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Magma fora do vulcão? Conheça o Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia do interior paulista

Curvas sinuosas bege sobrepõem a imagem das pessoas observando imagens em uma galeira.
A ciência é dinâmica, mas tem coisa que não mudou até hoje. Ainda está valendo aquela definição que se aprende na escola sobre magma, como sendo uma camada de rochas fundidas, derretidas e extremamente quentes que ficam abaixo da superfície da Terra.

Autor

Vinicius Nunes Alves

A ciência é dinâmica, mas tem coisa que não mudou até hoje. Ainda está valendo aquela definição que se aprende na escola sobre magma, como sendo uma camada de rochas fundidas, derretidas e extremamente quentes que ficam abaixo da superfície da Terra. Às vezes, o magma sobe por vulcões ativos em erupção e quando entra em contato com a atmosfera e se resfria, já chamamos de lava. Mas no interior paulista, existe um museu que se chama magma por outros motivos, é o Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia – MAGMA, que se localiza na Rodovia Gastão Dal Farra, Km 4, Botucatu-SP. O MAGMA é um dos poucos museus do Brasil que dispõe de uma coleção com mais de 2 mil peças moldadas pela história da Terra, contando com rochas, minerais e fósseis de milhões de anos da cuesta de Botucatu e outras regiões do mundo.  

Uma persona em foco que compartilha uma história de experiências com o MAGMA, bem como suas fases e planos futuros é Berenice Balsalobre. Ela é advogada por formação (Direito-USP), depois, por influência do museu, também se graduou em Geografia (Universidade de Brasília) e fez outras especializações na área. Até hoje Berenice é atuante dessas áreas e compõe a diretoria do MAGMA, exercendo funções de curadora e tesoureira. 

Nesta entrevista exclusiva (originalmente publicada no blog Natureza Crítica), conheça uma pitada desse distinto e belo museu do interior paulista, que é bastante ativo e longe de se estagnar.

 

Arquivo pessoal: Berenice Balsalobre

 

Em 2006, o Museu de Mineralogia Aitiara foi fundado pelo alemão Erich Otto Blaich, que teve uma trajetória de vida como artista, pintor, escultor, mineralogista e educador por vocação e formação. Pouco depois, em 2008, veio o estatuto da Associação Museu de Mineralogia Aitiara. A elaboração do Estatuto foi um processo feito a várias mãos e atores?

Foi feito a várias mãos, sim, porque essa coleção do professor Blaich já era muito antiga e o desejo dele sempre foi de proteger essa coleção passando adiante para mais pessoas. Inicialmente, ele achou que a escola Aitiara poderia ficar com a coleção para cuidar e explorar sozinha, mas passados alguns anos, ele viu que isso era uma tarefa difícil para ficar só com a escola. Um museu tem necessidades particulares e uma escola também. Por isso Blaich decidiu fundar uma Associação para proteger melhor o acervo e foi quando, formalmente, o museu ganhou uma pessoa jurídica. Mas esse estatuto, desde sua concepção, foi elaborado junto com um professor da escola, além de uma equipe bem reduzida que já ajudava no museu. Eu atuei nesse processo como advogada e, então, nós criamos essa pessoa jurídica para responder pelo museu e também para ter uma administração plural. Nesse momento, o acervo não era só do Erick Blaich, mas da Associação Museu de Mineralogia.

A equipe que fundou essa Associação era composta por um mantenedor, um professor da escola, eu como advogada e a geóloga Valéria Teixeira. Ela foi cofundadora da escola Aitiara e se tornou professora da pedagogia Waldorf. O tempo que essa geóloga atuou foi muito importante para começar a expor toda a coleção, pois era quem tinha bastante conhecimento por formação e sempre teve muito amor pelas peças do Blaich. Em 2006, o acordo que o professor Blaich fez com a escola para fundar o Museu foi que ele pudesse ocupar uma das salas de aula da escola para estudar, cuidar e expor minerais. Esse acordo que ele fez com a escola entrou como uma doação de um fundo financeiro que essa iniciativa tinha para construir um museu.  A escola cedeu uma sala para ele e todo o acervo dele, que estava guardado em muitas caixas em sua casa, começou a sair e preencher o museu. No começo era bem precário e muitas peças ficavam em mesas improvisadas. Para deixar mais bonito, a gente colocava um pano azul sobre as mesas e em cima dispunha os minerais. A primeira exposição foi assim e depois, devagarzinho, foram sendo construídas prateleiras, daí os minerais deixaram as mesas e começaram a ir para as prateleiras.

