Patentes Patéticas (nº. 146)

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Todos somos mamíferos, mas mamar ainda parece-nos um ato vergonhoso. O próprio verbo mamar carrega muitos sentidos pejorativos ou obscenos, ainda que o ato em si seja instintivo e natural a todos os seres humanos. As mulheres que precisam amamentar em público podem se sentir tão expostas ou constrangidas que deixam de fazê-lo. E muitos homens, curiosamente, acham indecente a exposição de seios para sua finalidade natural, que é dar de mamar aos bebês.  Em 1909, um desses homens inventou um Nursing Attachment [Anexo de Amamentação], cujo

objetivo primário desta invenção é uma construção aperfeiçoada de um dispositivo para uso pelas mães com crianças de colo e projetado particularmente para evitar situações desagradáveis e embaraçosas às quais as mães são às vezes sofrem em locais públicos pela necessária exposição do seio que dá de mamar à criança.

Hugh B. Cunningham deve ter sido um desses homens que veem indecência em madonas amamentadoras. O invento de Mr. Cunningham não podia ser mais puritano. Nativo de Arnot, Pensilvânia, o inventor deve ter achado que nada poderia ser mais feio que uma criança sugando o bico de um seio cheio de leite materno. É contra os valores da família, oras! Afinal, os homens crescidos não conseguem se conter diante de um peito à vista.

A solução, claro, estaria em esconder os peitos da amamentadora com o uso de “um par de escudos peitorais” nos quais estariam rosqueados copos “situados diante dos bicos dos seios da mulher”, os quais se afunilam em mangueiras flexíveis equipadas com bicos de mamadeiras. Esse equipamento seria usado pela mãe ou ama-de-leite “no interior da camisola ou outra roupa de baixo, sendo necessário, quando a criança tem que ser amamentada, apenas puxar o bico de mamadeira para fora do decote, evitando assim a necessidade de expor a pessoa”.

Esta ideia tão simples quanto ingênua foi rapidamente gestada pelo Escritório de Patentes dos Estados Unidos. Hugh B. Cunningham entrou com o pedido da patente para seu acessório amamentador em 7 de setembro de 1909 e a patente nasceu — perdão, foi aprovada — em 15 de fevereiro de 1910, com o número 949.414 [pdf].

Não que isso fosse ser um avanço revolucionário. Cunningham não ficaria milionário com seu invento. Afinal as mamadeiras já existiam e cumpriam — como ainda cumprem — muito bem seu papel de evitar a  visão (perturbadora para uns, terna para outros) de uma mãe a alimentar o filho em seu próprio peito. Ainda somos todos mamíferos.

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