Patentes Patéticas (nº. 105)

 

Como já vimos anteriormente, por dezenas e dezenas de vezes, diversos inventores parecem ter sido profundamente influenciados pela ACME, a infame fabricante de acessórios catastroficamente inúteis das animações da Warner Bros. Nenhum deles, porém, teve a cara-de-pau de admitir isso em uma patente. Até agora. Essa honra duvidosa cabe a John Clark Buell e Troy Nicholas Nowell, criadores do Weed cutting golf club [Taco de golfe cortador de ervas]:

Um taco de golfe cortador de ervas inclui uma haste terminada em uma cabeça-de-taco [clubhead] e esta define um compartimento com uma abertura direcionada para baixo. Um fonte de energia é carregada pela haste e pela cabeça-de-taco. Um motor é carregado no interior do compartimento e ligado à fonte de energia. Um eixo motor extende-se na direção inferior a partir do motor, atravessando a abertura até terminar em um cubo. Os membros de corte estendem-se deste cubo.

Um taco de golfe com uma pequena hélice movida por um motor elétrico, alimentado por pilhas abrigadas no interior do taco. Por mais que pareça algo saído diretamente das pranchetas da ACME, o US Patent Office aprovou, em 24 de janeiro de 2006, essa ideia de Buell & Nowell. O registro está na patente de nº. 6.988.954 [pdf].

Há centenas de pequenos aperfeiçoamentos relativos à prática de golfe nos escaninhos dos avaliadores do Escritório de Patentes Americanos. A maioria é visivelmente inútil, mas só Buell & Nowell — habitantes de Peoria, Arizona — foram capazes de admitir isso com todas as letras no próprio texto da patente:

A indústria do golfe é repleta de novos itens que podem ou não ter valor funcional. Independente de seu valor funcional, tais itens frequentemente apresentam qualidades humorísticas e aliviam o estresse, o que é desejável em várias situações. Como a popularidade do esporte do golfe cresce, mais e mais indivíduos encontram-se em campos de golfe. É comum que estes indivíduos sejam menos que experts e podem se encontar em situações que podem acabar sendo estressantes se não humilhantes. Ao jogar golfe por recreação, pode ser desejável aliviar o ambiente e diminuir os níveis de estresse de modo a alcançar uma atmosfera mais agradável e relaxante.

Por mais que eles pareçam sérios e cheios de boas intenções, o par de inventores peorianos não deixa de parecer um patent troll. Ideias semelhantes já devem ter sido alvo de muitas piadinhas nos campos de golfe. Na prática, eles parecem ter ouvido essa piada e reencreveram-na com uma linguagem mais ou menos técnica e umas três ilustrações simplesmente com o objetivo de ganhar dinheiro com isso. A situação criada por Buell & Nowell ao admitir francamente a inutilidade de sua invenção é tão absurda que só nos resta rir mesmo.

A cara-de-pau de Buell & Nowell é tamanha que eles reconhecem que a ideia original nem é deles. Admitem que “há tacos de golfe que incluem lâminas que lhes permitem passar através de matagais de maneira mais eficiente”. A diferença é que estes não são motorizados. É preciso golpear o taco com a mesma força de uma tacada para cortar a grama com a lâmina. “Embora sejam algo útil”, prosseguem, “para um indivíduo que tem uma bola ruim em meio à grama ou às ervas, esses tacos pouco fazem para aliviar o estresse inerente à situação.” Como se golpear seguidamente a grama com um taco equipado com lâmina não fosse algo capaz de descarregar a raiva e a frustração de qualquer estressadinho!

Quem já viu jogos de golfe, nem que seja em desenhos animados, sabe que a bola deve ser sempre lançada do lugar onde cai. Ou, como diz um livro de regras do esporte: Play the ball as it lies, play the course as you find it, and if you cannot do either, do what is fair.

Perder uma bola de golfe num matagal pode até ser uma experiência desagradável. Certamente pode ser algo estressante e até embaraçoso. Mas quem joga golfe, mesmo por mera diversão, deve estar em busca de desafios como esse. Os campos de golfe não são apenas gramados bem aparados sobre planícies. Intencionalmente, há uma série de obstáculos antes de cada buraco, incluindo corpos d’água, caixas de areia e, o que é mais comum, áreas de grama descuidada, os matagais. Livrar-se disso de modo tão ridículo não deixa de ser uma trapaça. Ou pode tornar tudo mais ridículo ainda, se você conseguir a proeza de estraçalhar a bola de golfe com as lâminas giratórias — um uso digno de um taco ACME.

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  • Eduardo Bessa

    Poxa, fica muito feio se eu admitir que gostei da ideia? Lá em casa seria perfeito, apesar das proporções reduzidas do possível 'campo'. Meu cachorro já cavou os buracos e eu odeio essa atribuição intrinsecamente masculina de aparar a grama mesmo. Só precisaria criar junto o carrinho-elétrico-de golf-aspirador-de-grama-cortada para vender a ideia para a Polishop... ou para a Acme.

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