 

Desde a sua concepção, Erich vinculou o museu à Aitiara Escola Waldorf. Pensando em uma explicação para o público amplo, como basicamente a Pedagogia Waldorf potencializa a proposta do museu?

Blaich, entre outras coisas, era um professor e sempre foi muito querido e carismático pelas escolas da pedagogia Waldorf que ele visitava. No início, o acervo dele ficou em uma escola Rudolf Steiner/SP que segue a pedagogia Waldorf e fica em São Paulo. Mas lá também não conseguiram ter um museu na escola e, quando o professor se mudou para Botucatu, a ideia foi vincular com a escola Aitiara, mas não com a escola tomando a frente, pois uma escola já tem o tempo ocupado por várias atividades. Então o museu passou a ser mais ligado à área da cultura, embora um museu de mineralogia seja transversal passando pelas áreas de meio ambiente, educação e artes. Dentro da grade curricular das escolas Waldorf tem uma época dedicada à mineralogia, principalmente no sexto ano. As escolas Waldorf abordam o assunto por épocas, então quando tem a época da mineralogia, os estudantes passam cerca de quatro semanas imersos em aulas desse assunto. São aulas estendidas de uma hora e meia só trabalhando mineralogia. O mesmo acontece quando é uma outra época da grade curricular, por exemplo, cultura grega é a época que as turmas só trabalham questões que envolvem direta ou indiretamente essa temática. A época da mineralogia é bastante importante dentro do currículo do ensino fundamental e os estudantes realizam inclusive uma viagem de quatro dias explorando minerais do ambiente. Uma viagem de campo leva as turmas até o Pico de Itatiaia, no Parque Nacional do Itatiaia. E por aqui na nossa região também tem visitas de campo para estudar o arenito e o basalto. Por exemplo, nessa época de mineralogia as turmas vão atrás de quartzos que ocorrem no basalto da cuesta. Todas essas atividades da época de mineralogia fazem muito sucesso dentro do ensino fundamental e é uma época muito esperada pelos alunos, então foi quase que natural essa extensão do museu para escola.

Cada dia o museu apresenta minerais diferentes com objetivo de despertar e manter o encantamento dos alunos. A pedagogia Waldorf busca muito o encantamento para o aprendizado e quando os estudantes veem beleza, aprendem junto com o encanto. Sabemos que a Geociências tem o potencial de mostrar muitas belezas da Terra, né? A natureza já tem muitas joias naturalmente e Erick Blaich sempre teve esse olhar, não só como professor, mas também como artista plástico. Os minerais que ele queria mostrar para os estudantes tinham que ser sempre lindos. Blaich nunca se acomodava, quando ele alcançava aquele mineral lindo, ele achava que aquele era bom, mas devia ter um mais lindo que aquele. Então o que a gente tem no acervo é uma seleção de peças realmente muito bonitas. Se a gente considerar o grande museu que tem no estado de São Paulo que é o de Geociências da USP, não acho que deixamos nada a dever para ele em termos de beleza de acervo. A gente tem quartzos maravilhosos de ametista no museu que fazem sucesso entre os alunos, inclusive um quartzo verde que é uma grande drusa verde que conseguimos depois. É importante dizer também que a gente faz isso sempre respeitando as questões do meio ambiente, pois hoje a sociedade e a educação estão muito preocupadas com a sustentabilidade para não agirmos de forma predatória. Sabemos e rastreamos de onde veio aquele mineral e como foi feito aquele garimpo. É importante que a gente admire os minerais, sem deixar devastação para trás.

