O temor de que os robôs vão roubar empregos, arruinar a economia e mesmo suplantar a humanidade são tão antigos quanto a própria palavra. Essa preocupação já era demonstrada em 1921 na peça teatral R.U.R. (Rossum’s Universal Robots), do checo Karel Čapek [1890-1938].
Os robôs de R.U.R. não são exatamente autômatos e sim seres orgânicos artificiais que acabam adquirindo consciência. Hoje poderiam ser classificados como androides, ciborgues ou mesmo clones. Mesmo assim, os robôs e principalmente os humanos de Čapek não deixam de refletir a atual preocupação com a emergência de uma inteligência artificial.
Na cena a seguir Dr. Gall é o Chefe de Fisiologia do Departamento de Pesquisas da R.U.R. Helena (que não deve ser confundida com robô do mesmo nome) é Helena Glory, Presidenta da Liga da Humanidade. A história se passa num futuro indeterminado mas na época da estreia ficava subentendido que seria em algum momento dos anos 1950 ou 1960.
DR. GALL: Veja só, são tantos os Robôs sendo fabricados que as pessoas estão se tornando supérfluas. Um homem é mesmo um sobrevivente. Mas ele vai começar a perecer após meros trinta anos de competição! Isso é que é o pior. Você pode pensar que a natureza seria ofendida pela fabricação de Robôs. Todas as universidades estão mandando longas petições pela restrição de sua produção. De outro modo, dizem, a humanidade será extinta por falta de fertilidade. Mas os acionistas da R.U.R., é claro, não querem saber disso. Todos os governos, por sua vez, estão clamando por um aumento na produção, para elevar os padrões de seus exércitos. E todas as fábricas do mundo estão encomendando Robôs como loucas.
HELENA: E não há ninguém que tenha pedido o encerramento completo da fabricação?
DR. GALL: Ninguém tem coragem.
HELENA: Coragem?
DR. GALL: Quem o fizesse seria apedrejado até a morte. Afinal as pessoas consideram mais conveniente ter seu trabalho feito pelos Robôs.
HELENA: Oh, Doutor, o que será das pessoas?
DR. GALL: Só Deus sabe, Madame Helena. Para nós, cientistas, parece que será o fim!
De fato, a peça é bastante distópica para a humanidade: após um intenso declínio demográfico aliado a um crescente ciclo de violência robótica, não restam mais homens nem mulheres na Terra. Na época, a peça foi vista como extrapolação do fordismo e da violência da I Guerra Mundial.
Embora seja apontado como inventor do termo robô, Karel Čapek sempre deu crédito ao seu irmão Josef pelo neologismo, criado a partir do checo robota (trabalho forçado, servidão).