Memória Fotográfica: Into K. Inha

Corredeiras em Imatra, Finlândia [c. 1893]
Corredeiras em Imatra, Finlândia [c. 1893]

Trocando a universidade pelo jornalismo, um jovem idealista descobriu a fotografia e passou a retratar as belezas naturais da Finlândia

Filho de um funcionário público nacionalista, que trocou o sobrenome da família do sueco Nyström para o finlandês Inha, Into Konrad nasceu em 12 de novembro de 1865. Na infância, frequentou uma escola finlandófona e foi encorajado pelos pais a estudar música, pintura e storytelling. Aos vinte anos, ele matriculou-se na Universidade Helsinki, frequentando cursos como geografia, literatura e estética. A necessidade de dinheiro levou-o a buscar um trabalho de meio-período e ele começou a escrever para jornais. Ao descobrir sua vocação e perceber que ela seria rentável, Inha abandonou os estudos universitários e abraçou o jornalismo.

Floresta em Laivonsaari, uma ilha de um lado perto de Kuopio, no centro-leste da Finlândia [c. 1893]
Floresta em Laivonsaari, uma ilha de um lago perto de Kuopio, no centro-leste da Finlândia [c. 1893]

Como parte de seu treinamento jornalístico, Inha foi estudar fotografia na Alemanha e na Áustria por volta de 1888. Lá, ele mostrou-se bem-sucedido na fotografia de paisagens como montanhas e rios. Ao voltar ao seu país-natal em 1890, ele estava decidido a aplicar as técnicas recém-aprendidas na promoção da Finlândia. Na época, esse país escandinavo ainda era pobre e subordinado à Suécia, mas havia um crescente movimento nativista a favor da independência. Entre estes nativistas estava K. E. Stahlberg, dono de um estúdio fotográfico de Helsinki. Stahlberg também percebeu o potencial da fotografia como meio de promoção da cultura e das paisagens finlandesas, mas era mais empresário que fotógrafo e, assim, contratou Inha para tirar fotos de lugares e pessoas da Finlândia.

Cabana de um pescador em Pielavesi, interior da Finlândia [c. 1893]
Cabana de um pescador em Pielavesi, interior da Finlândia [c. 1893]

Apesar da paixão do jornalista recém-formado, fotografar a Finlândia não seria tarefa fácil. Havia dificuldades de transportes e, durante o longo inverno, a iluminação natural era por vezes precária. Adicione-se a isso o perfeccionismo técnico de Inha e temos uma receita para o fracasso. Para alcançar algumas localidades, ele até poderia ir de trem, mas preferia usar sua bicicleta. Quando isso não era possível, ele remava ou velejava por rios e lagos, esquiava ou simplesmente atravessava florestas a pé com seu pesado equipamento a tiracolo. A insistência de Inha evitou que o fracasso acontecesse e a empreitada deu certo. Sua habilidade na escrita também ajudou, permitindo-lhe registrar cuidadosamente suas jornadas e descrever suas fotografias.

Corredeiras de Imatra no inverno de 1897
Corredeiras de Imatra no inverno de 1897

Assim, Inha fez composições que mostravam as imensas florestas, os inúmeros rios e lagos e os desertos gelados do norte da Finlândia, chegando mesmo a ir além do Círculo Polar Ártico. Como a maioria dos finlandeses, ele tinha grande respeito pela natureza e a vida selvagem. Quando possível, ele também gostava de incluir o céu e suas nuvens em seus enquadramentos. No inverno, destacava a onipresença da neve em suas mais variadas formas. Inha também registrou os finlandeses e suas atividades: navios quebra-gelo no norte do país, caçadores de foca trabalhando no gelo. Do oeste da Finlândia, trouxe imagens de fazendeiros em suas cabanas de madeiras, com os filhos a brincar e a colher. No leste, encontrou figuras típicas: casas de sauna, caixeiros-viajantes, barqueiros. Na capital do país, registrou a vida urbana, com sua arquitetura, seus parques e seu porto.