 

A ideia do nome do espaço ser Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia – MAGMA contempla a interdisciplinaridade. Pode comentar sobre isso?

De alguma forma, temos essas três áreas aqui. Estamos em um espaço de apenas 90 metros quadrados, mas também fazemos exposições itinerantes como a do Aquífero Guarani. A gente percebeu que a equipe fala muito mais do que só sobre os minerais e vai além de Geociências. A divulgação científica também ocorre de diversas formas pelo museu, por exemplo, colocamos placas educativas e explicativas sobre o Morro de São Cristóvão na escadaria da prefeitura de Botucatu. A própria Geociências é um campo aberto para outras áreas, como meio ambiente e astronomia. A formação da Terra conta muitas histórias e nosso planeta interage com o espaço, objetos como meteoritos são buscados para nosso acervo. Na escola quando chega a época da Mineralogia que comentei, os alunos não deixam de passar por Astronomia, pois acabam estudando o céu. Lembramos que os elementos químicos que estão aqui na Terra e no nosso corpo também estão no Cosmos. Já o nome “aberto” é porque o museu conversa com áreas culturais e artísticas, além de receber exposições e trabalhar para ampliar a acessibilidade. Eu sempre falo para jovens, e não só alunos da Aitiara, que o museu aos sábados é aberto à visitação pública. Nós estamos em processo de mudança para outro espaço maior na Demétria e lá nós teremos mais horários para visitação. Nesse novo espaço também teremos um pequeno observatório astronômico que será coordenado pelo geólogo e astrônomo Paulo Varela. Aliás, ele foi quem fez a feliz sugestão para do nome MAGMA para o museu.

 

 

Qual o parentesco de Han Jorg Blaich, atual presidente do MAGMA, com o saudoso Erich Blaich? Ele também herdou a admiração pelas pequenas coisas da natureza, como uma pedra, uma flor ou um inseto?

Filho e pai. A gente chama o Hans Jorg de “Jorge”, é como ele ficou conhecido por aqui. O Jorge veio para a Demétria nos anos 70. Nessa época havia atividades na Estância Demétria, que era uma fazenda e era o núcleo do bairro. Quando a fazenda começou aumentar de trabalhadores, foi quando a escola começou a ser pensada para os filhos dos trabalhadores. Cada ano escolar foi criado aos poucos e, com a escola, também começaram a nascer os condomínios. O pai do Jorge, Erich Blaich, veio depois que se aposentou em São Paulo. Ele foi professor lá há muitos anos e se mudou para cá depois de aposentado. Aqui ele não era mais professor de alunos, mas sim de professores. Dava aula de artes e mineralogia. Mas gostava de chamar os alunos da escola para visitar a sua casa e conhecer sua coleção de minerais. Na casa do Erich, a gente “tropeçava” em minerais e ele ensinava muitas histórias. Como a escola que estava nascendo é particular, havia também uma preocupação com a integração social de boa parte das crianças dos trabalhadores que não tinham condição financeira para pagar a mensalidade. Erich vendia parte dos seus minerais para Alemanha e com o dinheiro ele ajudava a construir salas de aula e bazares.  Ele construiu muitas salas de aula, inclusive no Chile e na Argentina pediram para ele fazer um bazar para arrecadar dinheiro e construir sala de aula.

O Jorge sempre teve muita ligação com o pai e a casa onde nasceu e cresceu já era praticamente um museu. Erich sempre gostou de minerais e Jorge herdou isso do pai. As pequenas coisas da natureza estão no coração do Jorge. Ele adora minerais, mas o coração dele bate mais forte pelas plantas e ele foi um dos pioneiros na construção da fazenda Estância Demétria. Uma grande parte das árvores que existe aqui, Jorge que plantou porque quando eles chegaram aqui já era uma área não vegetada e com terra pobre, já usada por sucessivas monoculturas. Jorge tem formação na área de Agronomia. Até ano passado, ele fazia consultoria para Centro Flora nas áreas de cultivo de abelhas, de plantação de ervas e de extração de óleos orgânicos. Então sua ligação com a natureza é imensa.

