Miss Piggy

imageO mais antigo relato de uma lady com face suína que o escritor encontrou foi publicado em Londres, em 1641, intitulado “A certain relation of the Hog-Faced Gentlewoman”. Desta obra, nós aprendemos que seu nome era Tanakin Skinker e que ela havia nascido em Wirkham, no Reno, em 1618. Como era de se esperar, numa obra holandesa contemporânea — que ou é tradução da inglesa ou é a fonte original desta —, diz-se que ela havia nascido em Windsor, no Tâmisa. Miss Skinker é descrita como tendo: — “Todos os membros e linhas de seu corpo bem-formados e proporcionados. Apenas sua face, que é ornamento e beleza de todo o resto, tem o focinho de um porco ou suíno, que não é apenas uma mancha ou cicatriz, mas uma fealdade deformada, que torna todo o resto nojento, vil e odioso a todos os que olham-na.”

Sua língua, segundo somos informados, é apenas o suíno ough, ough!, em holandês, ou owee, owee!, em francês. Quarenta mil libras, diz-se, foi a soma oferecida ao homem que consentisse em casar com ela. Diz o autor: “Esta era uma isca suficiente para fisgar qualquer peixe. Pois, tão logo isso foi publicamente divulgado, chegaram pretendentes de todas as sortes, cada um na esperança de ficar com o grande prêmio, pois era o prêmio em quem deitavam os olhos, e não a pessoa”.

Galãs teriam vindo da Itália, da França, da Escócia, da Inglaterra e da Irlanda. Todos certamente dispostos a carregar o prêmio, mas quando viram a lady, todos se recusaram a se casar com ela. Há uma xilogravura bastante característica na página de abertura desta obra, que representa um galã, alegremente atirado, dirigindo a palavra a ela. Enquanto curva-se, de chapeu nas mãos, diz — “Deus lhe salve, doce senhora”. Ao que ela, por outro lado, magnificamente vestida, aproximando-se para encontrá-lo com a maior cordialidade, apenas responde com as palavras — “Ough, ough”. — Henry Wilson e James Caulfield, “The Book of Wonderful Characters: Memoirs and Anedoctes of Remarkable and Eccentric Persons in All Ages and Countries” [“O Livro dos Personagens Maravilhosos: Memórias e Anedotas de Pessoas Notáveis e Excêntricas de Todas as Eras e Países”], 1869

Wilson e Caulfield ainda relatam vários casos similares. Num deles, a moça com cara de porco é a menina que nasce após a conversão de um cristão inglês ao judaísmo logo após a Reforma. Quando um monge lhe explica que a filha aberrante é resultado de sua apostasia, ele volta a ser cristão. E ela, ao ser batizada, milagrosamente tornara-se bela. Diante da óbvia ojeriza dos judeus aos suínos e do anti-semitismo da época, torna-se claro que essa é só mais uma farsa moralizante.

Quando não havia uma cura milagrosa, ou algum casamento a troco de alto prêmio ou mesmo salário para o noivo, as histórias terminam com a fundação de algum hospital para cuidar da fera após a morte de seus pais. Não seria de se duvidar que tais histórias fossem apenas um golpe de marketing primitivo, com o intuito de atrair as doações dos piedosos mais curiosos e crédulos.

O mais recente dos causos remontaria ao período napoleônico: o de uma moça de aparência “delicadamente modelada no mais feliz molde natural” — exceto pela cabeça porcina. Seria filha de família riquíssima da Irlanda, radicada em Londres, e sua condição suína seria atestada pela crença de “milhares de pessoas”, mesmo que “o condutor da carruagem [da lady] sempre conseguisse evadir-se da curiosidade das multidões”. Tal caso, porém, pode ter explicação mais simples: teria se originado após a publicação de dois anúncios, no Times, pedindo auxílio a “uma dama com um rosto seriamente afligido”, durante o mês de fevereiro de 1815.

Apesar dos relatos, muitos dos quais baseados apenas em depoimentos orais, os autores mantém um ceticismo digno: “Muitas pessoas dizem que era alguém usando uma máscara teatral e alguns jornais até teriam publicado seu nome. Nós podemos concluir que foi um dos hoaxes tão comumente perpetrados naqueles dias.”

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comment 0 comments
  • rafinha.bianchin

    Fake como o homem com cara de cachorro [1].

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    [1] - Não temos nenhuma fonte referente a citação.

    • Renato Pincelli

      Em ambos os casos, fake dói.

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