Integridade e recompensa na pesquisa

Editorial da última edição da revista Cadernos de Saúde Pública (Vol.31, no.5, 2015) trata sobre a integridade e recompensas na pesquisa a partir dos debates da 4a Conferência Mundial de Integridade na Pesquisa que ocorreu no Rio de Janeiro de 31 de maio a 3 de junho. Para fins de divulgação, as referências do trecho do editorial abaixo foram extraídas. O editorial na íntegra pode ser acessado no site do SciELO.

“Alerta má conduta” quadrinho retirado do site: http://undsci.berkeley.edu/article/socialsideofscience_06

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The 4th World Conference on Research Integrity. Research Integrity and Rewards: Improving Systems to Promote Responsible Research

Sonia M. R. Vasconcelos
Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, UFRJ

O sistema de recompensas [rewards] na ciência é uma questão importante na comunidade científica e os rewards estão associados a noções de originalidade, de prioridade da descoberta e de atribuição de crédito, entre outros fatores. Em seu olhar sobre esse sistema, Robert K. Merton (1910-2003) nos lembra que, embora talento e esforço sejam preciosos na atividade de pesquisa, é a conquista de objetivos e de vantagens cumulativas que direcionam os rewards. Nesse contexto, Merton aponta que não é sem disputas sobre alocação de crédito que a instituição da ciência evolui. Ele se refere, por exemplo, a Galileu, que com “plena consciência da importância de suas invenções e descobertas… defendeu vigorosamente os seus direitos pela prioridade em primeiro lugar, em sua defesa contra as Calúnias e Imposturas de Baldassar Capar, em que ele mostrou como sua invenção da ‘bússola geométrica e militar’ tinha sido tirada dele…”. Merton acrescenta que “grandes talentos na ciência são tipicamente envolvidos em muitas múltiplas descobertas”, o que “vale para Galileu e Newton: para Faraday e Clerk Maxwell… Gauss e Laplace; para Lavoisier, Priestley… e para a maioria dos laureados com o Nobel”.

Os tempos mudaram, mas o sistema de recompensas e, por conseguinte, a alocação de crédito são preocupações para os sistemas de pesquisa nos mais variados países e vêm sendo manifestadas por instituições, pesquisadores e gestores, incluindo os brasileiros. Essas preocupações vêm sendo fomentadas por fatores relacionados a indicadores de avaliação de desempenho e de pesquisa e foram recentemente expressas no Manifesto de Leiden sobre Métricas na Pesquisa. Esse Manifesto estabelece alguns princípios baseados na ideia já bem difundida na academia de que as avaliações na pesquisa não devem ser baseadas exclusivamente em métricas – mas sim em avaliações mais abrangentes, com mais espaço para a apreciação dos pares.

De fato, a importância da apreciação dos pares nas avaliações de pesquisa e também de mecanismos para melhorar a qualidade das contribuições e alocação de crédito vem recebendo uma atenção considerável. Iniciativas como a Faculty of 1000, uma rede de mais de 5 mil cientistas e especialistas em todas as áreas da biologia e da medicina que fazem recomendações sobre a literatura científica, podem ilustrar essa tendência. A Faculty of 1000, sem estar isenta de críticas, está harmonizada com diferentes tipos de peer review pós-publicação, como o Pub Peer e o PubMed Commons. O cenário que se vislumbra é o de um escrutínio cada vez maior dos pares sobre resultados de pesquisa. Como recentemente salientado por Francis Collins, diretor dos National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos, “considera-se que a ciência se auto-regula/corrige, uma vez que ela se baseia na replicação de trabalhos anteriores. Em longo prazo, esse princípio mantém-se fiel. Em curto prazo, porém, os freios e contrapesos que uma vez asseguraram a fidelidade científica estão prejudicados. Isso tem comprometido a capacidade dos pesquisadores para reproduzir achados de outros”.

Leia o editorial na íntegra.

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