Comunicação gelada

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Comunidade de geladas (Theropithecus gelada) nas montanhas Semien, Etiópia.

Sílabas se juntam em palavras, palavras se articulam em sentenças, sentenças se estruturam num parágrafo, parágrafos se sucedem num texto, textos constroem um livro, etc. Nas linguagens humanas, quanto maior o todo, menores as partes: palavras compridas tendem a ter sílabas curtas e frases compridas, por exemplo, contém palavras pequenas.

Esse fenômeno linguístico é descrito pela Lei de Menzerath. Tal como a sintaxe — recém-observada em pássaros —, pensava-se que essa lei fosse exclusividade da comunicação humana. Mas a mesma estruturação acaba de ser observada em macacos etíopes, segundo estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Paul Menzerath foi um linguista eslovaco que percebeu esse padrão construtivo das línguas humanas em 1928. Mais tarde, a lei foi estruturada matematicamente por Gabriel Altman, sendo também conhecida como Lei de Menzerath-Altman. Décadas de pesquisa confirmaram a validade da Lei de Menzerath na maioria da línguas humanas (vide, por exemplo, o estudo do ucraniano por BUK e ROVENCHAK, 2007).

Mas será que o mesmo valeria para línguas não-humanas? Com o auxílio de Ramon Ferrer-i-Cancho (Universitat Politècnica de Catalunya) e Thore J. Bergman (Universidade de Michegan), Morgan Gustison (também da Univ. de Michegan) e Stuart Semple (Universidade de Roehampton) testaram a Lei de Menzerath na comunicação dos babuínos-gelada.

Membros da espécie Theropithecus gelada, os geladas vivem em grandes comunidades de 400 a 500 indivíduos nas montanhas da Etiópia. Tais comunidades são compostas por subgrupos e núcleos familiares. Além do uso de gestos, sua comunicação vocal também é relativamente complexa: da mesma forma que palavras formam frases, os gelada falam por meio de chamados (que indicam contato, tranquilidade, apaziguamento, solicitação, ambivalência, agressão e defesa). Os chamados, por suas vez, podem se articular em frases ou sequências (que podem ter até 25 chamados).

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Para testar a Lei de Menzerath nesses primatas, Gustison e Semple analisaram 1065 dessas sequências, formadas por 4747 chamados. Essas sequências foram gravadas de 50 machos que vivem no Parque Nacional do Simien, na Etiópia. A análise, pré-publicada on-line em 18/04 na PNAS, revelou um padrão de comunicação compatível com a Lei de Menzerath: há uma relação inversa entre o comprimento das sequências e a duração média dos chamados. Os resultados descritos pelo paper de Gustison e Semple revelam um padrão comum às comunicações humanas e não-humanas. Mas por que a Lei de Menzerath funciona?

Para os autores, esta pesquisa apóia a hipótese de que a Lei de Menzerath é um mecanismo de compressão da informação. Ao tornar previsível a extensão de um código, a compressão aumenta a eficiência de um sistema de codificação — seja uma língua humana seja um conjunto de vocalizações de primatas. A compressão de arquivos, comum no armazenamento de dados eletrônicos, também ocorre na comunicação. Basta observar como surgem siglas e abreviações em caso de limitações de recursos, como em mensagens de texto ou no twitter, por exemplo.

Podemos dizer, portanto, que os babuínos-gelada conversam por tuítes de voz, onde as mensagens tem um limite de palavras (até 25 chamados). Pode ser que eles também usem hashtags, pois suas sequências começam com chamados apropriados para o tamanho da mensagem: sequências longas começam com chamados mais curtos e sequências curtas se iniciam com chamados mais longos.

Referências

rb2_large_gray251. GUSTISON, M. L. et. al. Gelada vocal sequences follow Menzerath’s linguistic law [Sequências vocais de geladas seguem a lei linguística de Menzerath]. PNAS. Published online before print April 18, 2016, doi:10.1073/pnas.1522072113

2. BUK, S. e ROVENCHAK. Menzerath-Altmann Law for Syntactic Structures in Ukrainian [Lei de Menzerarth-Altman para Estruturas Sintáticas em Ucraniano]. Submetido em 30 de janeiro de 2007 ao arXiv.org. Disponível em: arXiv:cs/0701194 [cs.CL]

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