Em uma baía do Pôrto de Leningrado oscilava lentamente um veleiro de três mastros. Despojado das velas, entre as driças correm fios metálicos de antenas. À proa do veleiro destacam-se as letras “Zaria” (“Alba” em russo). Dir-se-ia um pequeno iate, com seu madeiramento envernizado, suas cabines apaineladas e sem sem confôrto. Na realidade o “Zaria” é um navio científico, não para estudar fenômenos especìficamente marinhos; é um laboratório navegante destinado a estudar o magnetismo terrestre.
Deslocando seiscentas toneladas o “Zaria” foi construído de madeira, de latão, de aço não-magnético, com raras exceções que não puderam ser evitadas. Os motores e as poucas peças de ferro que eles comportam são instalados longe dos instrumentos de medida, e não influem sôbre o seu funcionamento. O “Zaria” é o único navio não-magnético do mundo, êle não tem senão um predecessor: o navio americano “Carnegie”, que naufragou há já mais de vinte anos. Suas reservas de combustível e de água lhe conferem uma autonomia de percurso de três mil e quinhentas milhas sem escala. Seu campo de ação engloba o Atlântico, o Índico e o Pacífico. Os trabalhos realizados pelos sábios do “Zaria” revelarão modificações que se produziram nas características do campo magnético terrestre durante os vinte e cinco últimos anos, e permitirão estabelecer mapas magnéticos precisos para uso dos navegantes. — BARNIER, Lucien. A nova ciência dos soviéticos. São Paulo: IBRASA, 1959. pp. 159-60
Construído em 1952, com 52 metros de comprimento e 9 de largura, o barco foi adaptado pela Academia de Ciências da URSS em 1953. O Zarya (essa é a grafia correta e uma tradução mais exata seria Alvorada) participou do Ano Geofísico Internacional em 1957. Visto pela última vez durante reparos em Amsterdã em 1983, seu destino é desconhecido mas não foi esquecido: um penhasco em Mercúrio leva seu nome.