 

Você, Berenice Balsalobre, é a curadora e a tesoureira do MAGMA, além de geógrafa por formação. Na sua história, quais são as principais motivações e circunstâncias que levaram você a trabalhar com Geologia?

Minha formação original é em Direito e foi depois de muito tempo que cursei Geografia. Eu também fiz mestrado na Unicamp na área de Geociências, mas devido algumas circunstâncias pessoais, acabei não defendendo. Mas em toda a minha vida me dediquei à área jurídica como advogada. Eu me formei em Direito na USP em 1981 e antes mesmo de me formar eu já exercia a profissão de alguma forma. Entre 2004 e 2005, fui presidente da mantenedora da escola Aitiara na época que estava construindo o ensino médio, então eu estava bastante envolvida com a gestão da escola. Foi quando fizemos o acordo com o professor Blaich sobre o museu junto com a escola. Na época faltava um pouco de dinheiro para acabar as obras e Blaich tinha um fundo de doações de campanhas. No acordo, ele doou esse dinheiro para terminar a escola, enquanto a escola doou uma sala para ele expor os minerais até construir o museu. Aí vieram as mesas de cavalete onde ele expunha suas caixas de minerais. Nessa época, em 2006, ele já tinha uns 86 anos e, às vezes, ele me chamava para ajudar a limpar os minerais. Ele era uma pessoa bem-humorada e super agradável de ficar junto. Foi em um desses dias de limpeza e arrumação, que ele e eu pensamos em abrir o museu todo sábado para quem quisesse visitar. Depois de um tempo, ele até me deu uma chave da porta do museu e assim meu envolvimento com esse espaço e com essa área de conhecimento foi crescendo. Daí após cinco anos, ele morreu, o museu ficou órfão e eu também fiquei órfã junto.

Começou então um outro momento no museu que foi chamar uma museóloga para catalogar todo o acervo. Fui percebendo que o museu é um espaço não só lindo e que as pessoas olham e querem voltar, mas também um espaço social e de questionamento. Questionar a partir daquilo que está vendo, por exemplo, qual função tem isso na natureza? Como isso foi retirado da natureza? Tem muito ou pouco disso na natureza? Então o museu foi nascendo e eu fui gostando muito dessa área, por isso decidi fazer Geografia. Fiz o curso de bacharelado pela Universidade de Brasília, que tinha um polo à distância em parceria com a Universidade Aberta do Brasil. Mas fiz muitas aulas presenciais também que foram muito ricas. Assim, eu descobri uma nova profissão, mas a minha profissão de origem e onde eu me sustento é como advogada. Como curadora do Magma, meu trabalho é quase totalmente voluntário, mas eu gosto muito do que faço, pois considero um engrandecimento espiritual trabalhar com a natureza, além de ser muito prazeroso.

 

O Erich, em corpo e alma, deixou a Terra em 2011, mas a sua coleção ficou para educação e sociedade. Desde então, o quanto o acervo cresceu e por quais meios vocês buscam arrecadar verba e ampliar a coleção? E como está o Plano Museológico do Magma?

