Em junho de 1899, o então escritor e jornalista inglês Winston Churchill (1874-1965) escreveu uma carta para o romancista americano Winston Churchill (1871-1947):
Mr. Winston Churchill apresenta seus cumprimentos a Mr. Winston Churchill e implora para chamar sua atenção a uma matéria que preocupa a ambos. Ele soube através de notícias da imprensa que Mr. Winston Churchill se propôs a lançar outra novela, intitulada “Richard Carvel”, a qual é certa de ter uma venda considerável tanto na Inglaterra quanto na América. Mr. Winston Churchill também é autor de uma obra que está agora sendo publicada em forma seriada pela “Macmillan’s Magazine” e pela qual ele antecipa algumas crônicas sobre a Guerra Sudanesa. Ele não tem dúvidas de que Mr. Winston Churchill reconhecerá através desta — se não por outros meios — que há o grave perigo de que suas obras sejam confundidas com aquelas de Mr. Winston Churchill. Ele tem certeza de que Mr. Winston Churchill deseja isso tão pouco quanto ele-mesmo. No futuro, para evitar enganos tanto quanto possível, Mr. Winston Churchill decidiu assinar todas as suas publicações, artigos, estórias e outras obras como “Winston Spencer Churchill” e não “Winston Churchill”, como até agora. Ele acredita que este arranjo recomendar-se-á a Mr. Winston Churchill e ele ousa sugerir, com vistas a prevenir maiores confusões que possam originar-se dessa extraordinária coincidência, que tanto Mr. Winston Churchill quanto Mr. Winston Churchill devam ambos inserir uma breve nota em suas respectivas publicações para explicar ao público quais são os trabalhos de Mr. Winston Churchill e quais os de Mr. Winston Churchill. O texto dessa nota será assunto de futura discussão se Mr. Winston Churchill concordar com a proposta de Mr. Winston Churchill. Ele aproveita essa ocasião para congratular Mr. Winston Churchill pelo estilo e sucesso de suas obras, as quais sempre chamam sua atenção seja na forma de revista ou de livro e ele espera que Mr. Winston Churchill tenha tido igual prazer com quaisquer de suas obras que tenham lhe chamado a atenção.
No fim das contas o rocambolesco pedido de Churchill para Churchill foi desnecessário. Embora Churchill — o Americano — fosse mesmo mais famoso naquela época, seu sucesso não atrapalharia Churchill — o Britânico. Richard Carvel foi mesmo o auge do sucesso do romancista americano, mas depois desse livro, a fama do Americano desandou.
Como o Churchill Britânico, o xará do lado de cá do Atlântico tentou a carreira política. Porém, ao contrário do nobre homônimo bretão, Churchill não teve sucesso na política — talvez por falta de “sangue, suor, lágrimas e trabalho”. Depois de falhar politicamente, o yankee decidiu abandonar tanto a vida pública quanto a literária e, ainda em vida, foi rapidamente esquecido.