Fique sabendo das últimas da Nature e Science

Aproveitando a ida ao ar da nova página do RNAm aqui no Lablogs, iniciarei uma nova seção dentro deste blog que vos fala: “Deu na Nature/ Science”. Sempre que eu receber a Nature ou a Science vou citar os seus destaques, ou seja, o que chamar a MINHA atenção (desculpe quem quer saber sobre dinâmica de fluidos ou metais leves em Marte, estes temas dificilmente serão abordados). Provavelmente um ou outro artigo será discutido posteriormente caso você peça ou eu me sinta capaz de aprofundar.

Muita coisa será simplesmente traduzida, o que eu imagino que já seja uma ajuda para quem não sabe inglês (aliás, nessa altura do campeonato esqueça o inglês e parta logo para o mandarim da China).

Lembre-se que alguns links de artigos podem não abrir por serem restritos a quem paga a assinatura das revistas. Faço minha parte divulgando o conteúdo possível já que você, contribuinte, está pagando a assinatura da USP que estou usando.

Portanto, prepare-se para ficar sabendo sempre o que está rolando de mais novo na ciência mundial!

Nature 14 de agosto 2008

Capa – A produção de energia elétrica é responsável por grande parte das emissões de dióxido de carbono. Mas existem tecnologias para produzir eletricidade sem carbono, como hidroelétricas, marítimas (marés e ondas), nuclear e solar. A equipe de reportagem da Nature tenta responder quanto de energia livre de carbono poderíamos produzir, e se é viável em comparação com o sistema atual de produção. Um guia bem direto, para cada tipo de energia uma análise com custo, capacidade, vantagens, desvantagens e um veredito.

Editorial

Reportagem

Programa de pesquisa ambiental fechado Paralelamente à reportagem de capa, preocupada com as mudanças climáticas, vem a notícia que um programa de estudos climáticos de uma das maiores instituições dos EUA, fechou suas portas. Mas só a parte de ciências políticas, que tinha por objetivo preparar países pobres para mudanças climáticas. Estariam as ciências sociais sendo postas de lado no debate sobre o clima?

Quatro rodas, bom? – Numa brincadeira com o clássico “Revolução dos bichos” (“quatro patas, bom”), este texto trás alternativas para os carros se manterem na estrada, como carros híbridos (elétrico + combustível).

Caso antraz dá força a nova área de pesquisa forense – O ataque com a bactéria antraz em 2001 e o suicídio de um dos suspeitos destes ataques (já comentado aqui no RNAm), gerou um novo campo de investigação forense (ou seja, criminal), que é o rastreamento de microorganismos. Estes estudos, usando seqüenciamentos do genoma, e assinaturas moleculares de proteínas e carboidratos que levaram ao suspeito. Novos ataques ou surtos de doenças podem ser rastreadas agora com mais facilidade.

Autismo: ligações familiares O autismo é uma síndrome do neurodesenvolvimento que possui um forte fator genético. O estudo de filhos autistas de pais que são primos pode ajudar a entender a genética desta síndrome.

Genômica e biocombustíveis – Informações sobre genomas de vários organismos do planeta podem ser importantes para descobrir plantações com maior potencial energético ou microrganismos com maior capacidade de quebrar biomassa de celulose e fornecer biocombustível.

Magia e crença no laboratório


Olhando esta imagem aqui em cima eu parei pra pensar se existe magia num laboratório. Não que ela exista, mas as vezes parece existir. Existe no como nós trabalhamos no lab. Muita coisa parte da fé. Nenhum ser humano já viu uma base de DNA, um A,T, C, ou G. Mas temos fitas de DNA desenhadas por todo o lado e trabalhamos com isso. Temos um tubo com DNA, e só o que se vê é a mais pura e clara água. Mas a máquina quantificadora nos diz: esta água contém 200 nanogramas de DNA por mL. Para cortar este DNA usamos enzimas que, pelo catálogo da empresa que a produz, irá cortar a dupla-fita no local exato. Montamos a reação e TCHA-NÂÂÂ… a mesma aguinha “sem nada dentro”. Mas quando adcionamos o reagente certo (brometo de etídio) vemos uma florescência. Algo brilha. É o DNA que prendeu o brometo. Pelo menos é o que me disseram…
Sempre vemos as coisas de forma indireta, pela máquina, pelo brilho, pela reação com outra coisa. Mesmo no dia a dia normal é assim. Mas no lab a coisa fica bem mais evidente. Esse é o “dia a dia”, fazer acontecer sem enxergar, ouvir ou tocar.
Mas a coisa não pode ficar na fé. O pesquisador que não sabe porque o DNA brilha quando adiciona-se o reagente brometo, esta sendo crente no protocolo. Acaba agindo cegamente. Tem acontecido muito hoje em dia. As pessoas que entram no lab não questionam o “porquê das coisas funcionarem assim”. Querem um kit pronto e acabou.
Isso pode indicar duas coisas preocupantes: falta de curiosidade e/ou falta de pensamento crítico. Sendo que nenhuma delas pode faltar num pesquisador, justamente por serem as PRINCIPAIS características de um cientista.