Depois do Erich, acho que a gente comprou mais de 200 peças, pois a gente fez um amigo em Marrocos que é comerciante e nos ajuda bastante com doações para o acervo. Com ele e em feiras a gente já adquiriu materiais muito lindos. A gente também pede um subsídio com visitas de escolas não públicas. Todo ano a gente recebe escolas de São Paulo e de Bauru, principalmente da Pedagogia Waldorf. Pedimos uma colaboração por cada criança e temos também uma lojinha no museu. E todo fim de ano, a gente tem o bazar de Natal da escola Aitiara que ajuda também. Outra verba vem de oficinas ligadas ao nosso acervo e que servem para capacitação museológica. Todos esses valores nós vamos juntando e o museu tem pouca despesa fixa, por isso conseguimos aumentar o acervo devagar e sempre. Às vezes, aparece alguma peça que a gente fica com muita vontade de comprar como meteorito palacito que é bastante raro, daí lançamos uma campanha pública para doações até conseguir comprar. Mas os projetos que escrevemos e enviamos para editais, como os do Programa de Ação Cultural do governo do estado de São Paulo, não são para manter o museu nem para aumentar o acervo, mas sim destinados para desenvolver projetos educativos e culturais. Projetos para financiar a estrutura do museu precisam ser projetos formatados, como o que fizemos para mudar o mobiliário do museu. Nesse caso, a gente uniformizou toda a marcenaria, construímos a estante de vidro e tudo vem de dinheiro carimbado que a gente fala. O maior projeto que temos no momento é o que ganhamos para fazer o nosso plano museológico, disponível em nosso site, que contou com uma série de especialistas e questionários. Estamos saindo de 90 metros quadrados e indo para 500 metros quadrados. Então é muita mudança, um verdadeiro desafio. A gente vai para um prédio doado em comodato pela Associação Cambará que ficou mais de 15 anos fechado. Ele também fica no bairro Demétria e precisa de reformas estruturais. Estamos com metade do espaço pronto, onde já realizamos algumas oficinas com experimentações têxteis e arqueológicas. 

 

Em 2021, eu tive o prazer de receber com minhas turmas de Ensino Fundamental II e Ensino Médio de escolas estaduais onde trabalhei as visitas didáticas da equipe do MAGMA com o Projeto Proteção das águas: Aquífero Guarani, apoiado pelo Programa de Ação Cultural São Paulo – PROAC. O que você destaca dessa experiência?  

Esse projeto era para ser presencial e foi transformado em online por causa da pandemia e depois ele também teve o formato híbrido como foi com suas turmas. Por exemplo, a parte do trailer contando a história da transformação do deserto em cuesta foi por vídeo e não com a apresentação do trailer. Mas as suas turmas já tiveram a oficina de pintura com terra presencialmente. Para mim, esse projeto serve como uma mosquinha que pica o aluno para ele perceber que essa área é legal e, então, o olhar dele se abre. Eu percebo isso quando acompanho turmas que ficam três dias conhecendo a Cuesta, entrando em contato com a paisagem e colhendo cristais de quartzo da região. Esse tipo de experiência descortina o olhar dos alunos que percebem que o mundo físico é muito interessante. Uma visita pode mostrar que um simples barranco tem muita memória que pode ser interessante. Quando você só fala sobre um fato aos alunos é uma coisa, quando você fala mostrando uma pegada é outra coisa. Nesse exemplo você coloca os alunos para imaginar um animal que andou numa areia fresca, deixou a pegada, o vento cobriu e hoje a gente está vendo a pegada desse dinossaurinho ou desse mamífero. Acho que o potencial da Geologia é subestimado dentro das escolas que também precisam de mais formas de estímulo.

 

Trailer de projeto itinerante sobre a Cuesta e o Aquífero Guarani. Uma das atividades do Programa Guarani, realizado pelo MAGMA em escolas e praças públicas de Botucatu e região, com apoio do ProAC

 

Visitas didáticas como a dos meus sétimos anos da Emef Profª Elda Moscogliato ao Magma é uma forma de estímulo?

Certamente, e de escola municipal acho que foi a primeira que recebemos como visita guiada. Eu estou conversando com a Secretária da Educação para mais alunos visitarem o museu. Isso é importante e está no plano municipal de educação a recomendação de aproveitar os instrumentos educacionais e culturais do município. Falar que existem minerais lindos é uma coisa, ir ao museu e ver esses materiais lindos é outra coisa. A partir desse contato podemos buscar mais diálogo com os alunos, inclusive o museu é um lugar de perguntas, não só de observar. É importante, por exemplo, a pergunta de onde e como são conseguidos esses minerais, pois precisa ser de modo sustentável, respeitando as leis e os limites da natureza. Todo material adquirido para o museu deve ter rastreabilidade. 

 

Visita do sétimo da Emef Profª Elda Moscogliato ao MAGMA como atividade do componente de Ciências

 

Para Carlos Vogt, os museus são espaços fundamentais do ensino para a ciência e contribuem para compor a espiral da cultura científica. Além dos horários de visitação aberta aos sábados, vocês têm objetivos e projetos de receberem jovens com visitas guiadas?