Porto de Oulu antes de ser destruído por um incêndio em 1901. Fotogravura baseada em imagem de I. K. Inha.
Porto de Oulu antes de ser destruído por um incêndio em 1901. Fotogravura baseada em imagem de I. K. Inha.

A vida finlandesa não era tão idílica, claro, e o lado jornalista de Inha não deixou de mostrar isso. No verão de 1894, ele foi à Carélia, uma das áreas mais pobres e atrasadas do país e registrou umas duzentas fotografias. Mesmo esse trabalho realista teve um quê de idealismo, buscando preservar a dignidade dos retratados.

Os irmãos Poavila and Triihvo Jamanen recitando poesia folcórica finlandesa em Uhtua (Kalevala), atual República da Carélia, Rússia [1894].
Os irmãos Poavila e Triihvo Jamanen recitando poesia folclórica finlandesa em Uhtua (Kalevala), atual República da Carélia, Rússia [1894].

Dois anos mais tarde, ele reuniu a maioria de suas imagens em Pictorial Finland, um dos primeiros livros fotográficos do país. O perfeccionismo de Inha levou-o a mandar imprimir essa obra na Áustria, a fim de garantir a maior fidelidade possível da impressão de suas fotos. Em 1899, foi convidado pelo governo finlandês a fazer um álbum sobre a agricultura do país, que seria apresentado no Pavilhão Finlandês na Exposição Universal de Paris em 1900.

Agricultoras finlandesas abrem uma clareira para posterior cultivo [c. 1894]
Agricultoras finlandesas abrem uma clareira para posterior cultivo [c. 1894]

Depois disso, a atividade fotográfica de Inha foi se reduzindo aos poucos e ele dedicou-se mais ao jornalismo. Atuou especialmente como divulgador científico e autor de textos para crianças. Nas férias, costumava viajar de bicicleta pela Finlândia e outros países europeus. Possivelmente, o fotógrafo idealista foi perdendo o ânimo diante das mudanças sociais e políticas do país.

Fazenda de gado leiteiro, parte da série sobre Agricultura Finlandesa [1899]
Fazenda de gado leiteiro, parte da série sobre Agricultura Finlandesa [1899]
Trem chegando a Helsinki pela via de Linnunlaulu [c. 1908]
Trem chegando a Helsinki pela via de Linnunlaulu [c. 1908]

Na virada do século, a indústria madeireira descobriu as grandes florestas finlandesas, passando a explorá-las. A agricultura tradicional perdeu sua importância e a urbanização começou a decolar. A tão sonhada independência do país veio em 1908 mas nesse mesmo ano Inha ficou doente e abandonou o jornalismo, tornando-se um recluso pelo resto da vida. Apesar disso, ele continuou a praticar a fotografia de modo privado e mais artístico, fazendo registros cada vez mais detalhados das florestas e paisagens do país.

Panorama da Escola de Agricultura de Mustiala, feito a partir de três chapas. [1899]
Panorama da Escola de Agricultura de Mustiala, feito a partir de três chapas. [1899]

Into Konrad Inha faleceu aos 75 anos, em 1930, e ficou esquecido até os anos 1980, quando sua obra passou a ser redescoberta e estudada por fotógrafos e historiadores. Atualmente seus negativos são uma importante coleção do Museu Finlandês de Fotografia, em Helsinki, que digitalizou dois álbuns de I. K. Inha: um de suas vistas da capital finlandesa feitas em 1908 e outro de sua série sobre agricultura, de 1899. A Wikimedia tem uma coleção com outras fotos feitas por Inha, entre as quais as de seu período como fotógrafo do estúdio de Stahlberg.

Into Konrad Inha (1865-1930) por volta de 1900.
Into Konrad Inha (1865-1930) por volta de 1900.
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