Seria eu um cientista?!

Estava pensando no que definiria um cientista. Mas não vou cair no clichê de procurar a definição no dicionário, e nem vou buscar a etimologia da palara para dizer que “vem do latim cientia …” ou algo assim.
A minha idéia resumida de cientista é a seguinte: o cara que tem uma idéia original e a desenvolve usando as técnicas apropriadas. Bom, segundo esta definição um artista poderia ser um cientista, afinal o artista desenvolveu sua idéia original em uma obra e a concretizou de maneira apropriada.
A diferença é que o cientista deve seguir as técnicas vigentes em cada área de investigação e seu resultado deve ser comprovado por todos os seus companheiros cientistas.
Definido o que é ser cientista, vejamos: Sou um cientista?
Apesar de estar no doutorado, conhecer bem a história da ciência, seus preceitos básicos, seus bastidores, planejar e realizar experimentos, ainda não me consideraria cientista, justamente por me faltar a tal idéia original. Eu seria então um técnico com nével superior, talvez.
Ciência não é algo fixo e estéril, como pode parecer. Demanda criação, também. É um processo criativo, não repetitivo.
Se o doutorado é o precesso de formação de um PhD, imagino que até o fim deste precesso tenha atingido minha maturação de cientista. Até lá posso ter o meu momento Arquimedes de EURECA, e ter minha idéia original.

Este post é parte integrante da blogagem coletiva “Um cientista em minha vida”, organizado pelo Brontossauros no meu jardim

Super-ultra-mega evento científico-artístico-educacional


Como é que fazem um baita evento mirabolante e interessantíssimo, tentando unir ciência, arte e divulgação e não me avisam?!
Cadê a imprensa nacional cobrindo o evento?! Até a Revista Science mandou dois repórteres para atualizar um blog só do evento. Que evento? O World Science Festival (festival mundial de ciência), que estava acontecendo em Nova Iorque do dia 28 de maio até ontem. Duas lástimas: não me convidarem para ministrar uma palestrinha, mesmo que mixuruca (ha ha ha); e outra é o completo silêncio sobre o assunto aqui. Má divulgação americana ou descaso no Brasil?
Enfim, o evento, voltado para o povo não-cientista, deve ter sido maravilhoso. Organizado por cientistas e artistas, contou com os maiores pesquisadores, pensadores e divulgadores de ciência. Como já disse, a Science montou um blog especial para atualizar sobre o evento. Lá dá pra ter uma idéia da beleza que foi.
Palestras abertas; debates entre pensadores de diferentes formações; participação de estudantes nos debates junto com vencedores do prêmio Nobel; peças teatrais e coreografias de dança inspiradas em temas científicos; eventos sobre carreira para jovens; Disney para crianças; feira aberta com performances, uma loucura.
Os temas? Da origem do universo até o possível fim do mundo. Passando por ambiente, moral, experimentos que deram errado, Deus, o filme Identidade Bourne e a memória, genética, esporte, soluções para cidades, a por aí vai.
Aqui temos a Semana de Ciência e Tecnologia, que tem seu mérito por ser uma iniciativa por todo o território nacional. Mas o ideal seria juntar este alcance da Semana de Ciência com o ideal do World Science Festival, que é ser mais pop, mais hype. Nas palavras do organizador do festival, o físico Brian Greene: A ciência é inspiradora, excitante, pode influenciar vidas. Não é a ciência “engraçadinha”, mas a coisa real.

Semana cientificamente NULA! Que tédio.

Olha, não é por nada não, e nem querendo justificar a falta de postagens (já justificando), mas Ô SEMANINHA BRABA! Cientificamente nula!

Claro que nula é um exagero, afinal a pesquisa não pára, mas não tivemos nenhum grande furo. Tivemos a publicação do genoma do ornitorrinco esses dias, muito comentado por aí. Mas genoma de novo? Cansei. Será que este doutorando está perdendo a empolgação? Jamais! Mas é que o mundo tem sua parcela de responsabilidade para com a minha criatividade de divulgador de ciência. Um material diferente só pra variar um pouquinho é sempre bom.