A nossa coluna vertebral hoje ainda é o conjunto de projetos que fazemos com as escolas. A gente recebe as escolas e faz monitoria, falando da formação da crosta terrestre, o seu tempo geológico e os tipos de rochas. O planeta Terra faz esse grande palco estruturado da crosta terrestre, a gente mostra os minerais mais bonitos, os mais importantes e os mais abundantes. Então é uma visita que, dependendo do grupo, às vezes as turmas ficam duas horas dentro do museu porque a gente convida os alunos para escolherem o mineral e desenharem. Com as crianças, esses projetos acabam sendo de sensibilização e de observação. A primeira coisa que eu falo quando entram no museu, deixem os celulares no bolso. Olhem antes de tirar foto, a ideia é desenvolver o olhar e, nesse sentido, a gente tem acumulado experiências prazerosas e formativas. Para o ensino de ciências, também temos textos de congresso de geologia falando sobre o Aquífero Guarani da nossa região que também podem ser aproveitados em aulas.  

 

No site do MAGMA consta o projeto “Caminhos Geológicos / SP” que tem parceria com Departamento de Recursos Minerais (DRM) do RJ, da Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (ARTESP), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e outras instituições. Em que pé está?

Esse projeto foi inspirado em outro projeto parecido que é o “Caminhos Geológicos-RJ”. Nós queremos replicar o que esse projeto realiza há anos e já tem mais de 150 placas no estado do Rio de Janeiro, buscando despertar interesse geológico de forma dirigida através de placas rodoviárias. A nossa ideia é instalar painéis com informações do Sistema Aquífero Guarani (SAG) em toda a Rodovia Castelo Branco, começando pelo KM 166. A gente propôs uma placa nesse ponto para anunciar o começo do Aquífero Guarani e também outras placas de conscientização sobre esse importante e enorme aquífero na Rodovia Marechal Rondon. Nós escrevemos esse projeto e enviamos para a ARTESP, foram feitas algumas reuniões com os coordenadores, mas ainda não tivemos sucesso com esse projeto. Nós não desistimos e já conseguimos instalar duas placas no Morro de São Cristóvão, que fica às margens da R. Marechal Rondon, que trazem informações sobre o Aquífero Guarani. Lá é um ótimo lugar para aulas práticas sobre a geologia da região. Na Prefeitura de Botucatu, nós instalamos uma placa informando que o piso da escadaria é de mármore estromatolítico datado de 2,2 bilhões de anos. E também no gabinete do prefeito, existe uma grande placa com informações sobre a Cuesta que o MAGMA ofereceu. Queremos instalar muito mais placas educativas sobre pontos geológicos.

 

Em 15 anos de funcionamento do MAGMA com a Escola Aitiara, alguns jovens já se inspiraram em vocês e embarcaram em áreas científicas relacionadas?

Em geral, os alunos da escola gostam e aproveitam bastante o museu. Conheço muitos que saíram do ensino médio e foram cursar Geografia. Mas geólogos eu conheço poucos e não sei exatamente o porquê. Eu ainda não conheço nenhum ex-aluno nosso que se tornou geólogo. Mas a gente segue semeando e a colheita virá.

 

Sobre o autor

Vinícius Nunes Alves é biólogo pela Unesp-IBB, mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais pela UFU-Inbio e especialista em Jornalismo Científico pela Unicamp-Labjor. É ex-professor substituto em Filosofia da Ciência na Unesp-IBB, atua como professor de Ciências na Prefeitura de Botucatu e como colunista no jornal Notícias Botucatu.

Como citar:  

Alves, Vinicius Nunes. (2023). Magma fora do vulcão? Conheça o Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia do interior paulista. Revista Blogs Unicamp, V.9, N.2.
Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2023/11/26/magma-fora-do-vulcao-conheca-o-museu-aberto-de-geociencias-mineralogia-e-astronomia-do-interior-paulista/. Acesso em dd/mm/aaaa.

Sobre a imagem destacada:

Fotos de Tess AI