Ataques de escorpião: um problema de saúde pública no Ceará

Carolina Medeiros

Um estudo publicado na Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (vol. 58, 2016),   e liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), apontou que entre os anos de 2007 e 2013, o estado do Ceará registrou 11.134 casos de ataques por escorpião, o que representa 14% dos casos de todo o país (74.598). A pesquisa, conclui ainda que a frequência de casos foi maior nas áreas urbanas (86,45%) do que nas áreas rurais (11,92%). Para os responsáveis pelo estudo, a alta incidência destes casos na região está associada às condições climáticas e urbanas do Estado. “A fácil adaptação dos escorpiões para a vida urbana contribui para o aumento de tais acidentes, e a pouca variação no número de casos entre os meses pode ser atribuída às condições climáticas da região, que é caracterizada por uma temperatura média anual de 28 ºC, variando pouco entre verão e inverno, especialmente quando comparado com as regiões Sul e Sudeste”, afirmam.

A pesquisa apontou ainda que a baixa incidência de mortes (0,07%) pode estar associada à rapidez com que a maioria dos casos foi tratada, até três horas após o ataque. Entre estes casos, a soroterapia foi administrada em apenas 835 casos de acidentes. Outro dado apontado está no perfil destas vítimas, 7.058 (63%) são mulheres.  Com isso, os pesquisadores defendem a necessidade de ações preventivas contra as picadas de escorpião durante o ano, enfatizando que os animais estão buscando se adaptar aos espaços urbanos, com clara preferência por locais com concentração de lixo doméstico. “Neste sentido, controle e prevenção são essenciais para reduzir a incidência de casos, e sua eficácia depende de ações multidisciplinares que envolvem agências de saúde pública, gestão ambiental, e da comunidade com o objetivo de evitar condições de sedimentação favoráveis para a proliferação de escorpiões”, defendem os pesquisadores da Universidade de Campina Grande (UFCG).

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado Pela Secretaria de Saúde do Ceará em julho passado, entre 2007 e maio deste ano, foram notificados 28.402 acidentes por animais peçonhentos, 24.663 casos (88,5% deles), relacionados a escorpiões e serpentes. Dados que reforçam a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de incluir os ataques por animais peçonhentos na lista de doenças negligenciadas em países tropicais. Ainda de acordo com o boletim, em 2016 foram registrados 1.634 ataques, sendo 1.170 dos acidentes (72%) causados por escorpião, seguido da serpente, com 300 (18%), abelha 61 (4%), aranha 47 (3%) e a lagarta 7 (0,4%), com registro de três mortes, uma por serpente e duas por aranha.

As ferroadas de escorpião resultaram em 18.494 casos, causando 14 mortes; número superior aos acidentes com picadas de cobra que representaram 6.169 das ocorrências, com 33 vítimas fatais de maio de 2007 até maio deste ano.

Embora os dados apontados pelo estudo sejam alarmantes, a Secretária de Saúde do Ceará afirma ainda que tem tomado diversas medidas na tentativa de evitar os ataques, dentre elas, campanhas de conscientização. O foco dessas campanhas é alertar para os riscos de depositar ou acumular lixo e entulhos próximos às casas; fazer piquenique às margens de rios, lagos ou lagoas, e não encostar-se a barrancos durante pescarias ou outras atividades. As campanhas incentivam ainda à população a limpar regularmente móveis e cortinas; vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés; além da utilização de telas, portas e janelas.

 

Escorpião (Tityus stigmurus) conhecido como "Escorpião do Nordeste", junto com o "Escorpião Marrom" (Tityus serrulatus) são as principais causas de acidentes no país. Foto: Divulgação
Legenda: conhecido como “Escorpião do Nordeste” (Tityus stigmurus), junto com o “Escorpião Marrom” (Tityus serrulatus) são as principais causas de acidentes no país. Foto: Divulgação.

 

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