Palavras escritas por astrólogos nas páginas de jornais são bastante comuns. Sempre foram, na verdade. Também é comum que às vezes apareça uma profecia com ampla repercussão midiática. O que não é comum é um anúncio de um astrólogo negando que tenha feito a previsão de uma grande catástrofe que se confirmaria alguns anos mais tarde. Famoso em sua época, o astrólogo londrino William Lilly (1602-1681) publicou o seguinte anúncio no Perfect Diurnal de 9-16 de abril de 1655:
Apesar de haver diversos reportes volantes e muitas conversas falsas e escandalosas na boca de muitas pessoas nesta City, relatando que: Eu, William Lilly, previ ou disse que haverá um grande Incêndio em ou perto da Old Exchange e outro em St. John’s Street e outro no Strand, próximo a Temple Bar, e em diversas outras partes da City. Estas [linhas] são para certificar a cidade inteira que declaro, por Deus Todo-Poderoso, que nunca escrevi tal coisa e nunca falei tais palavras e nem pensei em tal coisa sobre essas Ruas e Locais em particular nem quaisquer outras partes. Estas inverdades foram forjadas por homens e mulheres ímpios para perturbar a tranquilidade do povo desta cidade, para assustar a Nação e para lançar sobre mim calúnias e difamação. Que Deus defenda esta cidade e todos os seus habitantes não apenas do Fogo, mas da Praga, da Pestilência, da Fome ou de qualquer acidente ou fatalidade que possa ser prejudicial à sua grandeza.
Estas profecias teriam sido publicadas em Monarchy or No Monarchy, livro de 1652 e foi replicada em diversos almanaques proféticos a partir de então. Mas então porque Lilly teria negado a profecia? A culpa não era das estrelas e a motivação do astrólogo deve ter sido bem mundana: política.
Eram tempos politicamente imprevisíveis na Inglaterra: o rei Charles I havia sido deposto, julgado e executado pelo Parlamento em 1649. Oliver Cromwell (1599-1658) estava no auge do poder como Lorde Protector. Lilly era parlamentarista convicto (isso fica claro em muitos de seus horóscopos), mas pode ter se arrependido com o rumo que as coisas tomaram: Cromwell chegou a invadir o Parlamento em 1653, após desastradas campanhas na Irlanda e na Escócia. O nosso astrólogo engajado deve ter publicado o anúncio antiprofético por precaução. Não era preciso ser paranormal para saber que a Monarquia poderia ser restaurada.
De fato, Charles II (1630-1685) foi restaurado em 1660. Apesar de sua popularidade, Lilly caiu em desgraça sob o novo reinado por suas posições políticas e pela polêmica profecia. Onze anos de publicar seu anúncio antiprofético, em 1666, aconteceu exatamente o que Lilly (não) havia previsto: o Grande Incêndio de Londres. Na época, o astrólogo chegou a ser visto como suspeito de começar o incêndio. Julgado pelo Parlamento, foi absolvido por falta de provas. Esse anúncio lhe salvou a vida.
Hoje a polêmica profecia de Lilly está praticamente esquecida. Ele é mais lembrado por sua Christian Astrology [Astrologia Cristã], publicada em três volumes em 1647.
Uma retrospectiva como esta | hypercubic
[…] sozinhos. Ou não, como diria William Lilly, o homem que profetizou o Grande Incêndio de Londres sem querer querendo. Melhor esfriar a cabeça e relaxar numa banheira-aquário com um tapinha nas costas e uma dose de […]