenha molhado a mão.
Patentes Patéticas (nº. 106) | hypercubic
[...] as referências citadas na patente americana, os Caldana citam a clássica (e igualmente estilosa) Self-defensive firearm, de Frederick G. Palla. Foi só trocar a arma de fogo dos anos 1930 pelo auge da tecnologia da virada do século — o [...]