Embodied Cognition I: A Importância do Peso

ResearchBlogging.orgMuitas vezes na vida, precisamos tomar decisões importantes. Muitas pessoas não gostam de tomar decisões sozinhos e acabam pedindo a opinião de amigos e parentes. Temos a intuição, no entanto, que algumas opiniões têm mais peso que outras. Em outras palavras, julgamos as opiniões de peso como sendo mais importantes que outras.

Não estou interessado hoje, na dinâmica de tomada de decisões a partir da opinião de outras pessoas. Estou particularmente interessado na expressão “opinião de peso”. Por que será que utilizamos tal expressão para conotar “opinião importante”? Por que associamos a noção física de “peso” à noção abstrata de “importância”?
Uma das correntes teóricas recentes da Psicologia Cognitiva, conhecida como Embodied Cognition, tem tentado explicar esse fenômeno. NOTA: já encontrei na literatura em língua portuguesa várias traduções para o termo Embodied Cognition: Cognição Corporificada, Encorpada, Encarnada, Corporizada, e por aí vai. Como parece não haver consenso no termo em português, vou utilizar a expressão em inglês mesmo.

De acordo com a posição adotada pela Embodied Cognition, os conceitos que populam o nosso conhecimento, ou seja, nossas representações mentais — por mais abtratas que sejam — estão fundamentadas no nosso sistema sensório-motor. Por exemplo, sabemos que para lidar com objetos pesados precisamos de mais energia, mais esforço físico e mais planejamento cognitivo. Assim, as pessoas parecem associar as experiências com objetos pesados com maior esforço físico e cognitivo. E uma vez que decisões importantes, na sua maioiria, requerem maior processamento cognitivo, há a possibilidade de que a nossa concepção abstrata de importância esteja ainda fundamentada nas nossas experiências sensório-motoras com objetos pesados.

Para testar essa idéia, Nils Jostmann (University of Amsterdã), Daniël Lakens (Ultrecht University) e Thomas Schubert (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Portugal) fizeram uma série de exprimentos super interessantes. O estudo foi publicado no periódico Psychological Science de Setembro. Basicamente, os pesquisadores estavam interessados em verificar em que medida a noção de importância é uma noção corporificada e fundamentada na noção de peso.

No primeiro estudo, os pesquisadores pediram a um grupo de estudantes que julgassem o valor monetário de várias moedas de vários países. Por exemplo: eles tinham que dizer quantos Euros eram necessários para comprar 200 Ienes, ou 1 Franco Suiço, etc.). No entanto, metade dos estudantes responderam ao questionário segundo uma prancheta que pesava 675 gramas, enquanto a outra metade segurava uma prancheta pesando 1 quilo.

Surpreendentemente, os pesquisadores encontraram que a média de valor monetário atribuída pelos estudantes segurando a prancheta de 1 quilo foi significativamente maior que a média de valor monetário atribuído pelo grupo de estudantes que segurava a prancheta mais leve. Os resultados sugerem que a experiência física com a prancheta pesada influenciou o julgamento de valor monetário dos partipantes da pesquisa.

No estudo II, os pesquisadores investigaram a mesma coisa, porém com o conceito abstrato de justiça. Os participantes tinham que julgar o quão importante eles achavam que era ter a voz ouvida em uma situação de tomada de decisão. A manipulação das pranchetas foi a mesma do estudo I. Novamente, os resultados mostraram que o grupo que utilizou a prancheta pesada julgou a participação em tomadas de decisões como sendo mais importantes que o grupo da prancheta leve.

No estudo III, com a mesma manipulação, os pesquisadores investigaram em que medida a prancheta pesada influenciaria os participantes a utilizarem estratégias cognitivas mais elaboradas. Para medir o grau de elaboração, os pesquisadores acessaram o grau de consistência entre julgamentos distintos, porém relacionados: os participantes tinham que julgar o nível de satisfação com (1) administração da cidade e (2) nível de satisfação com o prefeito da cidade.
Novamente, os participantes com a prancheta pesada mostraram uma consistência muito maior nos julgamentos do que os participantes da prancheta leve.

O estudo IV foi bem semelhante ao III, no entanto os participantes tinham que indicar o grau de concordância com uma série de argumentos relacionados à uma construção de natureza controversa que estava ocorrendo na cidade na época da coleta de dados. A hipótese era de que, os participantes com a prancheta pesada fossem concordar mais com os argumentos “mais fortes” e discordar mais dos argumentos “mais fracos”. Nesse estudo, os participantes foram entrevistados na rua ao invés do laboratório. Novamente, os resultados foram consistentes com os outros estudantes. Os participantes com a prancheta pesada tenderam a concordar mais com os argumentos positivos mais fortes e discordar mais dos argumentos mais fracos.

Todas as diferenças acima foram estatisticamente significativas!

Em conjunto, os resultados sugerem que a experiência física com peso parece sim fazer parte da nossa representação de conceitos. No final das contas, as forças gravitacionais (que têm papel importante na constituição do peso dos objetos) parecem nos afetar muito além das nossas ações físicas. Afetam também nossas representações mais abstratas.

Nos próximos posts vou falar mais de sobre Embodied Cognition e as pesquisas legais que rolam nessa área.

Stay tuned! 😉

Referência:

Jostmann NB, Lakens D, & Schubert TW (2009). Weight as an embodiment of importance. Psychological science : a journal of the American Psychological Society / APS, 20 (9), 1169-74 PMID: 19686292

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2 respostas para Embodied Cognition I: A Importância do Peso

  1. deise disse:

    >oi bom fim de semana meu amorsaudades Deise

  2. Gabriela Neves disse:

    >Olá André! Estou escrevendo um texto sobre uma Cia de Dança que pode interessar em sua pesquisa, eles trabalham o conceito de corpo Vodu onde a noção de Embodied da qual vc se refere tem toda relação. Dê uma olhada nestes trabalho no youtube, acredito que possa enriquecer sua pesquisa além de ser muito importante termos cias de Dança que discutam ciência corporalmente. O trabalho chama "Embodied Voodoo Game" e a cia "Cena 11". Tenho interesse em saber mais a respeito destas questões que pensem em corpo e cognição...Att. Gabriela Nevesgabriela.nora@hotmail.com

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