O esquema da Grande Pirâmide de Londres

willson pyramid

Após a passagem de Napoleão pelo Egito em 1798 e a subsequente decifração da escrita hieroglífica, o século XIX estava fadado a ver uma sucessão de modas inspiradas no Antigo Egito — da arquitetura à tipografia, todo mundo queria “fazer a egípcia”. Mas ninguém ficou mais entusiasmado do que o arquiteto inglês Thomas Willson. Na década de 1820, Willson propôs a construção de uma gigantesca pirâmide mortuária em Londres. Não seria apenas um monumento para a família real, mas antes

um cemitério metropolitano em escala proporcional às necessidades da maior cidade do mundo, cobrindo prospectivamente as demandas de séculos, suficientemente capaz de receber 5.000.000 de mortos [!!!], onde eles possam repousar em perfeita segurança, sem interferir o conforto, a saúde, os negócios, a propriedade ou os empreendimentos dos vivos. […] Este grande mausoléu vai além de completar a glória de Londres. Será elevado sobre esplêndidos templos e sublimes torres — ensinando os vivos a morrer e os mortos a viver para sempre.

A pirâmide-cemitério de Willson ocuparia uma área de 18 acres [quase 73 mil m²], um espaço enorme mas ainda assim 50 vezes menor que um mega-cemitério convencional com o mesmo número de vagas. A base teria o mesmo tamanho de Russell Square e a altura seria maior que a catedral de St. Paul — de fato, essa pirâmide funerária de granito ultrapassaria até a Grande Pirâmide de Gizé. Seus 94 andares seriam construídos em Primrose Hill, no norte de Londres.

Após entrar por um grande portal — de estilo egípcio, evidentemente —, os visitantes se encontrariam num grande salão cercado de obras estatuárias, monumentos e cenotáfios. Além dos milhões de túmulos, a grande pirâmide de Willson ainda teria uma capela, uma sala de registros e apartamentos para quatro funcionários — o zelador, o recepcionista, o sacristão e o superintendente. Esses funcionários teriam acesso a qualquer parte da pirâmide através de uma vasta rede de escadarias (opcionalmente poderia haver um sistema primitivo de elevadores movidos a vapor). No topo, haveria um obelisco e um observatório.

Depois de ser ignorado pelo parlamento britânico, Willson resolveu abriu uma firma, a Pyramid General Cemetery Company. O arquiteto estimava os custos em 2.500 Libras (mais de £10 milhões em valores atualizados), mas argumentava que seria um bom negócio investir nesse que, literalmente, era um esquema de pirâmide. Com 30.000 enterros por ano a um custo de £5 cada, calculava Willson, a pirâmide renderia £150.000 por ano e £12,5 milhões por século. “Os dividendos”, comentou um jornal londrino ao noticiar o fracasso do projeto, em 1830, “eram remotos demais e os investidores não esperariam 100 anos por 100 por cento.”

Willson não desistiria assim tão fácil. Duas décadas mais tarde, na Grande Exposição de Londres de 1851, Thomas Willson e um tal de J. Willson (talvez seu filho), buscavam apoio para a construção de uma pirâmide menor, que abrigaria 625.000 defuntos e ocuparia apenas 5 acres. Mas aí já era tarde: a moda egípcia já havia passado. Mesmo menor, uma pirâmide em Londres seria inadmissível para a recatada Inglaterra vitoriana.

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