Memória Fotográfica: Eugène Atget

Parque de Saint-Cloud (1921)

Ex-marinheiro, ex-ator, ex-pintor, Atget tornou-se o fotógrafo perfeito para a Paris da Belle Époque

Nascido em 1857, em Libourne, Jean-Eugène-Auguste Atget foi criado pelos avós maternos em Bordeux pois seus pais morreram quando ele tinha cinco anos. Após completar os estudos até o ensino médio, Atget passou alguns anos na marinha mercante. Aos 21 anos, ele resolve ir pra Paris com o objetivo de tornar-se ator. No entanto, ele só consegue ser admitido numa escola de teatro em sua segunda tentativa. A essa altura, foi convocado pelo serviço militar, o que prejudicou sua frequência escolar, levando-o a ser expulso da escola de dramaturgia.

Mercado Popular na Praça Saint-Medard (1898)

Nos anos seguintes, o jovem Atget insistiu na atuação e juntou-se a uma trupe itinerante. Foi assim que conheceu a atriz Valentine Compagnon, com quem se casaria. Em 1887, uma infecção nas cordas vocais interrompe sua carreira teatral. Com isso, o ex-ator voltou ao interior e tentou a sorte como artista plástico. Não teve muito sucesso na pintura, mas nesse meio tempo entrou em contato com a fotografia.

Rue de la Montaigne com Sainte Geneviève

Após passar três anos perdido profissionalmente, Atget retorna a Paris como fotógrafo em 1890. Suas fotografias, que deveriam servir apenas como um auxílio para pintores e arquitetos, acabaram tendo um valor artístico próprio por retratarem a Paris antiga que desaparecia, a Paris do dia-a-dia, a Paris vista pelos pedestres, a Paris dos quartos, salas e cozinhas.

Cozinha numa casa da Rue de la Montaigne

Como um típico flâneur, Atget percorria sozinho as ruas parisienses, onde adquiriu grande conhecimento histórico da capital francesa. No verso de suas fotografias, além de anotar o nome do local registrado, ele dava pequenas indicações históricas, como a data de construção do local ou seus usos ao longo dos anos. Sua técnica, porém, era antiquada: ele sempre se manteve apegado às chapas de vidro seco de grande formato.

Cantor Italiano (c. 1900)

Suas imagens mostram que Atget tinha bom trânsito na Cidade-Luz. Entre as esculturas dos parques parisienses, ruas pitorescas e vitrines de diversos estabelecimentos comerciais, Eugène Atget também topava com muitas figuras populares: vendedores ambulantes, trapeiros, tocadores de realejo e prostitutas. O fotógrafo não tinha assistentes em seu trabalho de revelação e divulgação — sua única ajuda vinha da esposa, Valentine Compagnon.

Apesar do trabalho meio improvisado, Atget teve algum reconhecimento: em 1898, a Bibliothèque historique de la ville de Paris comprou algumas de suas fotos e faria novas encomendas a partir de 1906. Durante a I Guerra, ele arquivou seus negativos e fotos num porão e quase abandonou o serviço. Como inúmeras famílias francesas, a sua perdeu alguém no front: Léon, filho de Valentine adotado por ele. Em meio a tudo, Atget não deixou a atuação de lado e, entre um passeio fotográfico e outro, dava aulas e oficinas para aspirantes a atores.

Parisienses acompanham um eclipse solar (1912)

Nos anos 1920, o fotógrafo vendeu a maior parte de suas fotografias e alcançou alguma independência financeira. Seus últimos anos foram agridoces: enquanto seu trabalho começava a circular, principalmente entre os surrealistas, sua esposa morreu em 1926. No ano seguinte, aos 70 anos, Jean-Eugène-Auguste Atget faleceu. Nas décadas seguintes, sua obra seria promovida e publicada pela fotógrafa americana Berenice Abbott [1898-1991]. A Wikimedia disponibiliza mais de uma centena de suas fotos, que também podem ser encontradas em instituições como o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, o Eastman Museum e a Biblioteca Nacional da França. Além de uma rua em Paris, Atget dá nome a uma cratera de Mercúrio.

Jean-Eugène-Auguste Atget [1857-1927] por volta de 1890.
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