Patentes Patéticas (nº. 109)

elmo-estufa
Efeito-estufa: experimente o seu.

Você é um cidadão que teme ser sufocado pela poluição do ar das grandes metrópoles? Deseja o ar puro de suas plantinhas? Não quer ficar longe de seus cactos? Procura um acessório que combine com sua roupa animal? Tudo isso (e aparentemente muito mais) pode ser resolvido pelo Greenhouse Helmet [Elmo-Estufa]. A ideia é muito simples:

Um elmo-estufa é apresentado [nesta patente] e consiste de um domo que contém plantas asseguradas em seu interior e que protege completamente a cabeça de uma pessoa de modo que a  pessoa possa respirar o oxigênio emitido pelas plantas.

Esta brilhante ideia foi concebida pela mente de Waldemar Anguita e registrada na patente 4.605.000 [pdf], aprovada em 12 de agosto de 1986. Sem muita surpresa, Mr. Anguita é (ou pelo menos era) um morador de Brooklyn, Nova York e talvez seja alguém muito preocupado com a poluição local — até porque a NY dos anos 1980 não era lá muito limpa.

Sua inspiração (perceberam o trocadilho?) deve ter vindo daqueles documentários que apresentam a Amazônia como “pulmão do mundo”, nos quais ele deve ter aprendido que plantas são seres milagrosos que absorvem gás carbônico e emitem oxigênio. O mais provável, porém, é que Anguita tenha tido algum insight em uma floricultura nova-iorquina mesmo. Segundo o texto da patente há

Numerosos dispositivos de invólucro na arte estabelecida. Por exemplo, as patentes números 3.903.642 e 3.995.396 são terrários adaptados para apenas guardar plantas e não são projetados para uso sobre a cabeça de uma pessoa, enquanto a U.S. Pat. No. 4.331.141 contém uma variedade de dispositivos para proteção de órgãos respiratórios que são vestidos para cobrir o nariz e a boca de uma pessoa, mas não são projetados para conter plantas em seu interior.

Juntando máscaras respiratórias com terrários infláveis e globulares, é mesmo fácil chegar a um elmo-estufa (esse nome, aliás, é ótimo!). E essa convivência íntima, quase artificialmente simbiótica com suas plantinhas não é uma coisa linda? Quem sabe a NASA não descobre isso e abandona o uso daqueles pesados cilindros de oxigênio em missões tripuladas fora da Terra? Quem sabe até os primeiros homens em Marte não sejam acompanhados por suas plantinhas?

Devaneios à parte, será que uma pessoa não ficaria sufocada dentro de tal acessório? Anguita acha que não, pois seu elmo-estufa é equipado com “filtros, de modo que o ar ambiente contendo gás carbônico será filtrado por eles e misturado com o dióxido de carbono exalado pela pessoa para ser usado pelas plantas.”

O inventor, porém, deve ter um entendimento supersimplificado da respiração vegetal. Duas razões simples impedem a viabilidade do elmo-estufa. Primeiro, a diferença de metabolismo entre animais e plantas. O usuário de tal acessório consumiria muito mais oxigênio do que as suas plantinhas seriam capazes de repor — especialmente se forem os cactos que inexplicavelmente foram escolhidos como ilustração pelo inventor.

Segundo, o oxigênio só é liberado pelos vegetais durante a fotossíntese. Isso significa que seria inútil e talvez até arriscado usar o elmo-estufa em condições desfavoráveis de iluminação. À noite, então, é completamente inviável: sem a luz solar, as plantas dentro do elmo-estufa apenas respirariam, absorvendo O2 e liberando CO2 como qualquer ser vivo. Na prática, com o ambiente fechado, as plantinhas seriam concorrentes e não fontes de oxigênio para o usuário. elmo-estufa-perfil

Condições de insolação intensa também não ajudariam. Nesse caso haveria a dupla transpiração: do usuário e do vegetal. Talvez para minimizar isso é que os cactos sejam recomendáveis. Ou talvez seja mera preferência do inventor mesmo. Inevitavelmente, porém, a carapuça plástica acabaria embaçada, dificultando a visão — entretanto, o inventor afirma, en passant, ter usado plástico anti-embaçante.

Em termos acústicos, a comunicação também seria dificultada, mas quanto a isso Anguita foi mais atento e afirma que o elmo-estufa “conterá dispositivos de audição e fala para que a pessoa possa ouvir no interior e falar através do elmo.” Quanto a esses equipamentos, porém, não há maiores detalhes e o inventor não explica de que forma eles seriam alimentados. Pelas plantas é que não seriam…

Por fim, ainda há o risco constante de ter seus companheiros vegetais caindo o tempo todo de seus suportes plásticos. Anguita afirma ter resolvido isso com um simples sistema de encaixe macho-e-fêmea entre os vasinhos e os suportes. É melhor que funcione porque ser ferido por um par de cactos durante seu cooper matinal seria bastante patético…

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