Por Carolina Medeiros
As revistas de psicologia brasileiras, na última década, adotaram um novo compromisso com seus leitores: investir na internacionalização. A prova disso é que resumos, títulos e materiais suplementares dos artigos agora são publicados também em inglês. Porém, para Chris Fradkin, professor de psicologia da Universidade da Califórnia, para que haja uma internacionalização de sucesso, os periódicos devem assumir dois caminhos: aumentar o número de artigos publicados em língua inglesa e a colaboração com autores nativos de língua inglesa. Esta é uma das conclusões de um artigo publicado por Fradkin na última edição da revista Paidéia (v.27, n.66, 2017).
O psicólogo analisou a relação entre vários índices de internacionalização e os comparou com as revistas de psicologia brasileiras. O estudo analisou 672 artigos de 17 periódicos brasileiros de psicologia considerados de destaque (por terem maior fator de impacto no Journal of Citation Reports) e os codificou segundo texto em inglês, composição de conselho editorial, instituição do autor principal e estilo de estudo.
Para Fradkin a internacionalização bem-sucedida, além do conteúdo em inglês de boa qualidade deve contemplar três elementos: a instituição do primeiro autor e os membros do conselho editorial pertencem a um país nativo de língua inglesa, e os artigos descrevem estudos empíricos. Em comparação com as revistas internacionais de psicologia, as revistas brasileiras analisadas receberam 2.8 citações, em média, ficando abaixo da média internacional de 7.36. O aumento nas citações é um dos objetivos que a política científica brasileira tem almejado. No caso das revistas brasileiras.
Diferentes critérios de internacionalização
Desde 2016 o SciELO estabeleceu novos critérios de internacionalização que tendem a aumentar, progressivamente, a visibilidade e impacto de artigos de revistas no cenário internacional. Dentre os fatores estratégicos está o aumento no percentual de artigos em inglês nas revistas científicas indexadas, com diferenças que variam de acordo com a área do conhecimento, de modo a motivar a leitura e citações aos artigos no exterior. No entanto, diferentemente do que sugere Fradkin, a exigência é que se fortaleça a participação e colaboração de autores e especialistas nos comitês editoriais com afiliação estrangeira. Ou seja, para que a ciência alcance a internacionalização não se coloca os especialistas nativos de países de língua inglesa como centrais.
Na área de humanidades, a qual pertence a psicologia, o debate fica ainda mais acalorado. A comunidade tem constantemente se reunido para questionar o foco na língua inglesa. Para os editores de revistas da área de humanas, como já retratamos neste blog, é preciso valorizar o uso do espanhol como língua influente, sobretudo considerando a ciência latino americana, além de outras línguas que são relevantes para determinadas áreas do conhecimento, como o francês para a sociologia e linguística, ou o alemão para a filosofia – para dar apenas algumas exemplos.
Fradkin destaca que “o fato de uma revista científica publicar seus artigos em inglês não garante ciência forte, e que o compromisso do Brasil deve ir mais longe, em termos de qualidade e legibilidade de seu inglês”. A partir dos dados da pesquisa, o autor faz uma relação com uma tendência atual: o Brasil e outras nações emergentes estão publicando mais em inglês. Segundo dados do SciELO, entre os anos de 2011 e 2015, houve um aumento de 48% para 62% no número de artigos publicados em inglês indexados na base; e o objetivo é que este percentual chegue à 75% até 2019. No caso das ciências humanas o mínimo de conteúdo em inglês é de 25%, mas o recomendado chega a 30%.
Em 2015, Fradkin publicou artigo na Revista Psicologia: Reflexão e Crítica em que analisou a qualidade dos títulos e resumos em inglês de cinco revistas científicas brasileiras de psicologia e concluiu que é preciso cuidar da qualidade, uma vez que vários erros de conteúdo foram identificados por acadêmicos nativos.
Mais do que analisar o processo de internacionalização das revistas brasileiras de psicologia, acredita o autor do artigo, o foco de seu estudo é alertar os cientistas de todas as áreas para a necessidade da pró atividade internacional, visando a qualidade no processo de internacionalização. “A chave para a internacionalização das revistas brasileiras envolve o aporte brasileiro à expertise de língua-franca [inglês]. Especialização, em termos de editores experientes, revisores, editores e autores. São necessários profissionais do mundo língua-franca para elevar os padrões das revistas no Brasil”, conclui Chris Fradkin.
Leia os artigos completos:
Fradkin, C. “The internationalization of Psychology journals in Brazil: a bibliometric examination based on four indices“. Paideia;v. 27, n. 66, jan/abr. 2017.
Fradkin, C. A summary evaluation of the top-five Brazilian Psychology journals by native english-language scholars. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2015, vol.28, suppl.1, pp. 99-111.
Não aceito a opinião de um nativo falante de inglês, diretamente. O problema da língua franca é e será permanente, pois sequer existe "o inglês" senão uma extensa variedade de dialetos originados no inglês britânico. O nativo falante poderá entender todos eles e escrever usando o dele. O estrangeiro só tenta se virar, paga para alguém o ajudar ou traduzir. Proponho o esperanto claro, como língua franca, por ser neutra, 10x mais simples, e democrática (igualitária). Se não, vamos escolher o inglês britânico, mas simplificado, para a escrita de artigos científicos. Pretender trabalhos em colaboração com nativos falantes de inglês é aceitar a subordinação a trabalhar no que eles acham importante, que é o que acontece, p.ex., em minha área, a física.
Lunazzi concordo contigo em relação a não precisarmos e não devermos nos subordinar ao inglês de nativos. Temos condições de nos capacitar - melhor do que estamos - no inglês para termos independência em seu uso. A simples tradução não é suficiente para um artigo de qualidade. Importante sempre contarmos com alguém para fazer a "proof reading" para evitar eventuais expressões do português que traduzidas não fazem sentido. O Esperanto tem poucos adeptos, enquanto o inglês já conquistou o status de língua-franca.
A questão da internacionalização é complicada e sensível. Muito obrigado pela sua contribuição!
Estou fazendo um trabalho sobre o assunto e esse artigo me ajudou bastante.
Obrigado.
Feliz que tenha sido util Pedro. Abs, Germana.
Ola Gemana. Tenho dificuldades em sistemas de dados nativos em inglês que traduzidos para o português nas plataformas intercionais não consegue traduzir os termos técnicos e algumas instruções ficam sem sentindo. O inglês em si é fácil, dificil é ser compreensivel e ter uma boa comunicação (na tradução).
Esperamos que agora com IA, por exemplo, o ChatGPT essas traduções ou versões melhorem bastantes. Conforme cresce o número de usuários brasileiros, melhoram o serviço prestado em português.