O ano mal começou e já traz oito novos planetas na zona habitável. Não na nossa zona habitável (o que seria inimaginavelmente extraordinário). E não apenas em uma única zona habitável (o que seria uma vizinhança bem cheia). Ainda assim, são pequenos planetas que orbitam suas estrelas a uma distância que permitiria a existência de água líquida. “A maioria desses planetas tem uma boa chance de ser rochoso”, explica Guillermo Torres, líder da equipe de astrônomos do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (CfA). Torres anunciou a descoberta em conferência realizada ontem (06/01) na Sociedade Astronômica Americana.
Entre os planetas recém-encontrados, dois foram indentificados como os exoplanetas mais similares à Terra já descobertos: Kepler-438b (situado a 470 anos-luz da Terra) e Kepler-442b (a 1100 anos-luz). Ambos orbitam estrelas anãs-vermelhas (que são menores e mais frias que nosso Sol). O 438b completa uma translação a cada 35 dias enquanto o 442b tem um ano de 112 dias. Aquele é 12% maior que a Terra e tem 70% de chances de ser rochoso; este é um terço maior que o nosso planeta e 60% de chance de ser rochoso.
Estima-se que Kepler-438b seja 40% mais iluminado por sua estrela-mãe do que a Terra é pelo Sol. A chance de estar na zona habitável é de 70%. Kepler-442b tem mais semelhanças com nosso pálido ponto azul: recebe dois terços da intensidade luminosa terrestre e tem 97% de estar na zona habitável. Até agora, o planeta mais “Terresco” era o Kepler-186f.
Como é possível perceber pelos nomes, a equipe de astrônomos do CfA identificou planetas-candidatos encontrados pelo telescópio espacial Kepler, da NASA. No entanto, esses corpos celestes foram considerados pequenos demais para confirmação direta com base na medição de suas massas. A confirmação foi feita por meio de simulações estatísticas desenvolvidas por Torres e pelo colaborador François Fressin e rodadas no supercomputador Pleiades, também da NASA. O mesmo método já havia sido usado anteriormente para validar algumas das mais importantes descobertas do Kepler, como os dois primeiros planetas de dimensões terrestres ao redor de uma estrela similar ao Sol e o primeiro exoplaneta menor que Mercúrio.
Após a análise computacional, os astrônomos passaram mais um ano em observações adicionais por meio de espectroscopia de alta resolução, interferometria e óptica adaptativa para a caracterização completa de cada sistema. Essas novas observações revelaram que quatro dos planetas descobertos estão em sistemas binários. No entanto, as estrelas companheiras são distantes e não têm grande influência sobre os planetas.
“Espere” — dirá o leitor, antes de encerrarmos —, “foram anunciados oito planetas nesta matéria e descritos apenas dois. E quanto aos outros seis?” A resposta fica com o co-autor David Kipping, também do CfA: “Não temos certeza se outros planetas em nossa amostragem são realmente habitáveis. Tudo o que podemos dizer é que são candidatos promissores”.