Como fazer para garantir um bom relacionamento após o casamento? E mesmo antes de casar, como garantir que você e o(a) seu parceiro(a) estão em uma sintonia que garanta o bem-estar do relacionamento?
Psicólogos sociais têm, desde de muito tempo, estudado o bem-estar psicológico de pessoas envolvidas em relacionamentos amorosos. Dentre as várias descobertas, estudiosos afirmam que uma variável importantíssima na construção de um relacionamento sadio é a quantidade de suporte que seu(sua) parceiro(a) te dá em momentos de dificuldade e de triunfo. Em outras palavras: se você vê seu(sua) parceiro(a) como alguém que apóia você em momentos marcantes da sua vida, a chance de que você terá um relacionamento legal é grande.
Recentemente, pesquisadores têm investigado se o apóio dos parceiros com relação aos seus objetivos de vida tem influência na percepção do bem-estar do relacionamento: como você percebe a maneira como seu parceiro apóia seus objetivos?
Em Psicologia Social existem dois tipos básicos de objetivos, ou melhor, dois tipos distintos de foco: foco preventivo e foco não-preventivo (essa tradução é péssima. Em inglês os termos são prevention focus e promotion focus). Foco não preventivo é aquele que focaliza nos “ganhos” futuros. Por exemplo: um estudante com foco não-preventivo foca na obtenção de um “A” no final do semestre, ou seja, ele foca no ganho de uma nota boa. Em contrapartida, o foco preventivo é aquele que focaliza nas “não-perdas”. O mesmo aluno, por exemplo, ao invés de focar no “ganho” de um “A”, ele focaliza no “não-ganho” de um “B”. O foco preventivo “evita” resultados negativos ao passo que o foco não-preventivo “busca” resultados positivos.
É interessante notar que o “resultado” final é o mesmo (o “A” no final do curso, por exemplo). Apenas a representação desse resultado final é que varia. Várias pesquisas têm mostrado que o tipo de foco tem impacto direto na maneira como nos executamos determinadas tarefas (mais no futuro, vou postar algums trabalhos que a pesquisadora Lisa Grimm — College of New Jersey — e o pesquisador Art Markman — Universidade do Texas — têm feito nessa área).
Seguindo a mesma linha, Daniel Molden, da Northwestern University, e alguns colaboradores investigou como que o tipo de foco (preventivo vs. não-preventivo) influencia na maneira como as pessoas percebem (conceptualizam) o suporte do(a) parceiro(a).
O estudo contou com casais casados e não-casados. Segundo os pesquisadores, casais não-casados teriam um foco não-preventivo. Segundo Molden e seus colegas, esses casais buscam “ganhar” intimidade e estabilidade no relacionamento, ao passo que casais casados, devido ao profundo investimento psicológico (e muitas vezes financeiro) apresentam um foco mais preventivo, ou seja, de manutenção da estabilidade e do envovimento com o(a) parceiro(a).
Os pesquisadores, na verdade, acreditam que casais casados apresentam os dois tipos de foco de uma maneira balanceada (eles também buscam “ganhar” cada vez mais intimidade e respeito no relacionamento), ao passo que casais não-casados apresentariam um foco de caráter não-preventivo.
A hipótese dos pesquisadores na presente pesquisa foi a seguinte: a percepção da participantes sobre o suporte do parceiro para focos não-preventivos seria um forte preditor do bem-estar do relacionamento para casais não-casados. E a percepção sobre o suporte do parceiro para os dois tipos de foco seriam bons preditores de bem-estar no relacionamento para casais casados. Em uma linguagem mais acessível: se você não é casado, a sensibilidade do seu parceiro com relação aos seus objetivos não-preventivos é um forte candidato para garantir o bem-estar do relacionamento. A sensibilidade com relação aos seus objetivos preventivos não importa. no entanto, se você é casado, a sensibilidade do seu(sua) parceiro(a) para seus objetivos preventivos E não-preventivos é que garante o bem-estar do casamento.
Os resultados são confirmadores da hipótese. A partir de várias análises estatísticas e controles, os pesquisadores confirmaram o que eles esperavam: a associação entre percepção de suporte e bem-estar no relacionamente depende do tipo de foco. A percepção de suporte para foco não-preventivo apenas foi importante para o bem-estar do relacionamento para os casais não-casados. Já para os casais casados, a percepção de suporte para os DOIS tipos de foco foram importante para predizer o bem-estar do relacionamento.
Pelos resultados, sabemos que o suporte que demonstramos aos nossos parceiros não pode ser qualquer um. Ele deve ser condizente com o contexto motivacional em que nosso parceiro se encontra. Outras pesquisas já mostraram resultados semelhantes em outras áreas da cognição humana (ver os trabalhos de Todd Maddox, Art Markman e Lisa Grimm). Acho que vale a pena um estudo de normatização mostrando que a idéia de que casais não-casados são não-preventivos em comparação à casais casados. A idéia é bastante pertinente, mas um estudo para normatizar isso seria bem interessante.
No mais, fica o conselho para os casais por aí: avalie o contexto motivacional em que seu relacionamento se inclui, pois não é somente o suporte que conta, mas o suporte condizente ao tipo de foco/objetivo do(a) parceiro(a).
Referência:
Molden, D., Lucas, G., Finkel, E., Kumashiro, M., & Rusbult, C. (2009). Perceived Support for Promotion-Focused and Prevention-Focused Goals: Associations With Well-Being in Unmarried and Married Couples Psychological Science, 20 (7), 787-793 DOI: 10.1111/j.1467-9280.2009.02362.x
>Gostei, muito bom esse texto!!
>Belo texto amor.Razão e Paixão se complementam. BjosDeise