Mouses (ou como dizem os lusos, ratos) são aqueles dispositivos de entrada que graças às telas-sensíveis-ao-toque começam a parecer desengonçados (ou não). Mas antes mesmo do indispensável botão de rolagem, do rastreamento a laser ou dos dispositivos sem-fio, já havia gente pensando em aperfeiçoar esses ratos eletrônicos.
Talvez inspirados pelas ideias da convergência de aparelhos, esses inventores tentaram colocar impressoras em mouses. Embora não seja a única, a solução mais “elegante” é o Mouse device with a built-in print [Dispositivo mouse com impressora embutida] proposto pelo japonês Yasushi Murai:
Um aparelho mouse para uso como dispositivo de entrada de um computador dotado com a inclusão de um alojamento no qual se carrega o papel e uma unidade impressora localizada nesse alojamento para imprimir no papel informação recebida do computador. A unidade impressora inclui uma seção de armazenamento de papel, na qual o papel é carregado, um rolo de impressão para alimentar [a impressora com] o papel carregado na seção de armazenamento, uma cabeça de impressão para imprimir no papel alimentado pelo rolo de impressão e uma porta de saída através da qual o papel é liberado após ser impresso, sendo rolado para fora do alojamento a uma substancial altitude vertical.
Haja papel! Apresentada em 2001 por Murai-san a patente nº. 6.605.315, foi aprovada em 18 de novembro de 2003, em nome da Casio. Segundo o texto, um “memorando [ou lembrete] de conteúdo simples pode ser expresso em um pedaço de papel com um tamanho de 10-20mm de largura por 50-100mm de comprimento. Tal tamanho de papel é de fácil manuseio.” Também é fácil de perder esse papelzinho, ainda mais se for coisa importante.
Como praticamente não há folhas no tamanho minuciosamente recomendado e como o uso de papéis tão pequenos certamente causaria paper jams com grande facilidade, o mouse-impressor funciona com bobinas de papel, como aquelas usadas nas emissão de notas fiscais. Deve ser ótimo apenas para imprimir colas para provas. Se o papel for adesivo, então, fica perfeito.
Só que Murai-san não foi inspirado por vestibulandos desesperados por colas pequenas porém legíveis. Basicamente, a ideia surgiu porque
quando apenas uma pequena parte dos dados exibidos em tela é selecionada para ser impressa em papel externo (por exemplo, de tamanho A4) pelo mouse, uma pequena parte do papel é utilizada. Assim, os dados impressos no papel não estão em harmonia com o tamanho do papel de impressão. […] A parte impressa do papel poderia ser cortada. No entanto, isso seria problemático e geraria desperdício de papel.
O inventor parece ignorar que uma solução mais prática para combater o desperdício seria usar papeis de tamanho adequado ou papel reciclável ou deixar de imprimir mensagens muito curtas. Ou simplesmente deixar de ser preguiçoso e escrever lembretes à mão.
O mouse-xerox (literalmente)
Tampouco foi original a ideia do japonês. Entre suas referências, ele cita a patente 5.311.208 (Mouse that prints [Mouse que imprime]), apresentada em 1991 e aprovada em 10 de maio de 1994 em nome de William R. Burger, Bruce J. Parks e Edward C. Hanzlik, três engenheiros da Xerox:
A presente invenção relaciona-se a um mouse de computador que inclui uma impressora e, mais especificamente, um mouse mecânico que inclui uma impressora ink jet a qual recebe sinais que representam dados apresentados numa área selecionada pelo mouse em uma tela de computador. À medida que o mouse se move, a impressora ejetará pingos de tinta que correspondem aos dados da área selecionada.
O conceito da patente de Burger et al. é diferente, mas não deixa de ser pateticamente engenhoso. O papel não fica dentro do mouse e sim debaixo dele. Papel de impressão como mouse-pad! Parece piada, mas o mouse – ainda movido por uma bolinha – imprimiria sobre o papel à medida que passasse sobre o “substrato” (desde que um botão de impressão fosse acionado durante a seleção).
Evidentemente, durante a impressão, o usuário teria que mover cuidadosamente o “dispositivo de entrada” sobre a folha. A vantagem, segundo os inventores, é que seria possível imprimir à medida que o texto fosse selecionado. As desvantagens, porém, superariam as vantagens. E não estamos falando de impressões inadvertidamente borradas.
Se as bordas da folha estivessem seguras, também não haveria paper jams. Mas o usuário teria que trocar as folhas manualmente (e perderia tempo até fixar a folha adequadamente). Como aparentemente a engenhoca não tem memória de impressão, se forem necessárias várias cópias de um mesmo documento, seria preciso fazer a seleção várias vezes e arrastar o mouse sobre o papel (com o botão extra apertado).
Pra piorar, dadas as limitações tecnológicas da época, você provavelmente teria que fazer a rolagem da tela pelo teclado (não se esqueça de apertar o botão extra para imprimir). Apesar de não ter a limitação de tamanho de papel da versão japonesa, o invento americano também só poderia imprimir trechos de dados ou documentos. Uma cópia à mão seria mais prática e possivelmente mais rápida.