Trocando a universidade pelo jornalismo, um jovem idealista descobriu a fotografia e passou a retratar as belezas naturais da Finlândia
Filho de um funcionário público nacionalista, que trocou o sobrenome da família do sueco Nyström para o finlandês Inha, Into Konrad nasceu em 12 de novembro de 1865. Na infância, frequentou uma escola finlandófona e foi encorajado pelos pais a estudar música, pintura e storytelling. Aos vinte anos, ele matriculou-se na Universidade Helsinki, frequentando cursos como geografia, literatura e estética. A necessidade de dinheiro levou-o a buscar um trabalho de meio-período e ele começou a escrever para jornais. Ao descobrir sua vocação e perceber que ela seria rentável, Inha abandonou os estudos universitários e abraçou o jornalismo.
Como parte de seu treinamento jornalístico, Inha foi estudar fotografia na Alemanha e na Áustria por volta de 1888. Lá, ele mostrou-se bem-sucedido na fotografia de paisagens como montanhas e rios. Ao voltar ao seu país-natal em 1890, ele estava decidido a aplicar as técnicas recém-aprendidas na promoção da Finlândia. Na época, esse país escandinavo ainda era pobre e subordinado à Suécia, mas havia um crescente movimento nativista a favor da independência. Entre estes nativistas estava K. E. Stahlberg, dono de um estúdio fotográfico de Helsinki. Stahlberg também percebeu o potencial da fotografia como meio de promoção da cultura e das paisagens finlandesas, mas era mais empresário que fotógrafo e, assim, contratou Inha para tirar fotos de lugares e pessoas da Finlândia.
Apesar da paixão do jornalista recém-formado, fotografar a Finlândia não seria tarefa fácil. Havia dificuldades de transportes e, durante o longo inverno, a iluminação natural era por vezes precária. Adicione-se a isso o perfeccionismo técnico de Inha e temos uma receita para o fracasso. Para alcançar algumas localidades, ele até poderia ir de trem, mas preferia usar sua bicicleta. Quando isso não era possível, ele remava ou velejava por rios e lagos, esquiava ou simplesmente atravessava florestas a pé com seu pesado equipamento a tiracolo. A insistência de Inha evitou que o fracasso acontecesse e a empreitada deu certo. Sua habilidade na escrita também ajudou, permitindo-lhe registrar cuidadosamente suas jornadas e descrever suas fotografias.
Assim, Inha fez composições que mostravam as imensas florestas, os inúmeros rios e lagos e os desertos gelados do norte da Finlândia, chegando mesmo a ir além do Círculo Polar Ártico. Como a maioria dos finlandeses, ele tinha grande respeito pela natureza e a vida selvagem. Quando possível, ele também gostava de incluir o céu e suas nuvens em seus enquadramentos. No inverno, destacava a onipresença da neve em suas mais variadas formas. Inha também registrou os finlandeses e suas atividades: navios quebra-gelo no norte do país, caçadores de foca trabalhando no gelo. Do oeste da Finlândia, trouxe imagens de fazendeiros em suas cabanas de madeiras, com os filhos a brincar e a colher. No leste, encontrou figuras típicas: casas de sauna, caixeiros-viajantes, barqueiros. Na capital do país, registrou a vida urbana, com sua arquitetura, seus parques e seu porto.
A vida finlandesa não era tão idílica, claro, e o lado jornalista de Inha não deixou de mostrar isso. No verão de 1894, ele foi à Carélia, uma das áreas mais pobres e atrasadas do país e registrou umas duzentas fotografias. Mesmo esse trabalho realista teve um quê de idealismo, buscando preservar a dignidade dos retratados.
Dois anos mais tarde, ele reuniu a maioria de suas imagens em Pictorial Finland, um dos primeiros livros fotográficos do país. O perfeccionismo de Inha levou-o a mandar imprimir essa obra na Áustria, a fim de garantir a maior fidelidade possível da impressão de suas fotos. Em 1899, foi convidado pelo governo finlandês a fazer um álbum sobre a agricultura do país, que seria apresentado no Pavilhão Finlandês na Exposição Universal de Paris em 1900.
Depois disso, a atividade fotográfica de Inha foi se reduzindo aos poucos e ele dedicou-se mais ao jornalismo. Atuou especialmente como divulgador científico e autor de textos para crianças. Nas férias, costumava viajar de bicicleta pela Finlândia e outros países europeus. Possivelmente, o fotógrafo idealista foi perdendo o ânimo diante das mudanças sociais e políticas do país.
Na virada do século, a indústria madeireira descobriu as grandes florestas finlandesas, passando a explorá-las. A agricultura tradicional perdeu sua importância e a urbanização começou a decolar. A tão sonhada independência do país veio em 1908 mas nesse mesmo ano Inha ficou doente e abandonou o jornalismo, tornando-se um recluso pelo resto da vida. Apesar disso, ele continuou a praticar a fotografia de modo privado e mais artístico, fazendo registros cada vez mais detalhados das florestas e paisagens do país.
Into Konrad Inha faleceu aos 75 anos, em 1930, e ficou esquecido até os anos 1980, quando sua obra passou a ser redescoberta e estudada por fotógrafos e historiadores. Atualmente seus negativos são uma importante coleção do Museu Finlandês de Fotografia, em Helsinki, que digitalizou dois álbuns de I. K. Inha: um de suas vistas da capital finlandesa feitas em 1908 e outro de sua série sobre agricultura, de 1899. A Wikimedia tem uma coleção com outras fotos feitas por Inha, entre as quais as de seu período como fotógrafo do estúdio de Stahlberg.
Into K. Inha, pioneiro da fotografia finlandesa – Photo By Leonan Bernardini
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