Acho que estou dependendo muito de internet.

No começo, quando se aprende a usar a internet, ficamos empolgadíssimos com a quantidade de informação disponível. Mas quanto mais você se acostuma mais, vai percebendo que as pessoas estão falando sempre da mesma coisa e, muitas vezes, mais ou menos do mesmo jeito. Meia dúzia de pontos de vista: o que informa, o que opina, o que concorda, o que discorda, o extremista de um lado e o de outro.

É… acho que preciso dar uma pausa na net e começar um livro pra chacoalhar a cachola. Alguém sugere algum? Não precisa ser de ciência não.

Aguardo respostas.

Grato

Design + Arquitetura + Ciência = …


Revolutionary Minds

“Design e arquitetura traduzem idéias em objetos que podemos segurar, tocar, ou ocupar, ou em imagens que podemos interpretar e entender. No seu limite, o design nos leva a confrontar nossas questões mais inspiradoras e problemáticas, nos forçando a confrontar implicações que de outra maneira jamais teríamos imaginado. Cada vez mais a ciência e a tecnologia estão conduzindo este diálogo.

As Mentes Revolucionárias apresentadas aqui são a vanguarda deste novo movimento, com seu trabalho bem embasado na ciência. Os desenhos, estruturas, representações e esculturas desses designers e arquitetos expandem e esclarecem o entendimento do mundo à nossa volta, demonstrando que o design é um estágio constituído no método científico.”

Quem disse que Lamarck está errado?

Esta postagem é parte integrante do Carnaval de Blogs idealizado pelo Atila do Transferência Horizontal, e se baseia no tema “E se Lamarck estivesse certo?”.

Três coisas sobre Lamarck:

  • Ele é o famoso cara que ERROU a evolução. Passou raspando, Lamarck, foi mal… Mas algo que todo biólogo sabe, mas nem todo professor de ensino médio conta é: esse cara criou a idéia de que os organismos evoluem. ANTES do Darwin. Pode-se pensar até mesmo que a teoria de Darwin é uma correção que refina a idéia de Lamarck. Isso é um imenso mérito.
  • Quem disse que ele estava errado? Ele só errou o alvo. A evolução das espécies não acontece do jeito bacana que ele sugere, com a natureza recompensando os esforços dos pais com essa herança passando para seus filhos e lhes facilitando a vida. Mas outras áreas de nossa vida funcionam assim sim. Imagine a evolução do guarda-chuva. Ele foi criado com um objetivo (coisa que na teoria de Darwin não existe), e as melhorias vão se acumulando em projetos posteriores (herdabilidade), enquanto que as idéias que não funcionam são abandonadas de imediato (uso e desuso) refinando o guarda-chuva para melhor se ajustar ao seu fim. Uma tendência apareceu para estudar a evolução das idéias na sociedade, se chama Memética.Mas mesmo na própria biologia algumas coisas podem mudar ainda. Alguns processos que alteram a ação do gene, sem mudar a sua sequência, podem ser herdadas (epigenética). Isso seria a lei de herdabilidade do Lamarck em ação. Ainda não se sabe se essa participação no processo evolutivo tem alguma significância, mas é o Lamarck aí gente!
  • A famosa história da girafa. Que faz a idéia do Lamarck ficar até simpática. Parece tão lógico não? Estica, come, estica mais um pouco, come mais um pouco, filho mais pescoçudo come também e assim vai. Legal mesmo. Mas nem o Lamarck usou essa história pra se justificar! Então porque ficou ela tão famosa? Uma Malla já escreveu sobre isto neste carnaval de blogs, só venho reforçar a idéia com uma citação do saudoso Jay Gould sobre este tema:

Se seguíssemos de volta os rastros desse exemplo onipresente até os primeiros fragmentos de especulação e não descobríssemos fundamento algum, ou. Ainda, encontrássemos apenas um engraçado pontinho de origem equivalente a um rei querendo ir ao banheiro, então aprenderíamos duas lições de potencial importância: primeiro, que a repetição de uma história não necessariamente se correlaciona com o seu valor de verdade, e que mesmo as certezas mais pias devem ser periodicamente reexaminadas até os seus fundamentos; e segundo, que a relevância e a finalidade atuais de um fenômeno não nos fornecem nenhuma compreensão em particular sobre as circunstâncias de sua origem histórica.

Pois é. De repente, ninguém sabe o porquê, o exemplo hoje em dia tido como clássico de evolução acaba se revelando uma história da carochinha que nunca preocupou Lamarck e mal incomodou Darwin. Será que a memética explica?

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Falsas imagens de falsa ciência

Não podemos nem confiar nos nossos próprios olhos. O caso da foto apresentada aqui é um exemplo do que pode acontecer em várias áreas de nossa vida, inclusive na ciência.
Esta foto foi premiada com medalha de bronze em um concurso promovido pela tv estatal da China.

Fonte: Nature

Este concurso premiou as fotos mais influentes de 2006 e esta teve influencia porque mostra os antílopes muito calmos enquanto passa um trem pela planície. E esta ferrovia fez barulho justamente porque ambientalistas a viram como uma ameaça aos tímidos antílopes e sua migração anual. A foto da convivência pacifica entre antílopes e o trem seria prova em favor da ferrovia. Seria se ela fosse real, mas é uma sobreposição de duas fotos do mesmo lugar, mas uma com trem e outra com os bichos. Claro que o governo chinês tinha muito interesse nessa foto, pois foi ele quem construiu o trem.

Muitos trabalhos em biologia molecular também dependem de imagens como resultados: géis com bandas de DNA, RNA ou de proteínas, ou fluorescências. Uma preocupação constante é a veracidade das imagens apresentadas em trabalhos científicos. As revistas que publicam estes resultados têm até mesmo enviado fotos de trabalhos muito relevantes e polêmicos para especialistas forenses antes de publicar o tal resultado. Podem também pedir que outros laboratórios repitam o mesmo experimento para ver se o resultado se repete. Daí a importância dos métodos estarem sempre muito claros e completos nos trabalhos.

É nessa liberdade para replicação de experimentos que se baseia nossa confiança em resultados publicados. Se um resultado de experimento só ocorreu para um pesquisador, contrariando as estatísticas, ou ele está mentindo, o que ocorreu foi algo raro, o que não pode ser considerado um padrão.

Mas porque um pesquisador mentiria ou forjaria dados? Bem, é um mundo competitivo que vivemos. A produção do cientista é o que vai determinar seu salário, suas verbas de pesquisa e seu status entre os colegas. Há muita pressão para que se publique muito e bem, e o pesquisador pode fraquejar. Existem também outros tipos de pressão como é o caso da China, que quer a todo custo despontar cientificamente, mas é ainda controlado por um governo rígido em certos aspectos, e foge um pouco dos padrões internacionais de liberação de drogas e tecnologias (algumas terapias ainda em teste no resto do mundo já são autorizadas na China). Mas a ciência tem se mostrado resistente a esse tipo de erro. Justamente por essa repetição de confirmação que caracteriza o pensamento científico.

Tequila contra câncer. Um brinde ao sensacionalismo!


Não precisa ser nenhum biólogo ou médico oncologista para sentir um leve incômodo com o titulo da reportagem da folha online desta semana: Tequila diminui risco de câncer. Assim que li percebi que tinha algo estranho nisso. Fico imaginando o que levaria um pesquisador a jogar tequila nas plaquinhas de células ou a dar de beber a seus camundongos. Indo a fundo, percebi que a folha simplesmente repassou a informação de outra agência de notícias, a ANSA. Esta, por sua vez, cita um artigo de uma tal Associação Americana de Química, que com certa dificuldade fui descobrir que se trata da American Chemical Society.
Claro que ao ler o artigo original descubro que os pesquisadores usaram apenas o extrato da Agave, planta da qual se faz a tequila (e a relação do trabalho com a tequila termina aqui), para utilizar como carregador de medicamentos e fazer com que estes passem pela acidez do estômago.
Vários são os problemas que podemos encontrar nesta reportagem e que estão muito presentes nesse tipo de notícia online:
– bom, o título é uma pérola, reflete o erro da informação da reportagem em nome do sensacionalismo;
– nenhum link direto para a fonte foi disponibilizado, o que dificulta a confirmação e o aprofundamento na notícia;
– o nome da fonte original foi traduzido de uma maneira que não permite procurá-lo com facilidade em sistemas de busca como o Google, sendo o melhor deixar o nome original;
– a aparente falta de comprometimento das agências de notícia em confirmar as informações técnicas de suas notícias, sendo a solução um consultor técnico da área (com tantos biólogos desempregados por aí).
Assim como não precisa ser biólogo ou médico para perceber esses disparates, também não é preciso diploma para relatar erros ou confusões e exigir uma posição das agências de notícias. Neste caso a Folha e a ANSA já foram notificadas. Claro que um puxão de orelha a mais é sempre bom, portanto se sintam a vontade para enviar suas impressões e reclamações a ambas.